• Percival Puggina
  • 11/06/2016
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AMAR E CONSTRUIR OU ODIAR E DESTRUIR?

 

 Não preciso buscar autor cristão para encontrar observações importantes sobre os antagonismos acima. Até um marxista da Escola de Frankfurt percebeu o vigor presente nesses sentimentos e atitudes. Mirando o nazismo e não o conjunto das experiências totalitárias de seu tempo, Erich Fromm entendeu que odiar e destruir também eram formas de transcendência. Mas eram inferiores a amar e construir.

"Se for necessária a violência, que venha a violência!", esbravejou certa vez um professor durante debate do qual participei sentado a cautelosa distância no outro lado da mesa. O moço queria transcender à realidade que via e o caminho arrebatado, rompante, tão pouco civilizado, parecia lhe servir. No chamado à turbulência existem conteúdos explícitos e implícitos. Há o voluntarismo dos que só se subordinam a leis próprias. Há uma atitude perante a vida que não vê limites ao querer. Há boa dose do desejo de transcendência pelo viés negativo mencionado por Fromm. E há a enfermidade psíquica que se compraz com a sensação de poder advinda da brutalidade: bateu, quebrou, causou dor, gerou perda, ferrou com tudo? Êxtase!

Escrevo estas linhas pensando nos vândalos que escolheram a rua mais charmosa do bairro mais elegante da cidade para suas pichações políticas e manifestações de ira em favor da continuidade do mandato da presidente Dilma. Era prazerosa, apesar de malsã, a tarefa de entrar por aquela específica rua expressando uma forma de poder que ultrapassava os limites dos códigos de conduta dos frequentadores, antagonizando-os politicamente. Não se diga que "até aí nada de mais". O que estou descrevendo é a opção real por uma política que construiu assim seu caminho para o poder. Assim a ele chegou. E assim fez acontecer com a ordem pública e com a lei o mesmo que acontece com o elástico da cueca. Esgarçou. Foi tanta cizânia, tanta história mal contada, tanto divisionismo para conquistar que o elástico não resistiu.

Não ouvimos da boca da presidente afastada, há bem poucos dias, que o ministério de Temer era formado por velhos, brancos e ricos? Expondo-me ao risco de extrair intuito de onde não costuma haver intuito algum, eu diria que Dilma rezou pela cartilha que manda fatiar a sociedade para conquistá-la; suscitar o conflito para debilitar e intimidar conflitantes; mobilizar sentimentos vis para que a vilania seja consentida. Brasileiros com menos de 30 anos talvez não lembrem do que aconteceu no Brasil nas festividades que deveriam ter marcado os 500 anos do Descobrimento. Você lembra, leitor? O PT, seus movimentos sociais e a esquerda bagunçaram tudo durante meses e acabaram com a festa! Odiar e destruir. Odiar e destruir. O resultado está aí em dimensão nacional. Onde foi diferente?

***
Nossa esperança não está nem poderia estar no bom caráter da nova maioria parlamentar formada, em grande parte, pela velha maioria parlamentar. Não existe bom caráter em quantidade suficiente no Congresso Nacional. Aliás, antes mesmo dessa obviedade: o que seria "caráter" para quem sempre afirmou que gente de bem, como se diz por aqui, ou "homem bom", como dizia Aristóteles há 2300 anos, é papo de tolos conservadores? Toda tentativa de desqualificar o novo governo substituto com base no caráter de muitos de seus membros, migrados da base do governo petista, é esperteza de falso malandro. É surto de moralidade em casa de tolerância. Nossa melhor esperança, repito, só pode estar no povo que foi às ruas! (Por contrato com ZH, a totalidade deste artigo deve ser lido no site do jornal).

Especial para Zero Hora, 11 de junho de 2016.
 


Leonardo Melanino -   15/06/2016 00:08:34

13 anos de PT no Governo Federal do Brasil deixaram a desejar nele. Atrasos na Copa de 2014 e na Olimpíada deste ano atual. Infelizmente, este partido não sabe governar, embora seja bom de propaganda. Educações, Saúdes e outras áreas totalmente precárias. Então, quem vota em gentalha terá de sofrer com ela.

Peter Wilm Rosenfeld -   13/06/2016 18:20:02

Como de hábito, os três artigos são excelentes; concordo com os três textos, de hábito. O Brasil, após todos esses anos de governo PT, regrediu em todos os sentidos. Exceto na situação econômica de tantos de seus membros, a começar pela situação de seus líder maior, Lula da Silva, que atualmente é um milionário, situação igualmente de seus filhos.

Genaro Faria -   13/06/2016 16:03:45

Quando um repórter perguntou a Golda Meir a razão de não ter um país fundado por judeus perseguidos pelo nazismo e o fascismo optado por tornar-se socialista, sua resposta foi óbvia: "Não existe escolha entre a liberdade e a escravidão". Óbvia, mas lapidar, pois à época da premier israelense nossa civilização ocidental, cristã e democrática, já perdia em seus meios culturais, sobretudo no chamado "formador de opinião" - a imprensa, nas universidades e nas artes, a revolução cultural que vende o comunismo em embalagens com novas denominações "politicamente corretas". Perdia e continua perdendo, pois se trata de uma guerra que os estrategistas políticos chamam de assimétrica. Enquanto um lado só bate, o outro só apanha... sobretudo de si mesmo. Essa é a realidade para a qual só agora começamos, aos poucos, despertar. Sim, a falsa opção pela escravidão do socialismo prepondera nesses meios divorciados da razão e da robusta maioria do sentimento popular. Ficaram para trás as guerrilhas, a tomada do poder pela violência. Para revolucionários que dominam os chamados meios culturais são dispensáveis os fuzis e os canhões para que imponham seu poder devastador sobre quem se atreva a discordar do seu regime totalitário. Basta desacreditarem as instituições democráticas e falsificarem o cristianismo de uma religião revelada por uma "religião social".