Percival Puggina
Criança não vota. Por isso a esquerda perdeu o rumo no caso do Danilo Gentili. Saiba: a guerra cultural em curso no Brasil é uma guerra suja, ainda mais suja que a invasão da Ucrânia. Aqui, ela é silenciosa e visa crianças e adolescentes. Mentes deformadas são menos visíveis do que edifícios em chamas. Muitas vezes, os estragos reais dessa guerra se farão sentir anos mais tarde, como acontece em certos experimentos bélicos de laboratório.
(Calma, leitor, já vou falar sobre o filme.)
Foi assim que tudo começou, aliás, nos laboratórios de Ciências Sociais da Escola de Frankfurt, nas primeiras décadas do século passado. A ideia central, como costuma acontecer no Brasil, só chegou ao conhecimento público com meio século de atraso, quando o processo já ia longe e quando os alertas já soavam como reclamos de quem grita para o ônibus que já partiu.
Correndo livre, leve e solto, inclusive sem nome de batismo conhecido, o politicamente correto já então inibia a manifestação de contrariedade e toda reclamação era percebida e combatida, entre outras rotulagens, como conservadorismo exacerbado e reacionarismo. Houve tempo suficiente para o completo controle da cultura da elite e da cultura popular. Aquela, na Universidade; esta, nos grandes meios de comunicação.
Como não poderia deixar de ser, a saborosa cultura do Ocidente foi virando essa gosma intragável que não sabe o que é nem para onde vai. Onde o que importa é fazer crer que há algo acontecendo. Pois é a própria Escola de Frankfurt: seus membros queriam destruir uma civilização sem a menor noção sobre o que iria ocupar esse lugar.
(Calma, leitor, já vou falar sobre o filme.)
Entre os autores que eu lia nos anos 60 e 70, apenas Gustavo Corção e Nelson Rodrigues pareciam ver, nos acontecimentos, a guerra cultural e suas consequências. Com coragem, partiam para o ataque severo, no campo das ideias. Em palavras de Corção, “não há guerra com espingardas de rolha, baionetas de papelão e bombas de creme”.
Danilo Gentili foi à guerra. A violência que proporcionou, na cena de pedofilia que me recuso a descrever, não se combate com reclamação encaminhada a um 0800 da vida. À sociedade, cabe chutar o politicamente correto, a tolerância covarde e viciosa, e responder com interdição, investigação e processo.
A cultura não é e não pode ser um valhacouto de criminosos, nem lugar sagrado onde só os devotos possam entrar. Num e noutro caso, porém, os membros do clube dispõem, como se sabe, de poderes próprios para lacrações e cancelamentos...
A audácia desse sujeito serviu para mostrar que não cometia qualquer excesso quem, contemplando a esmagadora derrota que sofríamos na guerra cultural até a eleição de 2018, enumerava os objetivos do esquerdismo revolucionário frankfurtiano: normalização da pedofilia e do incesto, publicidade e liberação das drogas, destruição da instituição familiar, implosão da Igreja Católica e infamação do cristianismo.
O governo, através do Ministério da Justiça, não jogou bombas de creme. Interditou. Cumpriu seu papel. Cumpra o seu o eleitor.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Jose Ricardo - 17/03/2022 13:45:41
O Ministério da Justiça já fez o que deveria ter feito nesse caso, pediu a sua remoção e o classificou para maiores de 18 anos, agora deveriam deixar essa questão da guerra cultural para as redes sociais. O Governo tem que cuidar de um mal maior que foi a aprovação da Lei Paulo Gustavo pelo Senado. Senadores aprovaram a lei e rejeitando as emendas aprovadas pela Câmara que davam o poder de controle e fiscalização das verbas liberadas por essa lei. Do jeito que foi aprovado no Senado, inclusive com voto do senador Flávio Bolsonaro???, simplesmente arrancaram a porta do galinheiro, as raposas estão rindo a toa. O que teria levado o senador Flávio Bolsonaro votar favoravelmente ao projeto? Não me parece que tenha errado o botão na hora de votar..... Pra não variar, a bomba cairá no colo do presidente, que obviamente vai vetar integralmente a lei e assim, também pra não variar, dará munição para elite cultural liderada pela Máfia do Dendê lhe atacar. Lembrando que, segundo a Secult ainda há um passivo de 13 bilhões sem prestação de contas pela Lei Rouanet dos governos petistas. Pra encerrar, o tal filme do Gentili, pra surpresa de zero pessoas, também foi agraciado com a Lei Rouanet sendo autorizado a captar nada menos que R$ 7,6 milhões de reais, sim pagamos pra produzirem aquele lixo.Maria José Miranda Pereira - 17/03/2022 12:31:42
Percival Puggina é uma reserva moral deste País! Tudo o q ele escreve merece ser lido (é com esta frase q reencaminho suas matérias). Sou fã de carteirinha!Emílio - 17/03/2022 12:26:10
Alguém que diz ver apologia a pedofilia no filme é desonesto.