• Carlos Azambuja
  • 09/04/2009
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A T?NICA DA INSSURREI?O E DO GOLPE DE ESTADO

Trotsky, tranq?, sorri: “A insurrei? n??ma arte. ?uma m?ina. Para coloc?a em movimento s?precisos t?icos, e s?cnicos a poderiam, eventualmente, parar”. Sou da linha trotskysta: revolu? permanente. (Declara? do presidente Hugo Ch?z em janeiro de 2007). Na pol?ca que se seguiu ao golpe de Estado ocorrido na R?a em outubro de 1917, Lenin foi considerado o estrategista, o ide?o, e Trotsky o criador da t?ica do golpe de Estado. Segundo diversos analistas, o perigo de que os governos devem defender-se n?adv?da estrat?a de Lenin, mas da t?ca de Trotsky. A estrat?a de Lenin n?pode ser dissociada da situa? concreta da R?a de 1917. O pr?o Lenin, em seu livro Esquerdismo, Doen?Infantil do Comunismo, observou que a originalidade da situa? pol?ca na R?a em 1917 provavelmente nunca iria repetir-se em qualquer pa?do mundo. Sua estrat?a n?constitui, pois, um perigo imediato para os governos. A t?ca de Trotsky, sim. Constitui. Para a estrat?a de Lenin h?ecessidade da exist?ia de um Kerensky (um governo fraco). A t?ca de Trotsky, ao contr?o, independe desse detalhe e sua exist?ia ou n? em nada a influencia. H?s que afirmam que mesmo que Lenin tivesse ficado na Su? e n?tivesse desempenhado papel algum em outubro de 1917, Trotsky teria tomado o poder. O que ?mportante, na realidade, ? t?ca insurrecional, a t?ica do golpe de Estado. Na revolu? comunista a estrat?a de Lenin n?conduz, por si s? tomada do poder, pois a febre da insurrei?, a epidemia de greves, a paralisia da vida pol?ca e econ?a, a ocupa? de f?icas pelos oper?os, a desorganiza? das For? Armadas, a pol?ca da burocracia, a leni?ia da magistratura, a resigna? da burguesia e a impot?ia do governo n?s?o bastante para a tomada do poder. Essa situa? revolucion?a prepara, n?h??a, o ataque decisivo, mas h?no entanto, necessidade de algu?que saiba “us?a” e conduzir o ataque. Para a t?ca de Trotsky as chamadas condi?s objetivas e subjetivas s?apenas um detalhe. Na R?a, em 1917, Lenin pensava em obter maioria na Duma, sublevar as massas contra o governo de Kerensky, submergir o pa?sob a mar?rolet?a, dar o sinal de insurrei? a todo o povo, proclamar a necessidade da queda de Kerensky e da ditadura do proletariado. A seguir, um di?go imagin?o: “Concordo”, diz Trotsky, “mas antes de mais nada ?reciso ter o controle da cidade e ocupar seus pontos estrat?cos. Para tal, a insurrei? tem que ser organizada e conduzida por uma tropa de choque com um punhado de pessoas. Para isso n?necessitamos recorrer ?massas. Um pequeno grupo nos ?uficiente”. Mas Lenin n?queria que a revolu? bolchevique viesse a ser classificada de “blanquista” (ou seja, acusada de ter sido feita por um punhado de conspiradores e n?por meio da luta de classes do proletariado, conduzida por seu estado-maior, o partido, conforme a ortodoxia do marxismo). “Muito bem”, responde Trotsky, “mas todo o povo ?emasiado para a insurrei?. Devemos contar ?om um pequeno grupo, implac?l e agressivo, treinado na t?ca insurrecional”. “?conveniente”, admite Lenin, “concentrar os nossos esfor? nas f?icas e nos quart?. A revolu? ser?eita a? ??ue fica o seu n?tal. ?a?ue, em discursos inflamados, devemos explicar e ampliar o nosso programa, pondo a quest?nos seguintes termos: ou a aceita? integral de nosso programa ou a insurrei?”. “Muito bem”, diz Trotsky, “mas quando as massas tiverem concordado com o nosso programa, teremos que organizar a insurrei?. Para tal, devemos escolher, nas f?icas e nos quart?, elementos de confian?e prontos para o que der e vier. Do que temos necessidade n??a massa de oper?os, ?e uma tropa de choque”, insiste Trotsky. “Para que a insurrei? seja de inspira? marxista, isto ?encarada como uma arte”, concorda Lenin, “devemos simultaneamente e sem perda de tempo, organizar o Estado-Maior das tropas insurrecionais, repartir as nossas for?, lan? os regimentos fi? nos pontos nevr?icos da cidade, cercar o teatro Alexandra, ocupar o Forte Pedro e Paulo, prender o Estado-Maior Geral e enviar contra os oficiais-alunos e os cossacos, destacamentos dispostos a sacrificarem, se necess?o, at? ?mo homem a fim de impedir que o inimigo atinja o centro da cidade. Devemos mobilizar os oper?os armados, cham?os ao combate, ocupar as centrais telef?as e telegr?cas, instalar a? nosso Estado-Maior, p? em contato com todas as f?icas, todos os regimentos e todos os pontos onde se desenvolver a luta armada”. “Muito bem”, diz Trotsky, “mas...”. “Tudo o que afirmei ?m pouco vago”, reconhece Lenin, “mas com isto eu quero provar que, no estado em que nos encontramos, s?deremos ser fi? ao marxismo e ?evolu? se encararmos a insurrei? como uma arte. Voc?onhece as principais regras com que Marx regulou esta arte. Pois bem, aplicadas ?tual situa? da R?a estas regras significam: ofensiva simult?a, t?inesperada e r?da quanto poss?l sobre Petrogrado, concentra? de for? superior aos 20 mil homens que o governo disp?Articula? entre as nossas tr?principais for? – a Marinha, os oper?os e as unidades militares – de modo a ocupar e defender as centrais telef?as, o tel?afo, as esta?s de trens e as pontes. Selecionar, dentre os elementos de nossos grupos de ataque, os oper?os e marinheiros mais resolutos, formar destacamentos para ocupar todos os pontos importantes e participar em todas as opera?s decisivas. Por ?mo, constituir grupos de oper?os armados com espingardas e granadas, que marchar?sobre as posi?s inimigas (escolas de oficiais, centrais telef?as e telegr?cas). O triunfo da revolu? russa e, ao mesmo tempo, da revolu? mundial, depende de dois ou tr?dias de luta”. “Tudo isso ?uito correto”, explica Trotsky, “mas demasiadamente complicado. ?um plano vast?imo, uma estrat?a que abrange demasiado territ? e muitas pessoas. N??ma insurrei?. ?uma guerra. Para ocupar Petrogrado n?h?enhuma necessidade de tomar o trem na Finl?ia. Quando se parte de muito longe fica-se, muitas vezes, no meio do caminho. Desencadear uma ofensiva de 20 mil homens desde Kronstadt para ocupar o teatro Alexandra ?um pouco’ demasiado para um golpe de m? Em estrat?a, o pr?o Marx seria vencido por Korniloff. Urge fixarmo-nos na t?ca, agir com um punhado de homens e num terreno limitado, concentrar esfor? nos objetivos priorit?os, bater forte e feio. N?creio que seja muito complicado: as coisas perigosas s?sempre extremamente simples. Para atingir o nosso objetivo n?devemos recear os fatores que nos s?adversos nem fiarmo-nos nos que s?favor?is. ?preciso agir sem alarido, silenciosa e calmamente. A insurrei? ?ma m?ina silenciosa. A sua estrat?a exige uma s?e de circunst?ias favor?is. A insurrei? n?precisa de nada. Basta-se a ela pr?a”. As palavras acima, atribu?s a Lenin e Trotsky n?s?uma fic?. S?extratos de cartas enviadas ao Comit?entral do Partido Bolchevique, em outubro de 1917, por ambos. Os que conhecem todos os escritos de Lenin, em particular os que se referem ??ica insurrecional das jornadas de dezembro, em Moscou, durante a revolu? de 1905, devem mostrar-se bastante surpreendidos com a ingenuidade da sua concep? de t?ca e estrat?a insurrecionais, nas v?eras da Revolu? de Outubro. Todavia, devemos reconhecer que ap? rev?da tentativa de revolu?, em julho de 1917, foi ele o ?o – ?xce? de Trotsky - que n?perdeu de vista o objetivo principal da estrat?a revolucion?a: o golpe de Estado. Ap?lgumas hesita?s (em julho, o Partido Bolchevique tinha um ?o objetivo e de natureza parlamentar: a conquista de maioria nos Sovietes) o germe da insurrei? tornara-se para Lenin, “o motor de toda a sua atividade”. Durante sua estada na Finl?ia – onde se refugiara ap?s jornadas de julho, para n?ser preso por Kerensky – toda a sua atividade se resumia ?repara? te?a da insurrei?. De outra forma n?se explicaria a ingenuidade do seu projeto de uma ofensiva militar sobre Petrogrado, apoiada, no interior da cidade, pela a? dos guardas vermelhos. Tal ofensiva teria redundado em um desastre. Na sua carta de 17 de outubro de 1917, Lenin defendia a t?ca de Trotsky: “N?se trata de blanquismo. Efetivamente um golpe militar ser?lanquista quando n?for organizado pelo partido de uma classe determinada; quando os seus organizadores n?atenderem ao movimento pol?co, em geral, e ?itua? nacional, em particular. Entre um golpe militar, conden?l sob todos os pontos de vista, e a arte da insurrei? armada, h?ma grande diferen?. Mas Trotsky, tranq?, sorri: “A insurrei? n??ma arte. ?uma m?ina. Para coloc?a em movimento s?precisos t?icos, e s?cnicos a poderiam, eventualmente, parar”. Essa t?ca de a? insurrecional de Trotsky passou a fazer parte da estrat?a revolucion?a da III Internacional e, por conseguinte, do Movimento Comunista Um elemento indispens?l ?nsurrei? ? greve geral, que tornaria a insurrei? semelhante a um murro dado em um aleijado, pois para que ela tenha ?to, ?ecess?o que a vida das cidades esteja paralisada pela greve geral. Finalmente, ?nexato que o governo provis? de Kerensky n?tenha adotado as medidas necess?as para a defesa do Estado. Todavia, o m?do defensivo de Kerensky consistia em aplicar as medidas de seguran?e de pol?a tradicionais, em que at?oje confiam os governos liberais. N?se pode acusar Kerensky de imprevid?ia. Ocorre que o m?do de aplicar somente a repress? ao inv?de medidas pol?cas, administrativas e econ?as, a fim de assegurar a defesa do Estado contra a t?ica insurrecional moderna, ?ma a? ineficaz. Os governos, quase sempre, ??ca revolucion?a, revelando ignor?ia dos princ?os elementares de defesa do poder, op?uma t?ca defensiva baseada em medidas policiais, esquecendo que essas medidas, de conformidade com qualquer manual de contra-insurrei?, devem ser 90% pol?cas, econ?as e administrativas e apenas 10% repressivas.