• Percival Puggina
  • 01/01/2021
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CIRANDA EM TORNO DOS COFRES PÚBLICOS

 

Percival Puggina

 

        

O moço na TV era um de muitos, no mundo acadêmico e nos meios de comunicação, que fazem análise marxista até sobre chinelo velho. Em toda oportunidade se referem aos artefatos e serviços de proteção que usamos como se equivalessem às defesas com que os grandes traficantes se cercam em seus bunkers.

Descrevem uma realidade que domina a paisagem urbana das cidades brasileiras, como sendo coisa de gente preconceituosa, paranoica e indiferente à miséria alheia. Dizem-nos assim: "Vocês se isolam do mundo, cultivam preconceitos, matriculam os filhos em escolas particulares também protegidas por grades e agentes de segurança". No entanto, bem sabemos todos quanto esses cuidados são indispensáveis num país onde o crime espreita em cada esquina, porta de garagem, restaurante ou agência bancária.

A espiral ascendente da bandidagem não para de se ampliar desde que a análise marxista substituiu a lei pela tolerância ideológica às suas práticas. Ao mesmo tempo, o Estado  passava a gastar mais e mais consigo mesmo do que com suas funções essenciais. A violência aumenta pelo simples fato de que há criminosos em excesso circulando livremente em nossas ruas e estradas. E o sujeito da telinha, embora não tenha referido isso, certamente afirmaria, se lhe ocorresse, que “prender não resolve”. Claro que só prender não resolve, mas, ainda assim, resolve mais do que a impunidade, resolve mais do que o “não dá nada”.

Outro dia escreveu-me um leitor queixando-se dos golpistas que telefonam pedindo dinheiro através do Whatsapp (truquezinho idiota que virou uma praga). Respondi a ele que isso só acontecia porque quando viesse a ocorrer a improvável prisão de um tipo desses, não faltaria quem mandasse soltá-lo com méritos de bom cidadão por se dedicar a um golpe de tão baixa lesividade.

         Sujeitos como o de nariz torcido na telinha da tevê querem provar, com ares solenes e doutas perspectivas, que somos os réus dos crimes que contra nós praticam; que somos uma espécie de celerados sociais, atemorizados com as consequências dos males que advêm de nossa resistência às suas fracassadas utopias, às suas estrelas e bandeiras vermelhas. Proclamam que existem pobres porque existem ricos.

         Rematadas tolices! Todo o posto de trabalho vem da riqueza gerada pelo setor privado. Todo! Inclusive o emprego público, remunerado pelos tributos incidentes onde haja produção. O Estado é um gastador da riqueza gerada por quem produz. O que mais esperam os desempregados nos países em crise devido à pandemia é que suas economias nacionais comecem a vender, as empresas privadas a produzir e a reempregar, e a sociedade volte a consumir. Há alegria nos mercados quando os indicadores apontam sinais positivos no mundo dos negócios.

         O que os adoradores do Estado, que sonham com voltar ao poder e dançar ciranda em torno dos cofres públicos, não contam para você, leitor, é que a verdadeira concentração de renda, nociva e ativa, empobrecedora, que paralisa a atividade econômica como picada de cascavel derruba a vítima, é o Estado  que se apropria de quase 40% do PIB nacional. Aí está a causa da pobreza do pobre: o Estado, esse concentrador de renda nas próprias mãos. O Estado, que, mesmo quando não se deixa roubar, sustenta obrigatoriamente incontáveis cortes, gastos secretos, luxos inauditos e extravagantes comitivas. Como não poderia deixar de ser, esse Estado entrega aos pobres do país, em péssimas condições, a Educação, a Saúde e o Saneamento que, se bons fossem, lhes permitiriam sair da miséria e cuidar bem de si mesmos.

 

* Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.

 


Dirceu Guerra -   07/01/2021 00:29:43

Muito apropriado esse texto Puggina. Que bom seria se aqueles idiotizados pudessem ler isso e entender. Quem sabe iniciasse a reação.

Carlos Edison Fernandes Domingues -   04/01/2021 14:18:25

PUGGINA. Mais uma oração para ser lida todos os dias e que nos sirva de mudança de comportamento. Carlos Edison Domingues

DIRCE MARIA HENSEL -   04/01/2021 12:45:35

A CIRANDA DOS COFRES PÚBLICOS É IGUAL DANÇA DE ORIXÁS, VÊM, APOSSA-SE, TOMA O QUE DELE É, E VAI EMBORA..; QUEEE INDIGNAÇAO..;

Luiz Alberto Mezzomo -   03/01/2021 23:19:49

Havia um viés de esperança em 2018 quando o candidato vitorioso afirmou ter aderido as minhas convicções, as nossas convicções: os valores conservadores, com a finalidade de combater os males que afligiam a Nação, entre tantas: os crimes e as violências advindas. Mas não. Ele comportou-se como o capitão do Costa Concórdia. abandonando o navio. O presidente não foi o culpado na criação da crise, mas mesma assim nos abandonou no meio da tempestade, tal qual o Francesco Schettino fez com os seus passageiros. Alguém precisa chama-lo de volta.

Claudionor Antonio Ferras -   02/01/2021 12:39:57

O patrão "povo" vive na miséria e penúria e os empregados temporários "políticos" esbanjam riquezas.

Luiz Carlos da Cunha -   02/01/2021 12:22:32

Puggina: irretocável tua interpretação do cancro criminal; todavia entendo uma ressalva necessária: o "interprete" de Marx a quem te referes, arrogou-se a traduzir o pensador alemão. Marx não pode se defender.

Gisleno Superti -   01/01/2021 21:18:32

Perfeito e esclarecedor. Abraço meu caro e admirado professor.