• Percival Puggina
  • 24/05/2022
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A terceira via de Simone Tebet

 

Percival Puggina

 

         Eu precisaria não ter visto a senadora Simone Tebet, olhos postos na eleição presidencial, participar ativamente das ridicularias da CPI da Covid para querer vê-la longe do poder. Momentos como aqueles não fazem pessoas como Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues serem como são. Situações que extravasam perversidade só existem porque existem pessoas como Renan, Omar, Ranolfe e Simone (que voluntariamente aderiu ao grupo) para as quais o interesse próprio é a determinante superior das decisões e ações políticas.

É o que confere nocividade ao poder. É o que dá longa vida a um modelo como o nosso, onde a crise está no cardápio do dia ou está prevista para amanhã, só faltando decidir o modo de servi-la aos desapoderados cidadãos do país. Entre estes, caro leitor, sem saber seu nome, seu estado de origem ou o que você faz na vida, eu sei que você se inclui.  Tem sido assim ao longo do meu tempo de vida. A crise, ou estamos nela ou é um prognóstico seguro.

         Muitas pessoas me diziam, desde antes da eleição de 2018: “A vitória de Bolsonaro vai levar o país para uma crise sem fim porque aqueles que mandam não querem um presidente com essas características”. Era verdade, mas havia muitos outros motivos para tudo que sobreveio. O principal deles é um modelo político mal costurado, essencialmente inaproveitável. Muitas vezes, ao longo das últimas décadas, em palestras, eu o descrevi como trabalho de má alfaiataria institucional.

Nossos muitos constituintes republicanos criaram sucessivos modelos que não funcionam. A sociedade brasileira paga, no seu conjunto, o preço dos imensos desníveis econômicos, sociais e culturais que nela se manifestam.

“Os problemas da democracia se resolvem com mais democracia” ouvi muitas vezes ser dito numa época em que o ‘Orçamento participativo’ era recheio de discurso esquerdista e solução para as dificuldades do Rio Grande do Sul. Meninos, eu vi aquele orçamento, dito democrático, ser levado do Palácio Piratini para o Palácio Farroupilha (do governo ao parlamento), num comício petista, entre bandeiras vermelhas ao som de discursos de louvor e ladainhas revolucionárias.

Os problemas da democracia se resolvem com inteligência, com todos sujeitos às leis aprovadas (o que significa extinção de privilégios) e sob regras que tornem a ação virtuosa mais compensadora do que a ação viciosa, o que se traduz em prerrogativas dos membros do poder severamente contidas pela ordem política criada e pela atenção social.

Não, meus caros. Não vejo serventia política para pessoas que se deixam empolgar por qualquer ação originária do deplorável trio a que a senadora entusiasticamente serviu, a ponto de dizer que a CPI (leia-se G7) foi ensaio para uma grande convergência democrática... Aquele grupo foi, isto sim, uma aula sobre o fracasso institucional brasileiro e Simone Tebet fez questão de aparecer na foto.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Nara -   24/05/2022 16:25:43

Excelente, Puggina!

Luiz R. Vilela -   24/05/2022 16:18:40

Pois é, dizem que passarinho que acompanha morcego, dorme também de cabeça para baixo. É difícil que alguém se engaje a uma causa e que não tenha sentimentos iguais aos parceiros. É a velha máxima bíblica do" diga-me com quem andas, que te direi quem és". A senadora Tebet, foi criada nos moldes do MDB, seu pai já era senador da república, e certamente ela assimilou todas manhas dos políticos deste partido. Este partido, o MDB, que nasceu com esta sigla, mas tornou-se PMDB, para se adaptar a um casuísmo nos tempos do Golberi, a verdade é que gostou tanto do "nome" dado pelos militares, que o mantêm até hoje. Esta tal de terceira via, é na verdade, uma pajelança política, que tem apenas o intuito de tirar votos do Bolsonaro, e favorecer lula. Alguns já sacaram a malandragem e pularam fora, como nos casos de Sergio Moro e agora João Dória, ficando apenas os devotos de lula. Acham que no "mano a mano", lula soçobra, tem que vir uma ajuda extra, ai entra a tal terceira via. A via dos insensatos ou a dos "suspeitos de sempre", e que ao achar que a senadora poderia se tornar um "Tertius", na verdade a usam para "bucha de canhão". Certamente ela sabe da "tática", e como se sujeita ao papel, faz parte do jogo. A terceira via, será um ajuntamento de todos os que irão para o lula no segundo turno, para qua a adesão não seja direta, tentarão enganar a torcida. A política no Brasil, cheira mal.

Jose paulo -   24/05/2022 16:12:15

Na mosca sua análise.

Helena Medeiros -   24/05/2022 16:07:48

Meu querido Percival Puggina! Mais um texto perfeito! Sou daqui de MS , terra da senadora em questão, procure saber a opinião do povo sul-mato-grossense à respeito dela… Grande decepção pra maioria! Abraços

DAISI BARÃO -   24/05/2022 14:20:13

Disse tudo, grande Puggina. E acrescento: de qual caminhão de mudança caiu essa criatura para aventurar-se à presidência da República? Ela e Joice têm que dar as mãos e morrerem abracadas.