• Percival Puggina
  • 14/09/2020
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A POLÍTICA NO RESPIRADOR ARTIFICIAL

 

 Tendo recebido aviso de que estava aberta no site e-Cidadania do Senado Federal enquete sobre a PEC 33, fui imediatamente dar meu voto contra. Essa proposta de emenda à Constituição tem por objetivo atender os anseios de uma banda não muito perfumada do nosso Congresso. Encaminhada por uma senadora, a medida pretende instituir a possibilidade de reeleição das mesas do Senado (Davi Alcolumbre) e da Câmara (Rodrigo Maia). Ou seja, é uma emenda casuísta que só irá estimular, no comando dos poderes, o clientelismo que os constituintes quiseram evitar. A informação que recebi dava conta de a rejeição estar em 99%.

 Coincidentemente, no exato momento em que uma enquete que visa a informar sobre a adesão ou rejeição popular a proposições legislativas batia todos os recordes de reprovação, deparei-me com o aviso de que “A ferramenta de Consulta Pública está em manutenção para correção da exibição da ementa e autoria das proposições”. Existem coincidências que derrubam todas as probabilidades e mandam o desvio padrão para outra galáxia.

 Não sei se, como, ou quando a enquete retornará. Tenho aí, porém, mais uma evidência dos inestimáveis serviços que a pandemia vem prestando aos abusados e aos abusadores da República. Com a falta de plenário, com sessões virtuais, com os canais da Câmara, do Senado e do STF dedicados a morféticos déjà vus, a política foi para o home office.

 Na falta do contraditório, do debate, do aparte, a atividade política sai das mãos de quem recebeu apoio popular nos entrechoques eleitorais e vai para os meios de comunicação, que fazem a “política” deles mesmos, organizando programas em conformidade com suas conveniências. Assim tem sido ao longo deste quase inteiro ano de 2020, ano em que a política foi para o respirador artificial.

 O que mais se vê, nestes muitos meses, no Congresso e no STF, são irreais sessões virtuais transmitidas em quadrinhos. Nelas, os intervenientes falam desde o aconchego de seus lares em ambientes blindados à reação alheia. Maia e Alcolumbre não contavam com ambiente tão propício! Em quase impotente contraposição, políticos, movimentos, cidadãos, organizam Lives para fornecer algum oxigênio aos pulmões da política, promovendo um mínimo de contraditório sem o qual tudo fica com jeito cubano.

 O silêncio tem sido o som da política nas ruas, nos plenários. Silêncio do povo e seus representantes. Para sua reflexão, estimado leitor:

Dentre os poderes constitucionais – legislativo, executivo e judiciário – quais os que se estão beneficiando desse silêncio de UTI para visíveis exercícios de autoritarismo e manipulação?

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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Integrante do grupo Pensar+.

 


Luiz R. Vilela -   15/09/2020 20:57:37

Seria este respirador artificial, um daqueles, comprado com valor super faturado, e que já tem governador com pescoço a espera da lâmina da guilhotina? Pois é! Neste Brasil que já foi juvenil, varonil e agora aparenta estar senil, tudo é levado para o lado da galhofa, fazendo com que políticos inexpressivos de estados totalmente periféricos e irrelevantes, como este presidente do senado, passem a se achar os pais da pátria. Não sei quantos votos teve este Davi Alcolumbre, para ser eleito senador, mas sei que os votos recebidos por ele e por Rodrigo Maia, presidente da câmara, foram ínfimos, não daria para eleger um deputado federal em São Paulo. A democracia que se alimenta de votos, esta neste caso em estado de desnutrição. Não é possível que por conchavos políticos, a mediocridade passe a gerir um pais continental e cheio de problemas. Os interesses corporativos ou individuais, prevalecem e a democracia fica claudicante e com cara de anarquia. A verdade é que a política no Brasil, tomou rumo diferente, daquele que é sua finalidade, ou seja conduzir o povo ao desenvolvimento, mas que por cá, se tornou fonte de enriquecimento dos seus participantes. A política no Brasil, a muito deixou de cumprir a sua finalidade, então já seria dispensável e quem sabe, descobrir um maneira melhor do relacionamento na sociedade.

Enio Sandler -   14/09/2020 20:15:14

Querido Puggina Gosto muito do estilo das crônicas do GUZZO e acho que estás melhor do que ele. Sei que és contra, mas por mim daria um destino mais rápido para estes encastelados se encontrarem do Deus, ou o diabo.

ROBSON SENA VIANA -   14/09/2020 16:27:13

Exatamente isso que vem ocorrendo, caro amigo.