• Percival Puggina
  • 26/12/2017
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CARTA A UM AMIGO ATEU

 

A ideia passou-me pela mente como sombria nuvem enquanto participava da missa de Natal na Igreja São Pedro, em Porto Alegre. E se aquela celebração não fizesse o menor sentido para mim? E se eu não tivesse fé? Poderia acontecer de não tê-la, dado que tantos não a têm. Fui tomado por um sentimento de gratidão, ciente de que nada fiz para merecer tal graça. E os suaves compassos da canção Amazing Grace me vieram à mente – “Esta Graça me trouxe até aqui e me conduzirá para casa”.

Na certeza de que tenho uma alma, sinto-me mais seguro alimentando-a com importantes convicções do que resfolegando meu corpo em dúvidas que nada informam, nem consolam, nem alegram o espírito. Prefiro enfrentar as tormentas da existência segurando a mão de Deus do que as bengalas do mundo material. Aliás, as esperanças divinas são tão superiores às vãs expectativas humanas! Considero vantajoso almejar a vida eterna em vez de crer que tudo acaba num corredor de cemitério, atrás de uma frase saudosa, inscrita em placa de mármore. Prefiro aprender de Deus que se revela do que de filósofos que escutam silêncios e tateiam trevas. Sim, meu caro, é preferível ter fé. Nada se perde com ela e muito se perde sem ela. Falo por mim. E falo para ti.

Durante muitos anos supus, como tu, que a fé fosse um recanto silencioso onde se saciava a ignorância humana perante questões complexas. Ou, dito sem artifícios, que o Deus dos tempos modernos seria sofisticado descendente do trovão reverenciado pelos nossos ancestrais do paleolítico inferior. Agora, convenhamos, quem precisa de um Deus para fins que o Google e a Wikipédia cumprem razoavelmente bem?

O Deus que um dia encontrei no cristianismo é um Deus que se conforma à pequenez do sacrário, à gruta de Belém e à imensidão do Cosmo. Com infinita paciência – vejam que privilégio!- esse Deus é meu pedagogo nos meandros do pensamento e nas picadas da ação. Recebi dEle verdades, princípios e valores que só me fazem bem.
A fé nada me toma em troca do muito que me dá. Rezo para que encontres “such amazing grace”.

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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

  


RoCS -   29/12/2017 12:47:01

Que os deuses sejam louvados, tantos os vigentes como os extintos... Desde Hórus, Zeus, Júpiter, Odin... até Alá, Oxalá, Brahma, Deus Pai...

CELSO CONRADO MARTINI -   27/12/2017 15:54:00

PUGINA MEU IRMÃO EM CRISTO , GOSTEI MUITO DA "CARTA AO AMIGO ATEU " QUANTO MAIS PASSA O TEMPO , MAIS PERTO ESTOU DE DEUS, POIS TENHO FÉ INABALÁVEL QUE CONTINUAREMOS A VIVER JUNTO AQUELE QUE NOS CRIOU!

Odilon Rocha -   27/12/2017 14:21:29

Caro Professor Simplesmente, arrasou! Meus parabéns pelas belas e profundas colocações . Mantenhamos o nosso bm combate contra as intrometidas e vampirescas sombras. Não esmoreçamos! Um 2018 próspero e repleto de realizações, juntamente com a sua querida família. Um abraço

Aleks Figueiredo -   26/12/2017 20:39:10

Profundo! Me faz relembrar tempos em que eu estava mais perto dEle, me conforta por saber que todas as minhas dúvidas e questionamentos acabam, sempre, aumentando minha fé.

Marlon -   26/12/2017 20:05:37

Muito bom professor. Que Deus nos guie por um bom caminho. Grande abraço, feliz Natal e próspero 2018.