• Percival Puggina
  • 05/04/2018
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OS HORRÍVEIS



 Foi por um triz. Se o voto da ministra Rosa Weber seguisse sua própria convicção, teria soado para corruptos e corruptores o “liberou geral” da roubalheira. E o Mecanismo teria recebido, da mais alta Corte do país, seu alvará de funcionamento. A esse ponto chegamos.

 Trata-se, porém, de uma triste vitória, cuja validade vence ali adiante quando a questão de fundo for a exame do plenário. Nesse momento, o assunto será a constitucionalidade da pena de prisão aplicada antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. Para essa deliberação, salvo nova interferência divina, os votos já estão contados e as consequências, bem conhecidas.

Foi repugnante testemunhar o vigor retórico com que os horríveis ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Toffoli e Lewandowski, alegando defender os pobres, votavam favoravelmente aos corruptos milionários, cujos interesses estavam indiretamente representados pelos dispendiosos advogados do abonado réu Lula. Aquela eloquência demagógica e populista dos quatro julgadores não era ouvida, porém, nas celas infectas e superlotadas dos nossos presídios. Quem não perdia uma palavra da sessão era a nata prisional do país e aqueles que, fora das prisões, só conseguem dormir quando soam as seis badaladas do sino da igreja sem que lhes batam à porta.

Horríveis, esses ministros contaminados pelo lulismo. Sua prática é a mesma do réu cujo nome estava na capa do processo em pauta, depois de furar a longa fila das precedências. Também o réu Lula, com uma das mãos servia generosamente os ricos enquanto, com a outra, jogava míseros farelos aos pobres.

Assim, estamos. Fenômenos análogos já foram descritos como círculos de ferro, referindo-se, por exemplo, às oligarquias, ou à burocracia. Nós vivemos sob o círculo de ferro da impunidade que envolve o topo dos três poderes de Estado. Jogam afinados. No Executivo, opera a matriz dos negócios. No Legislativo enquanto umas leis definem os crimes, outras protegem os criminosos, embaraçam os ritos e frustram a aplicação das penas. Do topo do Judiciário saem os comandos que se empenham em recobrir as indecências da impunidade com as vestes talares da justiça e o manto da mais fingida misericórdia. Ainda tenho diante dos olhos a figura de alguns ministros, na lamentável sessão do dia 23 de março, lavando os pés dos advogados de Lula e regurgitando admiração quando um deles falou francês.

Não consegui arregimentar em mim alegria suficiente para qualquer comemoração. Breve, muito em breve, salvo milagre, o talão de cheque dos criminosos endinheirados varrerá de seu caminho a desagradável obrigação de cumprir as penas a que forem condenados. O círculo de ferro da impunidade se fechará e a execução das sentenças de prisão ficará postergada para o Juízo Final, após a ressureição dos mortos. Nessa ocasião, o horrível Celso de Mello falará por todos.


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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Valéria Heuchling - 09.04.18 -   09/04/2018 12:14:32

Claro e inteligente. Parabéns!

sonia -   07/04/2018 15:08:38

brilhante! porta voz de minha alminha esperançosa! se estamos tantos vendo com tanta clareza o que tramam estes mequetrefes, ouso dizer que não podemos perder esta guerra. eles só ganham nas trevas. nosso discernimento traz luz . Daí o interesse deles em manter todos semianalfabetos, qdo muito.

José Rudi Schnorr -   07/04/2018 14:57:39

Caro professor a luta continua e esta semana vai ser decisiva, pois estão empurrando goela abaixo de Cármen Lúcia as ADINs para que ela paute as mesmas, tudo numa velocidade alucinante e qualquer descuido ela será votada.

Manoel Luiz Prates Guimarães -   06/04/2018 23:48:19

Sempre perfeito, mestre! Retórica de defesa dos pobres para defender um milionário que o chegou a ser com corrupção. Obrigado por seres este farol para todos nós!

Henrique -   06/04/2018 11:59:05

Sei que não há tanta comemoração nesta batalha vencida, sobretudo quando olhamos o que vem pela frente, mas, mesmo esta primeira batalha parecia perdida e graças a mobilização das pessoas de verdade neste país conseguimos vencer, então vamos precisar lutar muito, mas há uma luz no fim do túnel!

André Carvalho -   06/04/2018 01:22:43

Em matéria de recursos, a Justiça brasileira lembra aquela antiga propaganda de desodorante: sempre cabe mais um! A cautela do sr. Puggina é a minha, também.

Odilon Rocha -   05/04/2018 21:18:39

Caro Professor Assim também vejo as coisas. Belo triste texto que traduz o emporcalhamento a que nos entregamos. É um país refém de vagabundos apátridas sem qualquer compromisso com a Nação.

José Mauricio La Fuente -   05/04/2018 18:39:26

A ideologia enlouquece as pessoas, com justificar o prejuízo de tantos....

felipe daiello -   05/04/2018 16:41:47

Foi a primeira batalha, mas a luta continua. Não podemos abandonar as barricadas. Vamos formar nossos batalhões.

Romolo Saporito -   05/04/2018 14:34:19

Brilhante. Parabéns.