O Parlamento Europeu aprovou, no dia 7 de outubro, uma emenda opondo-se à ratificação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Votava-se na ocasião um relatório sobre a política comercial comum entre os dois blocos relativamente ao ano de 2018. A votação abriu uma janela para o plenário fazer coro ao desejo dos produtores rurais europeus que jamais concordaram com a presença de produtos da nossa região no mercado que querem ter cativo para si.
Essa é uma história antiga, que vai contra a conveniência dos consumidores e dos governos europeus, interessados respectivamente em gastar menos com alimentos e com subsídios. De onde surge essa mobilização, estribada em alegadas razões ambientais, contra o acordo comercial com o Mercosul? Quem é brasileiro sabe que apenas nos últimos dois anos “queimadas” e “desmatamento” no Brasil passaram a arrancar rugidos de indignação nos países do Atlântico Norte.
É inequívoco que esse escarcéu faz parte dos objetivos buscados pela operação de desgaste desencadeada após a vitória eleitoral de Bolsonaro na eleição presidencial de 2018. A nação tem acompanhado o sistemático ataque da mídia militante local contra o novo governo e tem observado a aparentemente bem intencionada defesa que essa mídia faz do meio ambiente. E percebe o quanto ela serve à formação de um ruidoso consenso mundial sobre ser, o Brasil, um grande e fumacento fogão a espantar girafas e coelhos.
O viés político e ideológico dessa histeria se esclarece perante fatos que a história e a memória registram: nem queimadas nem desmatamentos são novidades aqui ou alhures. Nunca antes foram transformados em arma política contra os governos anteriores e, menos ainda, serviram para instigar reações de nossos parceiros comerciais. Jamais antes algum brasileiro foi tão impatriota quanto Paulo Coelho para pedir boicote europeu aos produtos brasileiros. Os primeiros passos nessa direção foram dados já no processo de impeachment de Dilma Rousseff com as persistentes coletivas aos parceiros da mídia militante do exterior e apelos a folclóricos tribunais internacionais. Na etapa seguinte, estudantes nossos no exterior passaram a engrossar as manifestações contra seu próprio país e líderes políticos brasileiros a insuflar lá a animosidade internacional contra o governo daqui, pondo foco na questão ambiental e, a despeito de sua chocante docilidade, numa suposta tirania do novo governo brasileiro.
São duas atitudes diferentes, antagônicas. De um lado estão aqueles que querem do governo ações repressivas e preventivas contra crimes ambientais, como a operação Verde Brasil 2 que o Exército empreende na Amazônia. De outro, aqueles que sequer as mencionam, ou pior, tratam de questioná-las junto ao sempre disponível STF. A democracia exige atuação oposicionista, mas não creio que o bem do povo brasileiro possa ser sequestrado como parte desse jogo.
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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros.Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
João Jesuino Demilio - 09/10/2020 20:21:58
Caro Percival O Acordo foi fechado com Brasil-Argentina. Coloca-se no lugar de um lider europeu...Vc faria acordo com uma Argentina caminhando a passos largos para uma venezuelalizão? Óbvio que não...mas, diplomaticamente, fica difícil dizer as claras!...e aí as esquerdas brasileiras, nesta campanha nefasta contra o próprio país, dá todos pretextos para os europeus melarem o acordo! Simples assim....Jose Helio de Souza - 09/10/2020 13:52:37
Parabéns ,como sempre, por mais um artigo que demonstra o quanto de mal uma ideologia consegue destruir, aquilo que o mais necessário no ser humano, o livre pensar e possibilidade do discernimento. Isto posto, me permito a ousadia de discorda quanto ao artigo "DESFAÇA ISSO, PRESIDENTE!", pois fico sempre pensando o quanto de desespero em que vive o nosso Presidente , sendo dia e noite massacrado pelo que faz, mesmo que seja algo admirável e necessário, também pelo que não faz e pelo que prometeu fazer. Diante de tudo isso será que uma estratégia diferente para possibilitar, talvez, cumprir com outras promessas que é tão importante ou até do que a indicação de Conservador ao STF ?. È fato que qualquer "tropeço" , qualquer que seja, imposto, tanto pelo Senado, Câmara ou STF repercute extremamente e com consequências sempre negativa na economia e convenhamos nas atuais circunstância em que estamos passando será que tudo isso é preferível ?. Eu tenho lá minhas dúvidas. "As vezes é preciso dar um passo para trás, para dar dois para a frente. "