Percival Puggina
Quando o pior momento se apresenta, a prudência manda pensar primeiro e agir depois. Nossa atualidade, mesmo se a examino segundo meus próprios sentimentos, une frustração, impotência, indignação.
“Sim, e daí?” – perguntam-me leitores.
Numa síntese brevíssima, iniciemos pela frustração porque dela advêm a indignação e a sensação de impotência. Os eventos que culminaram no fracasso político de “PT & Associados” em 2018, foram bem entendidos como uma vitória para restauração conservadora em nosso país. Ocorreram dentro de uma ordem democrática e de seu sistema político.
Esse sistema tem aspecto muito sedutor para quem põe seu voto nas mãos de um vencedor que “vem para mudar tudo”, para restaurar, retificar, corrigir, depurar, etc.. O eleito ganha, na abertura das urnas, quatro importantíssimos postos de comando! Ele é o Chefe do Estado brasileiro, chefe do governo do Brasil, chefe da administração federal, Comandante Supremo das Forças Armadas. Só que não. Principalmente após longa hegemonia do bloco político derrotado.
Nada tem mais legitimidade do que um programa aprovado por 57 milhões de votos. Bolsonaro se deparou com um STF petista em oito de seus onze costados, sendo os três restantes tão ativistas quanto. Tinha uma base de apoio muito minoritária e impotente no Congresso. A administração pública estava e continuará entulhada de quadros militantes do lado esquerdo do arco ideológico. Fracassou a tentativa de contar com a boa vontade do parlamento, o STF impediu alterações mínimas nos quadros da administração permanente e as Forças Armadas já deixaram claro que, como tal, não trabalham para governos. Tudo isso é fato. Na experiência histórica que conheci em tantas décadas, nosso presidencialismo é assim mesmo e este é seu pior aspecto possível. Não preciso incluir na desgraceira a Covid-19 e o papel da mídia militante.
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O que fazer? No meu modo de ver, ilude-se quem imagina mobilizar os quartéis. Alguns tentam isso, em vão, desde 2015. O problema não é militar, mas civil. É um problema dos membros do condomínio. É político. Começa pela consciência de que esse sistema de governo é burro, exatamente por gerar situações desse tipo de modo permanente, apresentando, como instrumento de “governabilidade”, lauto serviço de bordo à corrupção, a preservação dos corporativismos e os aparelhamentos partidários do Estado e de sua administração.
O que segue, é para um horizonte além de 2026. Um governo de gabinete confiado à maioria parlamentar, com a chefia de Estado entregue a outra pessoa, com o STF transformado num tribunal exclusivamente constitucional, composto segundo critérios melhores, nos alinharia com modelos políticos muito mais bem sucedidos e estáveis. Esse desenho para médio e longo prazo, exigirá reformas anteriores, entre as quais, as do sistema eleitoral (voto distrital puro ou misto), da forma de votação, da Lei Orgânica dos Partidos Políticos.
“Isso não resolve o problema de atual!”, dirão muitos. Fato, mas se não tivermos essas pautas presentes como objetivos a serem buscados continuaremos resgatados, mediante o mero passar do tempo, de crises que nos põem na rabeira do desenvolvimento mundial e da credibilidade interna e externa.
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“E no curto prazo, o que fazer?”.
A democracia precisa ser salva pelos seus instrumentos. Não é um tal de Senado, lá em Brasília, que tem que adotar providências para instaurar processos de impeachment contra ministros do STF. Quem tem que fazê-lo são pessoas concretas, senadores, com mandato. A pressão tem que ser exercida sobre eles. Sobre cada um deles. E não é por e-mail. É pessoalmente, na cidade onde residem e naquelas que visitam. Eles precisam receber a consistente e sólida demanda nacional e o veemente protesto contra o mau uso do mandato que receberam, cuja renovação está em risco. Não podem eles permitir que continue a operar no Brasil uma ditadura togada à qual todos se submetem de modo constrangedor, por motivos que envergonhariam qualquer consciência bem formada. Por quê? Porque somos nós os prejudicados pelo mau uso dos mandatos que concedemos. Exclusivamente nós. Não eles.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
AVANI RODRIGUES DE OLIVEIRA - 16/03/2021 14:31:50
Explendido! Assino em baixo.Armando Profeta - 13/03/2021 19:09:33
Excelente texto, que faz doer na carneMarconi - 12/03/2021 23:51:44
Boa Noite a todos os leitores aqui do Puggina um dos poucos intelectuais isento politicamente se manifestando, análise correta meu amigo, não temos muitas alternativas a curto prazo mas estou me movimentando com a cobrança ao nosso executivo nacional, uma acão prática e constitucional deve partir do Presidente com apoio do povo, é necessario e urgente, o STF não pode milotar para a esquerda como está fazendo com varias intervenções solicitadas pelos partidos comunistas e acatadas em seu plenario supremo. Forte abraço meu amigo.Helvécio Gouvêa Neto - 12/03/2021 00:10:29
Ou seja, somos ovelhas levadas para o matadouro.ALUIZIO DE OLIVEIRA GONÇALVES - 10/03/2021 22:08:57
Excelente texto. Se o Brasil não fosse a potencia que é, já estaríamos em plena treva e ranger de dentes. Este país sempre esteve infestado de parasitas, comensais, e toda espécie de oportunista de ocasião. Tem que fazer a limpeza geral da Nação. O povo brasileiro haverá de descobrir um jeito de fazer isto.Vilma Monteiro de Arruda - 10/03/2021 21:46:14
O cidadão Percival tem minha admiração. Aprecio, gosto e leio tudo q ele escreve/pública.