• Percival Puggina
  • 17/07/2023
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O caminho das tiranias no século XXI

 

Percival Puggina      

         Há poucos dias, perguntou-me um jovem repórter sobre a paternidade atribuída a Antonio Gramsci na produção do roteiro para a construção da hegemonia e para a revolução cultural no Ocidente. Segundo me contou, outros autores já haviam mencionado esses assuntos em ensaios anteriores aos “Cadernos do cárcere”. Queria a minha opinião.

Disse a ele que não conhecia tais autores, mas fazia muito sentido supor que tivesse acontecido isso mesmo porque no mundo das ideias, como no mundo da ciência, as novas teorias são construídas sobre anteriores ideias e dúvidas alheias. Há quase mil anos um filósofo francês, Bernard de Chartres reconheceu a regra de modéstia segundo a qual somos “anões nos ombros de gigantes”.

Nas relações entre os indivíduos e o estado, continuei falando ao repórter, é longa a experiência humana sob servidão, tirania, drama e dignidade ofendida. E é relativamente pequena a de vida com liberdade e dignidade. Contudo, no tempo em que vivemos, é absolutamente certo que todo poder que queira ser absoluto, impondo-se de modo perene a tudo e a todos, como são os totalitarismos e as ditaduras, precisa destruir dois inimigos que lhe são naturais: a instituição familiar e a ideia de um ser superior.

Ambos são freios instransponíveis sem o uso da força bruta. Ambos estabelecem uma hierarquia de ordem natural, ou seja, em acordo com a natureza humana, que oferecerá resistência, no consciente e no subconsciente dos indivíduos e das sociedades. Por isso, os redutores de cérebros em operação nas salas de aula, em todo o Ocidente, centram suas narrativas e manipulações na depreciação da autoridade dos pais. Por isso, família passa a ser uma coisa qualquer, de suposta utilidade e é crescente o número de pais e de mães (muito mais daqueles do que destas) que fogem das responsabilidades inerentes à sua missão. Por isso, enquanto tiranos se afirmam como deuses substitutos, a ideia de Deus é ridicularizada e expurgada dos supostamente sábios ambientes da Educação, da Cultura e da Comunicação Social.

Nessa amarga trilha, a experiência dos últimos cem anos proporcionou um amplo cadastro de desastres sociais e políticos que se traduzem em desumanização do humano e em novas versões da milenar servidão. O leitor atento dirá que nesse meio tempo se infiltraram as drogas e eu contestarei que elas sempre tiveram consumidores, mas o número destes se multiplicou e se disseminou rapidamente pelas fendas abertas em sociedades onde os dois pilares acima se foram fragmentando.

Lembrei, por fim, ao meu interlocutor que para o ser humano são muito mais benéficas a autoridade amorosa dos pais e a autoridade infinitamente amorosa de Deus, do que a autoridade nada amorosa do Estado, que só se impõe pela opressão e pela força bruta, longe, muito longe, de uma ordem moral decente.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Dalia Schneider -   19/07/2023 18:11:02

Como sempre texto muito esclarecedor . Lamentavelmente religiosos , universidades etc tem defendido essa proposta dominadora.

Danubio Edon Franco -   18/07/2023 19:04:32

Pura verdade. No que diz respeito à Igreja, não podemos esquecer, que, assim como a família, está sendo atacada internamente por grupos da própria igreja. A chamada revolução cultural defendida por seus integrantes ditos progressistas tem-se encarregado de minar valores e conceitos fundamentais que constituem os pilares da fé cristão, tal como ocorre com a família. Talvez essa seja a batalha mais difícil de enfrentar e vencer; mas dificuldade não é impossibilidade, portanto...

CELSO JÂNIO MOSKORZ -   18/07/2023 16:49:39

Dás um banho.

Carlos A M Silva -   18/07/2023 11:25:31

Excelente, clara e objetiva sua abordagem Professor. No caso da Igreja seria bom lembrar que nós, os fiéis cristãos, somos a Igreja, católicos ou protestantes, e que tememos a Deus lamentando que se tenha ungido um Papa Comunista que afaga ditadores como os de Cuba, Nicarágua e Venezuela, e defenda a Teologia da Libertação.

Antonio Mário Bastos -   18/07/2023 11:15:06

Meus respeitos, mestre Puggina! Render-lhe homenagens após um artigo desses é, simplesmente, um regozijo a quem o faz não a quem o recebe, creia! Pabeníssimo. Seu artigo é um primor e deve ser difundido aos quatro ventos

Eloy Severo -   18/07/2023 09:51:38

Só verdades.

Menelau Santos -   17/07/2023 20:16:15

Perfeito, Professor. Por isso que o Evangelho diz que o jugo de Jesus é leve. Mas muitos preferem o Estado, por simples ignorância.

Manoel Luiz Candemil -   17/07/2023 18:42:51

Quanto a Deus, como vem atuando a igreja católica, junto aos fiéis, na questão abordada no artigo? Espanta o fato de que o Vaticano é membro integrante da ONU!