• Percival Puggina
  • 26/03/2019
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O PAPEL REVOLUCIONÁRIO DA BAIXARIA

 

 Eu entendo que pessoas fortemente influenciadas e manipuladas se deixem seduzir por uma mentalidade revolucionária incumbida de promover a derrubada geral da história, da civilização, da família, da religião. Assumem que, para o bem da revolução, seja qual for, tudo deve ser posto abaixo sem sutileza nem gentileza. De início, havia vigorosos arroubos intelectuais nesse labor. Com efeito, desde a primeira metade do século passado, autores consagrados, filósofos sociais, psicólogos, sociólogos, antropólogos, economistas e historiadores, entre outros, se dedicavam a um sofisticado trabalho de desconstrução cultural. Era a Teoria Crítica e eram outros os tempos.

   Agora, já em sua terceira geração, as deformações “genéticas” dessa teoria se expressam com maior evidência. Em crescente proporção, o pensar e o agir revolucionário estão sendo tomados por uma espécie de proletariado do intelecto. Sua indigência intelectual opera muito aquém das necessidades mínimas inerentes a essa ação humana.

 Frequentemente, por exemplo, a corroborar tais afirmações, me chegam imagens colhidas em universidades públicas. Por vezes, mostram paredes de sala de aula e ambientes acadêmicos ostentando pichações, pinturas e mensagens que lembrariam porta de banheiro de estação rodoviária não fosse aquele odor substituído por uma catinga revolucionária. Outra vezes, são performances, título sob o qual são reivindicados inviolabilidade e reconhecimento devidos a quem estivesse promovendo uma flamejante alvorada renascentista.

 O que relato sem exibir, por resistência estética, é clara comprovação de uma descoberta destes tempos culturalmente bicudos: em parcela do ambiente universitário brasileiro desenvolveu-se a teoria do papel revolucionário da baixaria. Revolução é palavra quase sempre presente nessas manifestações e na respectiva – digamos assim – produção cultural. Fica inequívoco nas mensagens e no grafismo que as acompanha, o intuito de virar o mundo de cabeça para baixo. Um mundo onde o homem, especialmente o infeliz agraciado com o rótulo “homem burguês”, será o grande derrotado. Daí a sexualidade “instrumental” e a sexualidade por outros meios, que cativa, por exemplo, o numeroso público nacional da peça Macaquinhos, cujos atores aguardam, de quatro, a revolução começar.

Havia por aqui uma filósofa e política que avançou bastante nesse suposto progressismo. Quando seu conceito mais famoso viralizou na Internet, seu partido arrepiou (ela era candidata ao governo do Rio de Janeiro). Ou negava ou bancava. O partido preferiu afirmar que as frases destacadas haviam sido tomadas “fora de contexto”.

Se eu fosse revolucionário, preferiria Trotsky. Preferiria Fidel. Preferiria até Lênin, desde que lhe servissem uma boa dose de Red Bull. Acho desrespeitoso que ideias sejam combatidas em linguagem de drogados, com argumentos de quem faz política porque não resolveu sua sexualidade. E o que é pior, como se seus problemas fossem um kantiano imperativo categórico universal.

 

* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


 


Irineu Berestinas -   28/03/2019 16:57:40

Seguramente, um dos mais lúcidos, cultos e inteligentes analista político e econômico do nosso País! Parabéns pelo artio

Odilon Rocha -   27/03/2019 12:02:37

Caro Professor Se existisse na arte literária a classe dos atiradores de elite, o senhor seria o Coach. Sim, a caneta “mata”. Mata por meio dos argumentos. Na mosca!

Comandante -   26/03/2019 20:46:22

Professor, o que esses revolucionários escatológicos almejam é que nosso cérebro se transforme em latrina. Cumpre combatê-los sem trégua. Seu texto, mais uma vez, é como água cristalina.