• Percival Puggina
  • 06/11/2017
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O BRASIL NÃO ERA ASSIM

 

Se você ainda não está naquela fase da vida em que a gente começa a ser chamado de tio ou de tia, talvez não saiba o que vou lhe contar: o Brasil não era assim. É muito possível que professores lhe tenham dito que o Brasil é uma zona desde que os portugueses fizeram um loteamento no litoral brasileiro. Mas isso é falso. Nossa tragédia federal, estadual, municipal, fiscal, educacional, judicial, eleitoral, familial e moral não a herdamos de Portugal.

 O que você vê e denuncia é deliberada construção da corrente política que se assenhoreou da consciência do povo brasileiro. Para alcançar esse objetivo, incutiu-lhe o que de pior se pode coletar na filosofia e no pensamento político contemporâneo. Não, não se chega ao ponto em que estamos sem que isso seja produto de deliberadas ações políticas e culturais.

 Senão, vejamos. Estímulo a toda possibilidade de conflito entre classes sociais, entre masculino e feminino, entre brancos e negros, entre homossexuais e heterossexuais, entre filhos e pais. Deliberada confusão entre autoritarismo e exercício da autoridade. Contenção da polícia e proteção ao bandido; vitimização deste e culpabilização de sua vítima. Redução da autoridade paterna, demasias do ECA, diluição do sentido de família num caleidoscópio de variantes afetivas. Laicismo e interdição à religiosidade e à moral cristã. Incentivo político e tolerância judicial a ações violentas contra a propriedade privada. Desumanização do humano e "humanização" dos animais. Justa proteção à flora e à fauna, às reservas naturais, aos santuários de procriação e desova, em berrante paradoxo com o estímulo ao aborto. Recursos públicos para a marcha das vadias, parada gay e marcha pela maconha. Hipertrofia do Estado, corporativismo e aparelhamento da máquina pública. Escola com partido, kit gay, ideologia de gênero. Desvio de recursos das atividades essenciais do Estado para abastecer os fazedores de cabeças no ambiente cultural, tendo como resultado a degradação da arte e do senso estético. Combate sistemático ao bem e ao belo.

 O consequente crescimento da criminalidade, da insegurança e das muitas formas de lesão à vida e ao patrimônio das pessoas é respondido com desencarceramento, abrandamento das penas, abandono do sistema carcerário e desarmamento da população ordeira.

 Ter posição adversa aos itens listados acima é obrigação cívica, dever moral. É uma justificada repulsa que não atinge diretamente quem quer que seja, mas atitudes e condutas que, estas sim, afetam a vida das pessoas, suas famílias e a sociedade. Portanto, são males políticos e morais e, por motivos que saltam aos olhos de todo observador, provêm da mesma banda do leque ideológico. Qualquer exceção é ponto fora da curva e como tal deve ser vista. As naturezas são diversas, mas bebem água na mesma fonte.

 No entanto, se você os denunciar, se mostrar a malícia de sua natureza e a necessidade de mudar diretrizes na vida social e política, surgem os xingamentos: Discurso de ódio! Preconceito! Censura! Fascismo! Direita raivosa! Quem perambula, ainda que eventualmente, nas redes sociais, por certo se depara com esses adjetivos sendo despejados sobre aqueles que cumprem o dever cívico de rejeitar o intolerável.

A situação e os problemas descritos decorrem da sistemática destruição dos valores que a eles se opunham quando o Brasil não era assim. Para os destruir, investiu-se contra a família como instituição fundamental da sociedade e se combateu a Igreja até a anulação de sua influência.
 

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


Susana -   09/11/2017 19:56:17

Excelente texto, professor.

Sérgio Alcântara, Canguçu RS -   08/11/2017 18:19:53

Às, como sempre, brilhantes observações do estimado professor Puggina, atrevo-me acrescentar mais uma, que em minha humilde percepção foi fator decisivo para que as coisas chegassem a tal ponto: omissão pragmática, sistemática e BURRA de quem poderia e deveria ter-se feito presente nas tribunas, nos meios acadêmicos, jornalísticos e de produção cultural para promover um eficiente enfrentamento à toda essa investida ideológica.

Dalton Catunda Rocha -   08/11/2017 14:55:16

Há quase 100 anos atrás, o escritor português Fernando Pessoa (1888 – 1935) escreveu: "O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema — o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós." > http://conservadores.com.br/o-anticomunismo-de-fernando-pessoa/ “Quais são as pessoas que curtem a esquerda e, em espécie, o comunismo?” Geralmente os fracassados, aqueles que nunca iriam conseguir chegar onde sonhavam sem a ajuda de uma corrente política que precisa de acólitos.” > https://subversivoxxi.blogspot.com.br/2017/07/os-crimes-de-stalin-trajetoria.html "Porém o suprassumo da cretinice é contestar a fidelidade de Lula ao comunismo mediante a alegação de que é um larápio, um corrupto. Qual grande líder comunista não o foi? Qual não viver como um nababo enquanto seu povo comia ratos? Qual partido comunista subiu ao poder sem propinas, sem desvio de dinheiro público, sem negócios escusos, sem roubo e chantagem?" > http://www.dcomercio.com.br/categoria/opiniao/el_mayor

Fernando Prieto -   07/11/2017 14:48:13

Mais um artigo; mais uma análise lúcida e contundente ! Só posso lhe dar meus parabéns e pedir que Deus lhe faça continuar a nos transmitir tão acertadas opiniões...Tenhamos consciência de que esse lixo moral que nos tentam impingir (e, infelizmente, muitos absorvem) deve ser repudiado firmemente e que devemos exercer a influência que pudermos no repúdio a essas idéias. Alguns talvez possam ser desviados desta trilha... "Larga é a estrada e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por eles".

Donizetti Aparecido de Oliveira -   07/11/2017 14:45:39

Sabemos que aquele passado foi melhor do que o presente e muito melhor do que o futuro que o hoje nos apresenta.

Daniel Becker -   07/11/2017 00:48:30

Parabéns professor Puggina, o melhor e mais lúcido artigo sobre a degradação brasileira promovida pela revolução cultural que li nos últimos tempos. Encaminhei-o a quem pude.

Abrahao Finkelstein -   07/11/2017 00:05:11

Desculpe, mestre, por ser repetitivo. Lúcido, verdadeiro, irrevogável. Abraço

Emílio Gutierrez Sobrinho -   06/11/2017 18:05:06

Prezado Percival Puggina, Ainda não estou na fase "tio" minha vida, mas tenho plena consciência e capacidade cognitiva para concordar com sua análise. Em geral, padecemos de ignorância crônica auto-imposta, muitas vezes. Por isso, muitos não conseguem verificar essa deliberada e maldosa exploração dos contrastes,que apenas tem por fim aprisionar o indivíduo.