• Percival Puggina
  • 15/08/2018
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DIGITAIS DE UM PARTIDO TOTALITÁRIO

 

 “(...) quando então começaram a se precipitar para esses tempos em que nem nossos vícios, nem os remédios para eles, podemos suportar."  Tito Lívio, em Ab urbe condita.

 Em artigo publicado no meu blog em 30 de setembro de 2014, e que pode ser lido aqui, o prof. Giusti Tavares discorreu sobre o paradoxo representado pelos partidos totalitários que atuam em democracias constitucionais. Advertiu o eminente professor que o surgimento e a atuação de tais legendas se fazem tanto mais vigorosos quanto mais erodidas e fragilizadas forem essas democracias pela decadência de suas elites, pela corrupção e pela desinformação política.

Quando analisamos a conduta do Partido dos Trabalhadores na política brasileira, constata-se facilmente que, desde suas origens, a legenda surge com esse perfil, valendo-se e interagindo com essa erosão e com essa fragilidade. Muitos de seus dirigentes vieram das organizações guerrilheiras e terroristas que atuaram no Brasil nos anos 60 e 70 do século passado e, pela porta da anistia, a partir de 1980, foram absorvidos no jogo político. As organizações que criaram e nas quais militaram mantinham com a democracia constitucional uma atitude que pode ser descrita como de repugnância. Seu objetivo político era a ditadura do proletariado, um governo das classes trabalhadoras, uma nova ordem social, política e econômica. Nada diferente das então ainda remanescentes “democracias populares” padecentes sob o imperialismo soviético, por onde muitos andaram em tempos que lhes suscitam persistente e visível nostalgia.

Essa natureza está perfeitamente expressa no manifesto de fundação do partido: “O PT afirma seu compromisso com a democracia plena e exercida diretamente pelas massas. Neste sentido proclama que sua participação em eleições e suas atividades parlamentares se subordinarão ao objetivo de organizar as massas exploradas e suas lutas”. Vem daí todo o esforço para deitar mão nos mecanismos formadores de opinião – entre outros: meios de comunicação, instituições de ensino, associações, igrejas e sindicatos – e a debilitação da democracia representativa pela ação de conselhos criados, infiltrados e controlados pelo partido.

A estima por regimes totalitários como os de Cuba, Venezuela, Nicarágua, El Salvador, bem como a promoção da convergência ao Foro de São Paulo, dos movimentos e partidos revolucionários na América Ibérica, é expressão da mesma genética. De igual forma, simetricamente, não há registro de proximidade calorosa e simpática dessa organização política com qualquer democracia constitucional estável e respeitável. Os chamados movimentos sociais constituem os braços mais liberados para as tarefas de ruptura da ordem em favor da causa.

Os últimos acontecimentos promovidos em Brasília são um pouco mais do mesmo. São atos que se repetem sistematicamente, sem exceção, contra qualquer governo, em qualquer nível administrativo. A palavra de ordem é “Fora, seja lá quem for!” que esteja sentado na cadeira ambicionada pela legenda. É um perfil golpista. Geneticamente golpista e com longa história de sintomáticas manifestações.

Por isso, seu maior líder, apenas por ser seu maior líder, é tido e havido como alguém que está acima da lei. Por isso, embora legalmente impedido por condenação criminal, Lula foi aclamado candidato a presidente na convenção do PT. Por isso, a estratégia é afrontar o ordenamento jurídico do país. Por isso, no dia seguinte à proclamação do resultado do pleito, o PT estará nas ruas e na imprensa mundial proclamando a ilegitimidade do novo governo.
Tal acusação e o ambiente que proporcionará serão muito ruins para a estabilidade institucional, para o Brasil, para a confiança na economia, para o mercado e para a superação do desemprego. Mas ao PT isso não importa. Ao PT a única coisa que importa é o PT.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 


Milene Craidy Koeche -   24/08/2018 14:40:30

Concordo plenamente com o texto. O PT quando oposição é sempre contra tudo. Mesmo quando surgem boas propostas a serem debatidas e votadas e que visavam trazer importantes avanços para o Brasil. Se a proposta não veio do PT são contra. Na verdade estão mais preocupados em conquistar e se manter no poder do que ajudar a melhorar o país. O Lula chegou ao poder com apoio e teve a oportunidade de colocar em votação as reformas tão necessárias ao desenvolvimento do Brasil (reformas tributárias, política, trabalhista, previdenciária, etc...). Nem colocou elas em pauta. Optou por fazer um governo populista e não mexer nas regalias e discrepâncias que existem no Brasil. Também perdeu a oportunidade de enfrentar os banqueiros, discurso agora do Haddad. Nunca a concentração de bancos foi tão grande. Nunca os bancos lucraram tanto e cobraram juros tão altos da população em geral. Perdeu também a oportunidade de profissionalizar as instituições públicas, incentivando a meritocracia e diminuindo o toma lá da cá. Ao invés disso optou em se aliar às velhas raposas, como Temer, Sarney, Cabral e as grandes empreiteiras etc... Para completar, nunca os empresários foram taxados tão fortemente como sacanas, safados, exploradores de pobres e oprimidos. Agora me explica: quem produz, emprega e gera riqueza para o Brasil? E que corre mais risco ao fazer isso? Certamente não são os políticos e nem os intelectuais esquerdistas que são contra a economia liberal , o capitalista, o aumento de concorrência e a diminuição do tamanho do ESTADO.

Heloisa -   16/08/2018 17:45:56

Excelente artigo. Compartilho de sua apreensão, para dizer o mínimo. Já passamos pelo “ fora Collor, fora Itamar, fora FHC”, ou seja, fora qualquer um que não seja um deles no poder. Saqueadores e sanguessugas, vampirizando quem trabalha. Não aguento mais.

Vicente Lino -   16/08/2018 15:04:33

Corretíssimo! Lamentavelmente continuam acalent ando o pesadelo de solapar as insituições da democracia, para depois subjugá-las.

Décio Pedrosa -   15/08/2018 18:13:36

Análise admirável e irrepreensível que traz consigo preocupante constatação. Na nossa percepção a matriz que alimenta a movimentação petista se baseia em pesquisas de intenção de voto nem sempre validadas por instituições sérias e merecedoras de nossa confiança. E a mídia de um modo geral, sempre ávida por escândalos que disputem a atenção do público, apoia tais resultados, divulgando-os abusivamente sob o pretexto de "liberdade da imprensa" e/ou "liberdade de manifestação". Tempos realmente difíceis se avizinham para nós. A sua previsão, professor, já começou a acontecer em manifestos recentes encomendados de figuras políticas dos Estados Unidos e da Inglaterra , semeando o terreno. Ficamos nos perguntando como nos posicionar contra essa onda avassaladora sobre a nossa sociedade.