Percival Puggina
Desde o início da pressão para o impeachment da presidente Dilma, há sete anos, participo das muitas manifestações verde-amarelas aqui em Porto Alegre. Acompanho e me integro aos esforços de mobilização. Torço por um clima favorável. Contribuo com a caixinha que habitualmente percorre a multidão coletando recursos para cobrir os gastos de organização. Em todos esses eventos, por deferência carinhosa dos promotores, sou chamado a me manifestar.
Sei do que falo, portanto, quando menciono o sonoro silêncio da mídia sobre cada um deles. Vivi toda essa história e sou testemunha de ser ela motivada por consistentes razões, estrito amor à pátria, defesa de princípios e valores que, com o tempo, se revelaram majoritários na sociedade brasileira. Da grande mídia, quase nenhuma, ou nenhuma referência. Notícias eventualmente publicadas minimizavam os eventos, afastavam-se do essencial, por significativo que fosse; desconheciam os objetivos e fixavam-se em um ou outro cartaz nos quais descarregavam sua animosidade.
Por isso, afirmo sem medo de errar que essa má vontade nada tem a ver com Bolsonaro. Nada!
Começou antes de ele surgir na cena, continuou depois e sempre teve como objetivo criar dificuldades à erupção de uma força política antagônica à hegemonia esquerdista instalada no país desde os tempos em que o jovem arrogante e estouvado Fernando Collor foi destituído da presidência. A hegemonia que desde então se instalou deu tempo para Collor se tornar um idoso senador da República e para o Brasil arruinar nas mãos da esquerda.
A campanha pelo impeachment do atual presidente, impulsionada, como impulsionados foram a criação da CPI da Covid, o “fecha-tudo” e o “fique-em-casa”, tem muito menos a ver com Bolsonaro e muito mais a ver com a ojeriza ideológica a conservadores e liberais. O passado recente evidencia-o de modo convincente e o passado mais remoto conta como tudo foi sendo construído no jornalismo brasileiro, no ambiente cultural, nos sindicatos, na administração pública, nas igrejas cristãs, em todo o sistema de ensino, e onde mais você possa imaginar.
Acompanho as notícias sobre as recentes mobilizações vermelhas com que os reds pretendem retornar ao ninho do Planalto e as comparo com o modo como os mesmos veículos fazem a cobertura das mobilizações verde-amarelas. A Globo chegou ao desplante de exibir as gigantescas concentrações do dia 7 de setembro com a tarja “Manifestações antidemocráticas”. Aos atos chochos da esquerda estão abertos espaços à divulgação prévia, bem como às agendas, horários e locais, cidade por cidade. Há matérias de redação sobre o coquetel de finalidades que vão da “luta pela democracia” e do “combate à corrupção” ao desejado “impeachment”.
A mídia madrinha cuida de seus mimosos...
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Sandra Maria Z Monteiro - 05/10/2021 11:58:21
Meu Deus! Quanta clareza e consciência dos fatos, ler esta matéria foi como ver uma luz se ascender no meu cérebro. Muito obrigada.Maria Adelaide Negreiros - 05/10/2021 10:05:11
Verdadeiro e atualíssimo o comentário de Juca Chaves sobre a Imprensa: " A imprensa é muito séria, se vc pagar eles até publucam a verdade".Menelau Santos - 05/10/2021 09:37:02
Prezado Professor, seus textos nos dão uma visão mais abrangente do que uma análise mais pobre momentânea que por vezes temos da situação. Aproveitando, é engraçado como a nossa grande mídia se especializou em picuinhas. Banalidade das banalidades, tudo é banalidade! E o nosso STF? É 10 dias para o Presidente dizer quando vai chover, 10 dias pra dizer quando vai ter vacina, 10 dias pra dizer se vai ter futebol. Eles levam décadas pra julgar qualquer coisa, mas para o Presidente tudo tem de ser resolvido em 10 dias.Josselei - 05/10/2021 09:30:59
Maus um excelente artigo. Nos faz pensar até onde iremos nesse desatinoDimas Nascimento - 04/10/2021 16:20:13
Prezado Sr. Puggina, sua visão sobre os fatos é auspiciosa e muito me inspira. O que me intriga é o fato de conhecer pessoas boas, cultas que se entregam de corpo e alma as narrativas desta grande midia, um fenômeno mundial. Como classificar este comportamento e quando mudará?