• Percival Puggina
  • 18/12/2018
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A GRANDE IMPRENSA EM CRISE DE CONFIANÇA

 Em 2015 compareci a um almoço dos colunistas de Zero Hora. Era um evento de confraternização com a direção da empresa. Mesmo sendo colunista da edição dominical havia nove anos, não tinha ideia de que fossem tantos os meus colegas naquele ofício de rechear com opiniões pessoais as edições do jornal. Eu fora contratado em substituição ao amigo Olavo de Carvalho imediatamente após seu rompimento com o veículo em 2006.

 Pois bem, ao término do almoço, iniciou-se uma brincadeira. Dois repórteres, de modo aparentemente aleatório, escolhiam colunistas para ouvi-los sobre assuntos variados. Fui um dos convocados e a pergunta me veio assim: “Puggina, Zero Hora é um jornal de esquerda ou de direita?”. Todos riram, e eu também, pela oportunidade que a indagação me proporcionava. Respondi: “O jornal, diferentemente do Estadão e da Folha, por exemplo, não tem um alinhamento editorial nítido. No entanto, pelo somatório das opiniões dos colunistas, acaba sendo claramente de esquerda”.

Era o que eu pensava e penso ainda hoje, quando não mais escrevo para ZH, ao ler cada exemplar do jornal. Na ocasião, após os risos e restabelecido o silêncio, continuei: “Essa, aliás, é a opinião do próprio jornal. Leitores me contam que ao telefonar para reclamar do viés esquerdista de ZH, ouvem da pessoa que os atende o esclarecimento – ‘É, mas tem o Puggina’”... E completei: “Eu sou o pluralismo de Zero Hora”. Seguiram-se muitas gargalhadas entre as quais discerni alguns poucos aplausos.

Menciono esse curioso episódio porque ele tem muito a ver com algo que já então fazia parte de minhas pautas preferidas: o uso da imprensa profissional, dos grandes órgãos de comunicação, para atender conveniências ideológicas e partidárias. E note-se, para atender menos às respectivas empresas e mais, muito mais, ao paladar político de seus redatores e colunistas permanentes. O resultado é uma perda de poder dos veículos, que veem reduzida sua credibilidade e influência.

A posição unânime de todos os profissionais da RBS, em rádio, jornal e TV, a favor da manutenção da exposição do Queermuseu foi episódio paradigmático no Rio Grande do Sul. Lembro o modo vigoroso como se opuseram à imensa maioria da opinião pública que, pelas redes sociais, exigiu do Santander Cultural o fechamento da mostra. Como exibiam tais conteúdos sem restrição de faixa etária? Ficou visível, ali, a estupefação. Foi como se, de um modo ou outro, todos exclamassem: “Que é isso? Não nos ouvem mais?”. Não.

Recentemente, dois jornalistas pelos quais tenho admiração – J.R. Guzzo (Veja) e Carlos Alberto Di Franco (Estadão), comentaram a cegueira da mídia convencional em relação ao que se passava na cabeça dos brasileiros durante o período eleitoral. A grande mídia estivera empenhada numa luta do bem contra o mal. Seus jornalistas sustentavam que Bolsonaro não teria a menor chance. Apoiados nas desacreditadas pesquisas, afirmavam que ele perderia para todos no segundo turno. Insistiam em apresentar Lula como um candidato imbatível, impedido por isso mesmo de concorrer. Calavam sobre sua condição de criminoso sentenciado, que usou o processo eleitoral para uma derradeira fraude. Segundo Guzzo, comunicadores brasileiros “tentaram provar no noticiário que coisas trágicas iriam acontecer no país se Bolsonaro continuasse indo adiante”. E eu completo: dir-se-ia, ao lê-los, que ele ameaçava um seguro convívio social e um benemérito círculo de poder.

“É preciso informar com objetividade. Esclarecer os fatos sem a distorção das preferências e dos filtros ideológicos”, escreveu Di Franco em “Imprensa, autocrítica urgente e propositiva”. É o que também penso enquanto observo o crescimento vertiginoso da democratização da informação através das redes sociais. Tenho cá minhas dúvidas, muitas dúvidas, sobre se a perversão das fake news, recorrentes nessas novas mídias, é mais nociva do que a ocultação dos fatos, a maliciosa seleção das matérias e do vocabulário, e a distorção das análises, em tantos veículos da mídia tradicional.

Ou fazem esse autoexame ou serão desbancados pelos veículos, entre os quais grandes talentos profissionais e sucessos empresariais já se afirmam.

* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


Dalton C. Rocha -   19/12/2018 19:33:51

"Mais do que tudo, talvez, a mídia não chegou nem perto de entender uma realidade evidente: a maioria do público brasileiro, nos dias de hoje, pensa basicamente o contrário do que pensam os jornalistas e os donos dos veículos de comunicação. Tem valores opostos aos dos comunicadores. Aprova o que a mídia condena. Condena o que a mídia aprova. É a favor da polícia, que a imprensa considera inimiga dos pobres, e contra os bandidos, que os jornalistas consideram vítimas da injustiça social." > https://www.averdadesufocada.com/index.php?option=com_content&view=article&id=16659:a-midia-diante-do-publico&catid=54&Itemid=103 Sobre educação, a Folha de São Paulo publicou um artigo sobre educação, no dia 27/11/18. Eis abaixo, alguns dos comentários ao tal artigo: “Afinal, o modelo vigente é tão "extraordinário" que faz com que o Brasil lidere - de trás pra frente - os rankings de avaliação do ensino no mundo, que tenhamos altos índices de abandono escolar e de jovens em séries desproporcionais a sua idade. Uma mudança radical neste curso idiotizante precisa ser implantada. As esquerdas fazem pose de bonzinhos e de vítimas, mas a radicalização vinha se agravando, parindo o famigerado kit gay e enfurecendo pais, pastores, padres e outros educadores. A cada reação ocorre reação em sentido contrário, e assim, a origem dessa radicalização de Direita, que se generaliza, é a própria ação cultural da esquerda há muitos anos, que não faz autocrítica e culpa sempre os outros. A esquerda tentando relativizar seus crimes. Não existe diálogo em muitos ambientes escolares, mas doutrinação simples. Como resultado temos a disparada de gravidez precoce (20% de partos de adolescentes) no Brasil, acompanhando de modo extremamente paralelo a ascensão do marxismo cultural no País e suas pregações em sala de aula, de sexualização precoce, banalização do ato sexual e glamorização do uso de drogas. Isso são fatos reais e comprováveis e não serão acobertados com blá-blá-blá. Como a Sra afirma que existe diálogo nas nossas escolas? Eu as conheço e afirmo que não. Ademais, a disparada de gravidez precoce acompanha de modo extremamente paralelo a ascensão do marxismo cultural no Brasil e suas pregações, em sala de aula, de sexualização precoce, banalização do ato sexual e glamorização do uso de drogas. Você está invertendo fatos reais e comprováveis. De um lado, País e parlamentares tentando impedir doutrinadores esquerdistas ensinar o que aprenderam sob a cartilha comunista. De outro, parlamentares e doutrinadores querendo conservar os alunos com suas presas. Com relação ao colégio Dom Pedro II, numa exposição esquerdista, país foram coagidos por militantes terroristas. Vá no YouTube e vejam as imagens. Não é escola sem partido. É escola sem doutrina esquerdista. Ser representada por instituições como estas explica a decadência da educação brasileira. Sindicatos e fanáticos ideológicos tentando barrar a limpeza da sujeira deixada pelo PT e sua gangue. Eu sou a favor da escola sem partido, sem pregações religiosas ou qualquer outro meio que, infelizmente, alguns pseudo- educadores tentam impor aos nossos filhos adolescentes. A tarefa educacional, quer ideológica, religiosa ou outras similares, incumbe à família. Como pai de adolescentes que já foram vítimas de predadores marxistas em sala de aula, exijo o meu direito de saber exatamente tudo, on line, o que acontece realmente com minhas filhas quando na responsabilidade de terceiros, inclusive do Estado. Qualquer intenção de me privar disso é crime óbvio, clara demonstração de má fé e indício de ilegalidade e imoralidade por parte de aproveitadores de seres humanos emocionalmente frágeis. Se você quiser checar o quanto esta reportagem é mentirosa e tem o objetivo de te desinformar (e se não tiver sido doutrinado pelo marxismo) poderá facilmente confirmar a verdade que acontece nas escolas brasileiras apenas conversando com alunos ou assistindo uma dessas gravações "criminosas"; tentam tão somente criminalizar a prova de sua sordidez, da mesma forma que tentaram criminalizar Sergio Moro e o MP do Paraná. Sr Guilherme, não se comporte como um ignóbil. É óbvio e ululante que me refiro a ambiente profissional e não íntimo, onde seres humanos frágeis e com personalidade em formação estão sob tutela de adultos que podem ser, definidos por estatística simples, psicopatas, abusadores, etc. Todos os pais tem o direito absoluto de saber exatamente o que os tutores e o Estado estão fazendo com seus filhos, isso é viver numa sociedade com o mínimo de liberdade. Marxistas acham que não. Nesta reportagem vemos os agressores marxistas usando a mesma tática que em salas de aula, de vitimização e agressão moral, invertendo os fatos e se fingindo de agredidos. Se na sala de aula adultos predadores marxistas disfarçados de professores humilham estudantes liberais, postos como egoístas perante a turma, na reportagem os agressores tentam passar a ideia de que o Escola sem partido quer censurar ao invés de querer proteger crianças e adolescentes de uma doutrinação covarde. O Guilherme mente loucamente. Minha fé não é religiosa, é liberal, acredito na liberdade do indivíduo como pré requisito da existência humana digna, e a descrição que ele cita do que ocorre nas escolas é falsa e pode ser facilmente desmentida com averiguação simples.” > https://comentarios1.folha.uol.com.br/comentarios/6091841?skin=folhaonline e outro site. Várias correções ortográficas feitas, por mim.

Odilon Rocha -   19/12/2018 12:30:31

Caro Professor Já, há um bom tempo, comentei com o senhor sobre a estratégia oculta por trás das fakenews. Sem dúvida, uma ferramenta para justificar a censura, se não, a intimidação.

FERNANDO A O PRIETO -   19/12/2018 12:23:55

Mais um bom e interessante artigo! Realmente, a mídia nacional está cheia de "entendidos", "especialistas" e "sábios" que só sabem fazer propaganda e divulgar chavões que servem ao Gramscismo e práticas culturais deformadas semelhantes...É raro poder ler texto de alguém como os citados (J. R. Guzzo, Carlos Alberto di Franco,...) na imprensa nacional... Mesmo na imprensa mundial, a quantidade de textos que servem a idéias daninhas (Ideologia de gênero, globalismo, "vitimismo", "coitadismo", e outros males) é bastante predominante... Lutemos o quanto pudermos, com os recursos a nosso alcance, contra tudo isso , que não é senão o Mal disfarçado de Bem... De boas intenções está o Inferno cheio!

Sérgio Luiz Zoppas -   19/12/2018 09:56:15

Brilhante como sempre. Um grande abraço.