• Percival Puggina
  • 21/12/2022
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O que os homens de azul não toleram

 

Percival Puggina

         Meninos, eu vi. Eu vi deputados furiosos com a intromissão do Supremo em assunto que estava sendo objeto de negociação na Câmara dos Deputados. Vale dizer, no dinheiro das emendas.

Se ministro do Supremo prender deputado, eles dizem: “Dane-se, não gosto dele!”. Se aplicarem tornozeleira, tudo bem. Se desarmarem deputado, eles assistem. Se cortarem o acesso de parlamentares às redes sociais, ninguém se importa. Façam os “supremos” o que fizerem contra a governabilidade do país ou contra as liberdades de expressão e o direito de ir e vir dos cidadãos – a Casa do Povo a tudo assiste com cara de paisagem. Rodrigo Maia, depois que largou a presidência da Câmara, foi ser secretário de Estado em São Paulo e abandonou a política. Seu sucessor, Arthur Lira, também largou a política. O que ele faz é outra coisa, parecida, mas não é política, na perspectiva da sociedade. Tudo isso a Casa tolera, com as raras, notórias e brilhantes exceções (que por poucas, todos conhecem).

Vou usar a palavra tolerância, mas não no sentido que o leitor está pensando. Direi que a tolerância do Congresso tem um limite e esse limite atende pelo nome vulgar de “grana”. Mexeu na grana das emendas e até quem está em casa de cuecas, veste as calças e se manda para Brasília expressar indignação. E pasmem: imediatamente começaram a falar em excessos do Judiciário, em ativismo judicial, em desprestígio do parlamento e até na indignação dos cidadãos...

Sim, sim, sei. Não precisa explicar. Eu só queria, mesmo, entender.

Como aluno atento do mestre Alexandre de Moraes, aprendi dele algumas “categorias criminais” novas, de criação própria, desenhadas à perfeição para aplicar restrição de direitos conforme seu gosto. São categorias fluidas, gasosas, tais como, entre outras, atos antidemocráticos, fake news, militância digital, desordem informacional.

Na mesma batida, eu alinho algumas condutas igualmente etéreas, aplicáveis ao descomunal protagonismo do STF agora percebido pelo Poder Legislativo brasileiro. Ele pode começar a reagir usando as seguintes “categorias criminais”: ativismo judicial, militância cartorial, desordem hierárquica, agilidade punitiva em contradição com a morosidade processual.

Se precisarem de outras, eu arrumo aqui.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Menelau Santos -   21/12/2022 12:09:35

Muuuuuito bem pescado Professor. Havia dois personagens dos Herculoids (série da Hanna-Barbera) dos anos 60 que se chamavam Gloop e Gleep. Eram serem que pareciam massinha que a minha neta brinca, que podia se amoldar a qualquer coisa. Lembram bem os inquéritos do Sr. Alexandre de Moraes. Quem assistiu vai rir.

Geraldo -   21/12/2022 11:27:47

Os 594 sanguessugas, de que composto o congresso, a casa mais corruPTa do planeta, só defende os próprios interesses. A população que se phoda!

DALMA SZALONTAY -   21/12/2022 10:50:02

Parabéns, mestre Puggina, pelo excelente texto. Os "homens de azul" são os mesmos comensais dos homens "de preto" e "de vermelho". São os adoradores do "bezerro de ouro" e embora tolerem quaisquer crimes, mesmo os mais bárbaros, levantam-se furiosamente diante de qualquer "atentado" contra sua divindade. E o que vemos, então, é o levante dos camundongos contra as ratazanas. A luta do Jair não é contra a arraia miúda das Trevas. É contra as potestades infernais.

Lori Weiss -   21/12/2022 10:27:35

Perfeito!