• Percival Puggina
  • 14/12/2019
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HUMOR E MAU HUMOR

Minha mulher costuma dizer que eu não deveria assistir comédias em cinemas porque incomodo os outros espectadores com minhas incontroláveis gargalhadas explosivas. Há que explicar ao leitor que embora eu pareça um sisudo conservador, raramente estou sério na vida privada. Quem convive comigo sabe disso.

O humor é um dos privilégios da humanidade; o bom humor é uma graça divina no cotidiano; saber rir de si mesmo é receita contra volumoso catálogo de maus sentimentos.

Com isso, estou dizendo que bons humoristas contam-se entre meus artistas preferidos. Eles têm habilidade para provocar o riso e ainda por cima ganham dinheiro com isso. Coisa melhor? Poucas. Alguns dos meus textos alcançam o primeiro degrau do humor, aquele onde opera a ironia, uma produtora de exclamações e sorrisos que raramente dá razão a gargalhadas. Aliás, ironia que causa gargalhadas, de regra, tem efeito destrutivo sobre seu objeto. Convém evitar.

Tornou-se consensual entre quem analise as ideias e as forças políticas atuantes no mundo civilizado, que os fundamentos da Civilização Ocidental estão sob ataque. Ataca-se a família de forma tão violenta que ela vai perdendo seu papel de célula nuclear da sociedade. Em nome da laicidade atacam-se as manifestações de fé e se interdita o argumento religioso em debates de interesse público. Atacam-se os deveres para ressaltar a prioridade dos direitos. Exalta-se a liberdade sem limites, a ponto de ser reivindicada sua libertação do jugo que a responsabilidade impõe. Destroem-se os valores e os princípios. Relativiza-se a verdade, trocando-a por uma ilusão, uma ideia, uma utopia. Destrói-se o belo e se difunde o horrendo; nega-se o bem e se alardeia o mal; reinventa-se a justiça. Tudo em nome de uma reengenharia do indivíduo e da sociedade. Derrubados esses obstáculos, a humanidade estará pronta para o totalitarismo que lhe for imposto.

Se alvos tão essenciais são atacados e se consideramos conveniente defendê-los, conhecer os meios que o adversário utiliza é tão importante quanto conhecer o adversário. Não se pode dissociar dessa identidade quem opera para produzir tal resultado. Assim, um grupo de comediantes dedicado às tarefas catalogadas no parágrafo anterior, que se põe a vilipendiar o sagrado, não pode deixar de ser identificado como de fato é: inimigo em ação. O que ele faz não é humor. É mau humor. É agressão, perversão, ultraje, afronta.

Apontar a gravidade e o caráter socialmente malévolo de sua produção, externar indignação com a falta de respeito, declarar desagrado a seus patrocinadores, boicotar uns e outros, são procedimentos sadios e democráticos. Exercício simétrico do direito de opinião. Confundir isso com censura é uma silenciosa submissão à estratégia socialmente corrosiva do inimigo.

Quem age contra a civilização a que pertence sofre de endofobia, que é a rejeição ao grupo, à nação, à cultura, ou à civilização da qual faz parte.

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


José Nei de Lima -   16/12/2019 12:37:53

CULTURA. Uma Nação sem educação, é prioridade para que haja um crescimento em todos setores, meus parabéns meu amigo, que Deus nós proteja e abençoe amém.

André Godoy -   16/12/2019 11:34:40

PARABÉNS Professor! Não poderia ser mais preciso e contundente. Sinto-me totalmente representado nesse comentário, acima de tudo ,verdadeiro. Obrigado!

Francisco De Assis Da Silva Cerva -   15/12/2019 17:59:03

Boa tarde Amigo Professor. Admirável sua clareza pontual. Eu mesmo já cancelei minha assinatura no canal de streaming.

Luiz R. Vilela -   15/12/2019 15:12:26

Alguém já cantou, que " o que da pra rir, da pra chorar", mas também já foi lembrado que,"rir é o melhor remédio". Portanto devemos cuidar em separar o que é verdadeiramente risível e o que é forçosamente choroso. Nossos políticos quando dizem alguma bobagem que os críticos classificam como "hilárias", na verdade deveríamos era chorar, por termos nossos destinos entregues a pessoas que não conseguem nem coordenar ideias lógicas. Um ex presidente, falou numa teoria estranha, falando em " a terra ser quadrada", num caso sobre poluição mundial. Uma outra, de triste lembrança, aventou a possibilidade de se "estocar vento", sem contar as "caneladas" que o atual presidente tem dado na cidadania. Penso que quando estes senhores ou senhoras, dizem coisas que soam com engraçadas, na verdade não se deveria rir, mas chorar. Quanto a nossa "civilização", a ocidental, esta da qual fazemos parte, foi de uma maneira, por um ou dois mil anos, até que o século vinte se iniciou, ai tudo mudou, as ideologias passaram a dar o tom nas nossas vidas, os valores mudaram ou foram abolidos, estamos vivendo tempos difíceis, as vezes chego a pensar o que será deste mundo, com estas últimas gerações que só interessam pelo prazer. Até penso, seria bom estar por aqui para testemunhar o que vai acontecer, ou seria bom não estar, para não ter que lamentar o que a loucura humana pode proporcionar. Ainda bem que a vida é finita, ou teríamos que conviver eternamente com certos santos do pau oco.

Silvio Friederichs -   14/12/2019 22:59:15

Obrigado pelos textos Sr. Puggina. Primorosos.