• Percival Puggina
  • 01/12/2020
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MENTES TERCEIRIZADAS

 

 Era coisa bem sabida: fora das grandes cidades, a política nacional pouco ou nada afeta os pleitos municipais. Sim, isso costumava ser verdadeiro. Mas deixa de ser assim num cenário de guerra cultural aos valores da sociedade e se o ataque político à identidade nacional promove sua fragmentação em grupos antagônicos. Diante dessas condutas sinistras e malevolentes, as disputas ideológicas se agigantam e se agitam.

São fraturas abertas no tecido social, estimuladas pela mídia militante. Ela acolhe, com braços e pernas, as teses do globalismo que convergem nessa direção, sempre e sempre apresentadas como “progressistas”. Já são visíveis em todo o Ocidente os resultados desse suposto progressismo. O decorrente enfrentamento motiva e preenche boa parte das opiniões manifestadas nas redes sociais onde conservadores/liberais defrontam a engenharia social dos revolucionários. Esse debate, em ambiente caótico e espontâneo, é detestado por quem se habituou a falar sozinho, sem interlocução, influenciando multidões que, pouco a pouco, lhes foram terceirizando suas mentes. Quanto mais, melhor para os negócios.

Pois isso é exatamente o que me motiva e é disso que vamos tratar aqui. Baixada a poeira das eleições municipais, é certo afirmar que, à exemplo da eleição parlamentar de 2018, a balança da vitória pendeu para os partidos do Centrão. Nada surpreendente. São muitos partidos, bem contemplados com dinheiro fácil do fundo partidário e acabaram colhendo votos de eleitores cujas posições políticas são abrangidas num amplo leque ideológico. Não espantam, portanto, as derrotas de Boulos em São Paulo e de Manuela em Porto Alegre. O que surpreendeu foi a vitória de Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém, onde o galo, solitário, cantou sua “vitória contra o fascismo”. Treinadinho, o Edmilson.

“E os nossos? Quando elegeremos os nossos?” perguntam-me leitores. Eles se referem à possibilidade de serem conferidos mandatos a líderes conservadores e/ou liberais, comprometidos com valores e princípios vitimados pela guerra cultural em curso, tristemente ausentes da realidade sociopolítica e institucional do país. Essa é uma percepção recente, que devemos atribuir ao sucesso eleitoral de Bolsonaro em 2018.

Só que a vida não é assim. Não é assim que as coisas acontecem. Não se elegem políticos de outro padrão nos vários níveis da Federação apenas porque o presidente da República disse em sua campanha algumas coisas que conquistaram parcela expressiva da sociedade. Onde são trabalhadas essas ideias? Onde o partido político? Onde o movimento? Onde as organizações de base? Onde o preparo dos quadros partidários? Onde a captação de recursos? Onde o recrutamento de lideranças? Onde os líderes dispostos a concorrer sabendo que vão perder, uma, duas, três vezes, para firmar posição? Um bom candidato pode ser fruto do acaso; muitos bons candidatos, não. Criado em 2004, só agora o PSOL começa a obter resultados de um longo plantio.

Estamos afoitos se esperamos colher nas lavouras alheias ou, ainda que minimamente, num canteiro que não semeamos. Não é assim que se recuperam para o país tantas mentes terceirizadas à esquerda.

 

* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.

 


cloe -   07/12/2020 12:20:40

Bom Dia, caro Percival. Muito ótimo ler tuas publicações. Abri uma pasta onde guardo com carinho e compartilho com pessoas esclarecidas. Continue firme. Abraço fraterno.

Enilda -   01/12/2020 17:10:05

Sr Percival cada um dos seus textos enfoca um aspecto dessas ondas convulsionado de nosso Brasil de 2020. São excelentes,bem focados, muito bem escritos ,claros e inteligíveis para a maioria. Agradeço sempre e o abençôo. Gostaria muito que pudesse ter um ou outro como vídeo. Pq? Pq tenho mil amigos idosos... para eles é mais fácil ouvir. Eles amam OUVIR . E ser ouvidos, claro.E tbm os jovens e adolescentes gostam de "som".... Eu acho que usam fones para manterem um pouquinho de sanidade mental... não são " usuários" . São estudantes dedicados,de VERDADE. Ainda posso privar desses convivas que estudam e querem ser melhores.

Elvio Rabenschlag -   01/12/2020 14:49:33

Parabéns. Análise excelente. Continua pois o senhor é uma das minhas fontes de informação e de pensamento confiável.

valter de oliveira -   01/12/2020 14:08:42

Ótimo Puggina. Vou por no olivereduc. Abraço.