• Percival Puggina
  • 23/11/2021
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EDUCAÇÃO? A GENTE VÊ DEPOIS.

 

Percival Puggina

 

           São assustadores os primeiros relatos sobre a situação dos estudantes brasileiros após o período em que as escolas estiveram fechadas por determinações sanitárias. Fique em casa que a Educação a gente vê depois. Agora, também em sala de aula, o depois chegou. Os professores falam em regressão das habilidades e conhecimentos. Os alunos não só ficaram sem adicionar formação, mas perderam parte do anteriormente adquirido.

Famílias empobreceram, porque a economia a gente vê depois. Muitas se enlutaram, ambientes familiares se danificaram, crianças e adolescentes perderam o rumo, ficaram dois anos sem convívio, sem ocupação e tudo se agravou pela interrupção da rotina escolar. Professores alegam temer o retorno e se sentem inseguros. Outros se habituaram ao contracheque sem trabalho, pois até que não era tão ruim o velho normal do fique em casa.

Infelizmente, isso não aconteceu num país em que as coisas iam bem, mas num gigante populacional ainda mais empobrecido. No Censo Escolar de 2020, o Inep contou 47,3 milhões de matrículas no nível básico (ensino fundamental e médio). Essa população escolar é superior à população total da Argentina, da Espanha, e de outros 168 países.

Vou poupar o leitor das avaliações qualitativas da  nossa Educação. Sim, a má avaliação não é dos estudantes; é do ensino proporcionado à nossa juventude.  Lembrarei apenas que, segundo a OCDE e dados do Pisa 2018, um nível considerado básico de proficiência em leitura já não era alcançado por 50% dos alunos, em Ciências, por 55% e em Matemática, por 68%!

As questões que se colocam são as seguintes: a) por que tem tão má qualidade a educação em nosso país? b) para que futuro aponta a continuidade dessa situação? c) que nação será o Brasil quando essa geração de estudantes responder pela geração da renda nacional?

Não hesito em afirmar que a estatização de 82% do ensino básico, a “democratização” e a eleição das direções das escolas, a sindicalização dos servidores públicos, o excesso de liberdade e autonomia concedida aos professores, o descaso de pais em relação à vida escolar dos filhos, a dificuldade que os pais participativos enfrentam para atuar nas escolas e a repulsa ao mérito recompensado têm culpa nesse cartório.

Alguém perguntará? E a ideologização do ensino, a “história crítica” e o desamor à pátria, a visão freireana da educação como atividade política, nada têm a ver com cenário descrito?

Bem, aí entramos no terreno da esquizofrenia e do “suicídio” coletivos, como costuma acontecer nas radicalizações políticas e nas ações revolucionárias. Centenas de milhares de professores brasileiros, militantes de causas ideológicas, deveriam interrogar-se: “Quem vai pagar minha aposentadoria?”. Talvez passassem a olhar para seus alunos e para sua própria profissão com outros olhos.

Ou talvez pensem: “Bem, isso a gente vê depois”...

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


DONIZETE DUARTE DA SILVA -   27/11/2021 10:01:22

Creio que perdemos deliberadamente o foco. Nos anos 70, o MEC propalava junto com citações de que nos EUA a especialização imperava e que se alguém trocasse lâmpadas não fazia instalação elétrica que era especialidade de outro, "o Brasil não precisava de pensadores, bastavam operários". Com isso demos início à racionalização do ensino, suprimimos os livros, trocando-os por apostilas, provas dissertativas foram abandonadas emprol das questões com múltipla escolha, padronizou-se o pensamento e preparamos todos para serem operários de grandes corporações já que o Brasil iria se desenvolver por transferência de tecnologia, coisa que sonhamos até hoje. Nos mesmos anos 70 os americanos introduziram no mundo a microeletrônica e fez aflorar a indústria no Japão, na Inglaterra, na França, na Alemanha, depois na Coréia, China e assim por diante. Aqui matamos as indústrias porque bastavam fabricas, operários, sindicatos e o futuro tornava-se não uma construção do cidadão mas uma dádiva de governos paternalistas. No mundo de hoje temos que entender que não precisamos de fábricas, mas de negócios e negócios necessitam de capital intelectual,coisa que destruímos e nos recusamos a reverter, acreditando que empresários do exterior vão abdicar dos seus mercados para nós empregar.

José Rui Sandim Benites -   25/11/2021 08:15:24

A educação é mola mestra do desenvolvimento humano. Uma educação voltada para as virtudes. O conhecimento voltado para a paz e bem. A educação exige responsabilidade, pontualidade, assiduidade, hierarquia e respeito. Não acredito na pedagogia do prazer. A educação formal não é prazerosa. Mas com o tempo poderá ser. Quando o indivíduo ter a conciencia que o conhecimento é para a sua vida, ou seja, com o amadurecimento de sua personalidade. Quando se der conta que quanto maior sua participação da comunidade. Mais será respeitado. Existem grandes profissionais na educação. Comprometidos e como toda profissão, outros incompetentes. Mas neste caldo de informações que irá forjar o caráter do jovem estudante. Não sou saudosista. Acredito que a sociedade segue o seu rumo para o melhor. As novas tecnologias vieram para facilitar o trabalho. E surgem novas formas de aprendizagem. Embora o professor será sempre o paradigma da formação do caráter do estudante. O fique em casa, óbvio que atingiu a todos, e a educação não é diferente. Mas cada um sabe o que é melhor para si e para os seus. Não vou criticar quem ficou em casa. Muito menos os que foram para luta e trabalharam durante a pandemia. Crítico quem impediu quem queria trabalhar. Estes sim não deveriam falar em economia. Grande mídia. Pois soa como pura hipocrisia.

Jose Dimas de Lima -   24/11/2021 12:57:49

O triste é que grande parte da população tem conhecimento disso e não consegue fazer nada. Nossa esperança é a reeleição de Bolsonaro acontecer e assim ele ter mais tempo para reverte, pelo menos em parte, essa situação.

Claudio Carpes -   24/11/2021 09:48:31

O sr está completamente correto, é muito difícil, más perante a DEUS tudo é possível.

Ivanillde Ribeiro Alves -   23/11/2021 18:41:43

Uma Reflexão urgente é necessária para repensar sobre como superar está lacuna ...e estabelecer novas estratégias para recuperar o tempo e o aprendizado perdido .... muito triste e preocupante principalmente para alunos de escolas públicas com poucos recursos didáticos para superar está perda .....

Professor Celsio -   23/11/2021 15:51:38

Pois então, lamentável. Não bastasse o cenário que há décadas é o mesmo, de professores desamparados, escolas sucateadas, universidades doutrinadas, agora essa pandemia, em que nenhum aluno pode ser reprovado. Ou seja, tanto faz se as coisas vão bem ou mal, o resultado é o mesmo para muitos. Há pior que isso? Sim. A mesma fórmula decadente de sempre: priorizar carnaval, futebol, eleições, etc. Educação a gente vê... Por último.

Nilo Leonardo -   23/11/2021 12:41:05

Minha mulher trabalha na área de educação e a situação é desoladora e, pelo que as vezes comenta, não há solução no curto prazo. Engessamento já parte dos militantes instalados no Min. Da Educação e que resistem a qualquer tipo de mudança e o pior idolatram o atual método de multiplicação da ignorância do Paulo freire. Uma lástima..

Walter Junior -   23/11/2021 11:38:34

Concordo integralmente com o conteúdo do artigo. Estamos vivendo tempos de total desconexão com a realidade. As verdadeiras discussões estão em segundo plano, enquanto o espaço é tomado pelos interesses políticos de esquerda e doutrinação.

Rubem -   23/11/2021 10:50:18

Bolsonaro Estava e Está Sempre Com Bons Propósitos Ao Nosso Povo, Por Este Motivo E Incansavelmente Combatido Injustamente.

FLÁVIO GUSMÃO MALLMANN -   23/11/2021 10:48:57

Professor Puggina, sabemos há mais tempo que esse desleixo com o ensino e pouco caso , tanto com os alunos como com os professores é proposital. Acho que atingimos o fundo do poço e poucos se deram conta da grave situação. O governo estadual sempre foi o pior possível e perspectivas de melhorar para quê ? Quanto pior, melhor. Não é assim ?

Menelau Santos -   23/11/2021 10:42:45

Sempre oportunos os textos do Professor. Eu gostaria de ver milhares de professores/intelectuais/youtubers batendo na mesma tecla, mas são poucos os que se tem essa visão clara do Professor Puggina. Por acaso, ontem na nossa emissora de maior audiência, duas cenas me chamaram a atenção: uma, o pai chama a atenção do filho porque foi expulso da escola. A mãe, por sua vez, recrimina o pai e a cena toda configura o filho como um "coitadinho" e o pai como um opressor. Na segunda cena, a filha corta o próprio cabelo com uma tesoura e joga no espelho, em represália à opinião da mãe. Dois exemplos de rebeldia, de indisciplina e de falta de respeito com os pais, que são estimulados pela novela. Mas essas questões a gente vê depois, né Dona Globo?

Anna Degen Prates Silveira -   23/11/2021 10:32:01

Este texto é uma realidade muito triste! O nosso ensino já vem se deteriorando há bastante tempo! País que não prioriza a Educação está fadado a ser um país medíocre futuramente!

Armando Andrade -   23/11/2021 10:16:21

Quem acompanha a "corrida aos colégios" e ao Enem, nota a aflição das crianças e jovens em busca de um lugar melhor na vida e sociedade. A pandemia cristalizou em boa parte e o simples fato notado de um pai ao levar o filho para fazer a prova, saindo às pressas do carro e vê-lo rolar com o corpo para passar antes do portão fechar, mostra que os novos desejam e muito ser e estar, ao contrário dos embates políticos. A crítica construtiva ante condições irreais, mostra o "desprezo" dessas elites mandatárias. Aqueles que irão segurar o país, se não fizerem por onde, como ficarão?

Eliana Pacheco Krummenuer -   23/11/2021 09:46:29

Precisamos de mais pensadores como o Sr., estamos numa situação muito díficil, as os Gestores de algumas Escolas que ainda lutam pela qualidade e excelência na Educação, os próprios Pais reclamam que seus filhos estão sendo muito exigidos e que, como crianças não precisam destas exigências e cobranças. Estamos vivendo um momento de valores invertidos.

Ana Maria Brunetto Benites -   23/11/2021 08:26:55

Excelente texto!! Sou sua admiradora e leitora assídua!!