• Percival Puggina
  • 11/02/2018
  • Compartilhe:

A REVOLUÇÃO CUBANA E O DIREITO DE RESISTÊNCIA À TIRANIA

 Quem conversar com um defensor do regime cubano sobre as origens da anacrônica revolução, certamente ouvirá afirmações que se fundamentam na resistência à tirania. Não se surpreenda: ele estará se referindo à ditadura de Fulgencio Batista. De fato, os comunistas não veem tirania no governo da ilha ao longo destes quase 60 anos. Argumentam que o governo se afirmou pela luta contra Batista e contra os ianques, e que a população legitima o regime agitando bandeirinha nas ruas em festas da Revolução ou homologando os atos do governo em aquiescente silêncio. O tal “compañero” jamais mencionará três tópicos essenciais à compreensão da natureza antiética da realidade política em Cuba.

O primeiro ponto obscurecido é o fator geográfico. Num ambiente insular, o totalitarismo potencializa seus malefícios, notadamente quando a institucionalidade jurídica é tão primitiva que as penas, nos crimes políticos, se estendem aos familiares dos réus. Sob governo totalitário, uma ilha pode ser compreendida como cadeia a céu aberto, de onde só se sai enfrentando o mar. Ademais, toda resistência resulta “sutilmente” contida (os bolcheviques ensinaram isso) quando a brutalidade do regime se aplica sobre as famílias dos dissidentes, por meios oficiais e não oficiais (brigadas populares de resposta rápida, por exemplo).

O segundo ponto corresponde às efetivas circunstâncias históricas. O governo deposto pela Revolução Cubana era autoritário e contava sete anos quando derrubado. Pode-se cometer o erro de louvar o advento de um mal (uma ditadura com Fidel) sob a justificativa da eliminação de outro mal (a ditadura com Batista). Esse engano pode ter sido aceitável durante alguns meses. Cinquenta e nove anos depois, porém, a validade venceu e a desculpa se esfarrapou. Comparado com Fidel e seu mano Raúl, Fulgencio Batista deveria ser chamado Batista, o Breve.

O terceiro diz respeito à incorreta compreensão sobre o nosso ponto central aqui: o direito de resistência à tirania. Ele está reconhecido na sã filosofia, entre outros, por Aristotóteles, Tomás de Aquino e Francisco de Vitória. Em determinadas condições, pode ser usado de modo moralmente licíto contra leis injustas e contra poder opressor assumido sem legitimidade popular e legal.

Examinemos, então, o caso cubano após 1959. No momento da vitória havia apenas um comunista conhecido entre as lideranças dos barbudos que entraram em Havana: Che Guevara. Os principais líderes eram, pela ordem: Fidel, Raúl, Huber Matos, Camilo Cienfuegos e Che. Esse terceiro homem, Huber Matos, conta no livro “Como llegó la noche” que sua posição no ranking lhe fora posta pelo próprio Fidel: “Primero estoy yo, luego está Raúl y despúes vienes tu”. Fidel o designou para comandar o Exército em Camaguey, de onde, em outubro de 1959, Huber Matos enviou uma carta ao chefe discordando dos rumos que dava ao novo governo. Foi julgado por um tribunal pessoalmente dirigido por Fidel e condenado a 20 anos de prisão, que cumpriu na íntegra. Só saiu em 1979! Camilo Cienfuegos presenciou o julgamento de Huber Matos, entrou em uma aeronave militar e nunca mais se teve notícias dele. Che, pouco depois, renunciaria a seu status na Revolução e sairia a lutar mundo afora até virar San Guevara de la Higuera (!) na selva boliviana.

Fidel e Raúl tinham um projeto de poder pessoal e o estão realizando plenamente, graças ao regime comunista que faculta esse exercício de modo absoluto (não por acaso Cuba e Coréia do Norte se tornaram monarquias comunistas com sucessão por consanguinidade). E a resistência à tirania é o mais funesto dos sonhos cubanos.

Nota do autor: Estou ultimando uma segunda edição ampliada e atualizada de “Cuba, a tragédia da utopia”. Ela estará disponível nos próximos meses.

 

_______________________________
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Luiz R. Vilela -   13/02/2018 12:37:42

O sonho deles, é o estado como dono de tudo e eles como os donos do estado. Nos países de ideologia comunista, o sentimento de propriedade do estado nacional esta tão arraigado, que a transmissão do cargo de todo poderoso, passou a ser deixado como herança, ao herdeiro mais próximo. Fidel Castro após sua revolução, viu a economia do pais minguar e como já tinha "afanado" bens americanos, não teve condições de se relacionar com o Tio Sam. Teve que vender a alma aos soviéticos. Quando a União Soviética ruiu, ficou sem pai e sem mãe, penas com a autoridade que havia conseguido pelo medo. O "paredon" se encarregou de enquadrar a oposição. Agora é a Venezuela que se lança numa aventura, como se fosse um ônibus conduzido por um "chofer" maluco. O pior é que estas irresponsabilidades sobram é pra nós, contribuintes brasileiros, que a partir de agora teremos que nos responsabilizar pela miséria causada pelo bolivarianísmo. O Temer, rapidinho encontrou dinheiro para os venezuelanos.

Anico Oliveira -   13/02/2018 07:27:49

Como sempre digo, o PT só não conseguiu o queria porque a população não apoia suas idéias, caso ao contrário alguém duvida que só hipótese de acusar o Lula não causaria comoção nacional?

Odilon Rocha -   12/02/2018 23:41:41

Caro Professor No sensacional livro O CÓDIGO DA VIDA, cuja leitura eu recomendo, do ex-Minintro da Justiça, Saulo Ramos, figura que se retirou da vida política e do burburinho do momento, cujo destino confesso não saber se ainda vivo, ele declara abertamente, sem receio, que o Che só foi encontrado e liquidado em seu esconderijo na Bolívia porque o canastrão Castro o entregou à CIA. Castro se utilizou do fantoche Guevara, um idiota útil, e violento. Não entendo como pode ter se formado em Medicina.

Dalton Catunda Rocha -   12/02/2018 22:45:50

Eu escrevi isto:"Nem Lula e Dilma derramaram uma lágrima, pela morte do Barbudo caribenho. Fidel Castro morreu numa Black Friday pois, Deus ofereceu Fidel Castro, ao Diabo, com 99% de desconto, comparado ao preço antes da Black Friday. E tudo pago em pesos venezuelanos, em suaves prestações fixas; a primeira prestação só no ano que vem." > https://www.youtube.com/watch?v=v4BW1gDTrIw

Rubens Mazzini Rodrigues -   12/02/2018 02:52:50

Mais um excelente artigo. Parabéns! É realmente impressionante como pessoas, algumas muitas vezes até com bom nível de instrução e intelectual, conseguem se deixar iludir pelas "maravilhas" da revolución cubana e ainda aceitam, pacificamente, a versão de que a culpa de tudo o que vai mal em Cuba é o famoso "bloqueo", referindo-se ao embargo norte-americano, do qual Fidel e seus defensores sempre enchem a boca para falar. Gostaria que em próximo artigo você abordasse a farsa dessa justificativa do "bloqueo".

Ismael de Oliveiira Façanha -   11/02/2018 23:09:23

Fidel Castro era um falastrão, o regime que impôs aos cubanos, era uma falácia. É típico o falastrão, dos comícios intermináveis, ser também falaz, um enrolador astucioso, capcioso, - Fidel soube enganar "deus e meio mundo" por dezenas de anos. Hoje, nem o Chico Buarque tem coragem de defender o organismo político vigente em Cuba. Até os gangsters americanos governaram melhor aquele povo infeliz, nos tempos de Batista.

Edson Nogueira de Sá -   11/02/2018 22:51:37

Puggina,,,,,,,vc sempre,,,,,,bem na "mosca",,,,,,,Fídel,,,,enganou todo o mundo assim como o lula enganou os maus informados,,,,,,Fídel como o lula, tinham tudo para serem os administradores da américa,,,,,,mas suas megalomaníacas,,,,,,,,os envolveram, e deu no q deu,,,,,,,prejudicaram toda suas nações.. ( Gostaria de um dia tomar uma grapa contigo ). rsrsrsrs