• Percival Puggina
  • 09/09/2020
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CENSURA DO BEM, CENSURA DO MAL

 

 Não sei se você sabe, mas a única censura imperdoável é a que possa ser atribuída à direita, ainda que seja difícil, na atualidade brasileira, encontrar fatos que corroborem acusações sopradas aos ventos. A causa não importa, o que importa é o efeito. O secretário da Cultura, Mario Frias, está sendo levado à fogueira por pretender que as entidades públicas que operam abaixo dele no organograma do setor lhe submetam previamente suas publicações. Mas não. Estes só querem o nosso dinheiro para fazerem o que bem entendam.

 Ontem aplaudi o amigo e brilhante jornalista Alexandre Garcia quando este mencionou uma censura muito mais eficiente e odiosa, referindo-se àquela que fecha as portas para quem deixa transparecer posição “de direita”, ou, caso mais grave, aparece em fotografia com o presidente da República. Neste caso, é a própria “zona artística” a que se refere Fernanda Montenegro que promove a censura dos colegas desalinhados com o esquerdismo hegemônico. A longa e dinâmica trajetória do Alexandre o autoriza a mencionar a censura na imprensa, também ela no circuito das redações, cuidando de apartar os dissidentes do pensamento dominante. E poderíamos ir para o ambiente acadêmico, na área de Ciências Humanas, onde vigem, com rigor de tribunais de exceção, os mecanismos de tranca e ferrolho contra a infiltração de qualquer divergência.

 Estas censuras, cotidianas, disseminadas em ambientes públicos e privados, têm existência tão real que negá-las é confirmá-las, pois a recusa a uma evidência é já censura imposta ao fato. No entanto, essa censura é praticada por militantes convictos de promoverem uma censura do bem, beatificada pela santidade da causa. Foi por ela e para ela que aparelharam tudo.

 Exatamente por isso, tem mais. Nos últimos dias foi desencadeada em Cuba uma onda repressiva de intensidade incomum até para Ilha. Preparava-se a divulgação da Revolución de los Girassoles com uma passeata ocorrida dia 08/09, pedindo – ora vejam só! – liberdade de opinião e expressão, a extinção da ditadura e, subsidiariamente, a liberação dos mantimentos coletados nos EUA por cubanos lá residentes. Enviados para entrega a entidades religiosas fazerem a distribuição, empacaram na aduana de Mariel porque o governo quer controlar sua distribuição através do aparelho estatal.

 Cuba passa fome. A covid-19 derrubou o turismo e afundou o PIB, por isso, a ajuda humanitária, por isso o silêncio sobre ela e sobre o que está acontecendo lá com número crescente de prisões. No sentido oposto, foi libertado, na última sexta-feira, o dissidente Roberto de Jesús Quiñones depois de cumprir um ano inteiro como preso de consciência. Vi a foto dele em Cubanet. Pele sobre ossos, parecia egresso de um campo de concentração nazista. Um ano preso por divergência e a censura do bem age como se Cuba não existisse para que os fatos de lá não precisem ser revelados.

À saída da prisão, Roberto de Jesús foi saudado por um amigo que lhe disse: “Bem vindo à prisão exterior”. Também isso não repercute, porque aqui, como lá, há livros que não se lê, verdades que não se diz, fatos que se manieta em versões.

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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Integrante do grupo Pensar+.

 


 


Luiz R. Vilela -   10/09/2020 12:00:13

"Não concordo com uma única palavra do que dizes, mas defenderei último instante o teu direito de dize-la". Alguns atribuem a frase a Voltaire, mas também há quem negue. O fato é que a essência desta frase é o suprassumo do convívio democrático. As ideias divergentes, devem ser, como também o direito de divulga-las, cláusula pétrea da democracia, assim com a alternância no poder. Quando grupos encastelados nas posições de mando, desejam se perpetuar, a primeira atitude que tomam, é tentar calar os discordantes. ou seja, entra em jogo a velha e abusiva CENSURA. Aqueles que clamam por democracia e se dizem democratas, são os primeiros a se insurgir contra o pensamento alheio, que seja contrário ao ideário hegemônico deles. É o exemplo da tal classe artística brasileira, que não aceita que elementos seus, defendam os ideais de quem eles discordam. A Regina Duarte é o exemplo mais próximo e conhecido. Professam a ideologia de esquerda, porque no imaginário deles, o estado proverá todas as suas necessidades materiais, assim como já fazia a lei Rouanet, que socializava as despesas da cultura, mas permitia a privatização do lucro com o "evento cultural". Como dizia um antigo colunista social, a turma "querem" é moleza, e com a esquerda usa como "isca" as benesses sociais, para angariar apoio, acham que será sempre assim. O problema é que se dizem comunistas, mas nunca foram a Cuba ou Coreia do Norte para ver como é o regime na prática. São só espertalhões.

FERNANDO A O PRIETO -   10/09/2020 08:59:44

Chega de prestigiar, com nossa audiência e com nossos aplausos, esses "artistas", "representantes do povo", "líderes" e outras coisas assim...Quando fazem algo ilegal, que sejam processados, embora o STF no final os salve. Quando são simplesmente absurdos e ridículos, a melhor punição, em minha opinião, é o silêncio. Até atacá-los verbalmente é para eles algo desejado - podem dizer-se perseguidos, vítimas, censurados... Para a imprensa, também esse tratamento - evitemos ler esse jornais, ver esses programas, a não ser por obrigação profissional. Foi-se o tempo em que eu aprendia algo lendo (a não ser artigos primorosos como os do Prof. Puggina e outros colaboradores desta e de outras, raras, páginas). E não é porque eu me tornei sábio, muito pelo contrário - foram os que escrevem, em sua esmagadora maioria, que baixaram de nível.