• Percival Puggina
  • 02/12/2019
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E O GIGANTE ACORDOU

 

 Quem espichar os olhos para nosso passado recente vai se deparar com uma sequência inédita de manifestações de rua, em âmbito nacional, mobilizadas algumas vezes por ano ao longo dos últimos seis anos. Em toda a história da República não houve algo que a isso se possa comparar senão de modo muito pálido. Foi o caso, por exemplo, das marchas “da Família, com Deus pela Liberdade”, promovidas em algumas capitais num curto espaço de tempo imediatamente anterior e posterior à queda de João Goulart. Foi também o caso das mobilizações dos caras-pintadas, promovidas pela UNE para forçar o impeachment de Fernando Collor.

No entanto, o que tem acontecido no Brasil desde 2013, de modo continuado, é diferente, inédito na história da República, e tem significado político muito maior. Em tais eventos, dizemos: “O gigante acordou!”.

Por que acordou? Mesmo que as causas institucionais desse despertar nunca tenham entrado em debate, parcela significativa dos cidadãos aprendeu da Lava Jato o profundo desajuste moral, vicioso e torpe do presidencialismo dito “de coalizão”, instituído de modo crescente no país desde a Constituinte de 1988. Aprendeu, também, que a voz do povo nas ruas e nas redes sociais afeta a elite política, abala as cidadelas em cujo interior se hospedam os piores interesses e as mais espúrias intenções daqueles que fazem do Congresso covil e do próprio mandato uma commodity.

Foi com o povo na rua, que Eduardo Cunha fez andar um dos pedidos de impeachment de Dilma Rousseff. E foi com o povo na rua, acompanhando as deliberações do processo, que se chegou à decisão final pelo Senado. Quando a sociedade percebeu que a Lava Jato suscitava animosidades no STF e no Congresso Nacional, coube novamente ao povo na rua proporcionar retaguarda popular ao juiz Sérgio Moro, aos procuradores da operação e à Polícia Federal.

Enquanto o povo na rua acompanhava vigilante o período de travessia iniciado com o impeachment de Dilma Rousseff, se foram firmando, nas multidões, consensos sobre pautas conservadoras e liberais até então expurgadas do interesse político pelo domínio esquerdista instalado no país. E foi assim, com a unção popular a outros modos de ver a realidade, que acabou a hegemonia do PT.

Da condenação de Lula à reforma da Previdência, praticamente nenhuma decisão relevante foi tomada nos últimos seis anos sem que o povo se manifestasse nas ruas. Claro, nem tudo foi sucesso. O STF acaba de abrir as portas das penitenciárias para a saída dos corruptos. Muitos congressistas, fazendo-se de surdos, deliberando em causa própria, fortificaram seus valhacoutos e torpedeiam os projetos de Sérgio Moro. Eles precisam de uma polícia que não investigue, de um ministério público que não acuse, de uma justiça que não julgue e de uma imprensa que narre acriticamente toda a vergonheira.

Ao longo desses seis anos, participando de praticamente todas as manifestações, firmei algumas convicções. É a irracionalidade do nosso modelo institucional, irresponsabilizando o parlamento, que empurra à militância os cidadãos conscientes e ativos. É preciso expor e deixar ao relento os amigos da impunidade. Estou, por isso, convencido de que as derrotas impostas à opinião pública pelo Congresso Nacional não teriam ocorrido se milhões de cidadãos não se houvessem omitido em momentos decisivos.

Agora é hora de retomar a possibilidade de prisão em segunda instância e operar a faxina no STF. Dia 8 de dezembro, estaremos de novo nas ruas. Qual será sua atitude?

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


João Jesuino Demilio -   03/12/2019 20:23:30

Caro Amigo....Espero que o povo acorde pra reforma política onde o poder JAMAIS saia da mão do povo através do voto distrital puro e do voto revogatório ou voto com recall( o voto distrital puro é o único que permite)...ou seja, a possibilidade de remoção imediata do político que trair seu eleitores.

Jorge Schwerz -   03/12/2019 15:05:04

Parabéns pelo texto Puggina! Estaremos juntos dia 8 de dezembro, no Parcão. "O preço da liberdade é a eterna vigilância!"

Luiz R. Vilela -   03/12/2019 11:00:37

Quem cala consente, e quem consente, é cúmplice, e quem é cúmplice, também é criminoso. Portanto quem tem alguma divergência com que fazem os políticos, o caminho é a rua, e levar os lábios ao bocal do trombone, é o mais aconselhável. Na Grécia antiga, a reunião era na praça, o povo ficava frente a frente com os seus políticos, e manifestavam a eles as sua desconformidades, ali, olho no olho. Mas os gregos, tinham um outro instituto, que seria muito interessante se fosse adotado por cá, o OSTRACISMO. O "homem público", que não honrasse o seu mandato, seria através de votação, solicitado que desaparecesse por uns tempos, deixando de "encher o saco" da população. Esta mediada no Brasil, teria o condão de fazer que nós ficássemos livres de certos DEMAGOGOS, que andam por ai posando de lideres políticos, mas que na verdade não passam de reles ladrões. Se pudéssemos banir certas "criaturas", garanto que Gilmar Mendes e Dias Tóffoli, não seriam aceitos que ficassem, menos que em Marte. Mas a história por aqui é outra, a falta de vergonha é total, o mínimo que ministros que foram nomeados por lula deveriam fazer, é se declarar impedidos de julgar sua "pendengas", porque é um acinte a inteligência de qualquer um, o nomeado julgar quem o nomeou. Portanto a cidadania brasileira esta com a palavra, se quer mudar alguma coisa, tem que gritar bem alto, e claro, para que o "brado retumbante" chegue aos ouvidos daqueles que se fazem de surdos, para não ouvir a voz da razão. Na França pré-revolucionária, a plebe gritou a plenos pulmões, não quiseram ouvir, deu no que deu. Agora os tempos são outros, as "instituições", embora não a contento, tem funcionado precariamente, seria bom que os escolhidos para decidir os destinos do pais, fizessem de acordo com a vontade dos "proprietários" destas terras. Acho também que já e hora de exigirmos dos políticos, uma nova constituição, porque a "cidadã", foi criada pelo Ulisses Guimarães, quando ainda acordava a noite com os "latidos" dos cachorros da ditadura. Envelheceu em pouco tempo.

Rosane -   03/12/2019 01:22:25

Como sempre perfeito.

Enilda -   03/12/2019 00:18:05

Percival, excelente reflexão ! Realmente,com nossas RUAS conquistamos a nossa liberdade afirmativa ,o poder de dizer nossas verdades,nossos VALORES. Nasceu em todos um novo espírito! A consciência de ser brasileiro,sermos os donos deste País. Até os antepassados acordaram....

ODILON ROCHA -   02/12/2019 21:12:08

Caro Professor Artigo irretocável, como sempre. Respondo: ir para a rua, como sempre fizemos, eu e a minha aguerrida esposa. De preferência lutar pelo Projeto de Lei.