• Percival Puggina
  • 24/11/2020
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CAÇADORES DE IRRELEVÂNCIAS

 

 Em recente artigo sobre racismo, Roberto Rachewski criticou quem faz política usando como bandeira seu sexo e sua cor. E conta haver apoiado uma jovem, mulher, negra e moradora da periferia, candidata a vereadora por seu partido, “não porque ela era jovem, mulher, negra e da periferia, mas porque ela é honesta, culta, inteligente, empreendedora e liberal”. Mais adiante, afirma o autor: “Seja branco ou negro, seja homem ou mulher, seja jovem ou velho, seja rico ou pobre, eu analiso e julgo o caráter, o quanto aquela pessoa valoriza a racionalidade, a produtividade, a independência, a honestidade, a integridade, a justiça e a capacidade de melhorar moralmente a cada dia, a ponto de se orgulhar por suas conquistas”.

 No Brasil e em todo o Ocidente, porém, a maior parte dos grandes veículos de comunicação está comprometida com a ideia de que as cadeiras dos parlamentos, os concursos e os cargos públicos, as posições de diretoria da iniciativa privada, os postos de trabalho das grandes empresas, devem estar equitativamente distribuídos por sexo e suas tendências e por cor da pele e suas variações.

Na capa da edição Zero Hora (24/11) 11 vereadores eleitas posam diante da Câmara Municipal de Porto Alegre assinalando a maior representação feminina já levada ao parlamento da capital. Mas, mesmo assim, sendo 11 em 36, acrescenta a informação, “bem distante da relação com a representatividade do gênero na população”...
Terminou a eleição municipal do dia 15 de novembro e lá estavam os caçadores de irrelevâncias contando brancos e negros, homens e mulheres, homossexuais e transexuais, para checarem se estão ou não equitativamente representados.

Ou seja, para esse tipo de jornalismo, parlamentares são eleitos para representar interesses relacionados à população do mesmo sexo, ou cor, ou tendências sexuais. Obviamente, em presença de tais critérios de decisão, o bem de uma comunidade, de um município, do estado e da União Federal é mais adequadamente atendido por uma representação política marcada por esse tipo de militância, embora no cotidiano da atividade parlamentar tenham os legisladores que deliberar sobre tudo mais. Para tanto, caráter e competência são muito mais relevantes do que cor da pele, sexo e tendências sexuais.

É por isso que a afirmação do Roberto Rachewski é de uma lógica cristalina. Como tenho afirmado tantas vezes, o parlamentar não deve ser um representante de interesses, mas um representante de opinião identificado com o eleitor não por meras coincidências genéticas, mas por identificação com o modo de ver o ser humano e a sociedade, sua cidade e o mundo onde vive.

* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
  


marcos halliday -   26/11/2020 17:57:22

Imagina os COLETIVOS nas Câmaras Municipais; já temos um eleito(..) por aqui; quero imaginar a representação , a divisão do poder, a rachadinha equacionista, etc... Será que vamos ter chapa coletivo (..) para Presidente da República? É a nova luta pelo poder.

FERNANDO A O PRIETO -   25/11/2020 08:22:29

Estamos em um tempo que só valoriza o grupo, esquecendo do indivíduo. Esquecem-se as pessoas, frequentemente, que nossos méritos e deméritos são nossos, pessoais, e não os de nossa classe social, sexo, opção política, filosófica, etc. É necessário voltar a afirmar a responsabilidade pessoal de cada um - o filho de um ladrão NÃO é, necessariamente, ruim; o filho de uma família de gente boa nem sempre (infelizmente...) é bom... Na hora de escolher, é importante lembramos disso. Não quer dizer simplesmente, ignorar o grupo, mas dar-lhe o devido valor para a finalidade da escolha.

Menelau Santos -   24/11/2020 19:00:50

Professor, seu texto é direto e claro, bem como a citação. Esse mundo dos "equacionistas" é absurdo.