• Percival Puggina
  • 23/02/2019
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A ESSÊNCIA DO CONSERVADORISMO (COMO O VEJO)

 

 Tendo surgido na história do pensamento como uma reação de civilidade à Revolução Francesa, o conservadorismo preserva, até hoje, essa característica essencial. No livro “Crítica à Revolução Francesa” (1790), Edmund Burke assinala a diferença entre o caráter destrutivo desta e o desejo de criar uma ordem que havia caracterizado a guerra pela Independência dos EUA (1776). Esta marca de natureza fica muito clara no preâmbulo da Constituição que a seguir produziram. Nele, os constituintes da Filadélfia afirmaram o propósito de assegurar, além de outros, a perfeita união, a justiça, a tranquilidade doméstica e a defesa comum, ou seja, a criação de instituições para uma Ordem.

 O grande adversário do conservadorismo é o voluntarismo político que inspira as ações revolucionárias destruidoras da ordem e conducentes ao caos. Se possível, assista o filme Trotsky; se não puder, pondere, ao menos, o quanto a mobilização da opinião pública que promoveu as recentes mudanças políticas no Brasil convergiu para o candidato mais visivelmente comprometido com o combate à criminalidade, à impunidade e à desordem geral instaurada no país. A sociedade percebeu que se extinguia a ordem, que se haviam formado estados paralelos e que uma revolução estava em curso. Era uma revolução feita com armas dos criminosos e com penadas da Justiça, com corrupção e mentiras, com mortandades e sentenças, impunidade e leniência, disputa de território e terrorismo. O conservador sabe que a vida em sociedade exige uma ordem que corresponda, tão amplamente quanto possível, ao bem de todos.

 Quando os governos de esquerda começaram a fatiar a sociedade brasileira em um sem número de frações e a instigar rivalidades, estavam eles dedicados à tarefa inversa, à de construção do caos. 

 Isso por um lado. Por outro, o Conservadorismo pressupõe uma relação muito íntima com algo que aparece na Declaração de Independência dos Estados Unidos. Refiro-me às verdades autoevidentes (self-evident) nela mencionadas, ou seja, que somos criados iguais e fomos dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a busca da felicidade.

“We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.”

Não há muito mais a ser dito, exceto afastar a ideia errada que caracteriza o conservadorismo como apego à tradição, ao passado e rejeição à mudança. É frágil a amarra do conservadorismo com o que ficou para trás; o futuro é desejável, ora essa! Eu quero o meu! Já não é muito, mas é meu. O puro e cego apego à tradição é reacionarismo. É querer que nada mude. O conservador, ao contrário, pressente a mudança, mas não a acolhe como reitora definitiva da História. Na mudança, a grande maioria dos conservadores reconhece a importância das boas Instituições (as nossas são péssimas, como bem sabemos), da Família, da Educação e da Religião, e se empenhará em preservar aquelas verdades autoevidentes e aqueles direitos inalienáveis, importantes à desejada ordem, esta sim, marco firme de suas escolhas sociopolíticas. 

O conservadorismo é irmão gêmeo do liberalismo econômico, com o qual compartilha as ideias de não intervenção estatal na economia, liberdade de mercado e direito de propriedade.

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


FERNANDO A O PRIETO -   24/02/2019 17:25:01

Mais uma vez obrigado pela clareza e concisão! Poucas vezes idéias tão relevantes e profundas foram tão bem expostas, em um texto relativamente curto. Esclarece bem o que os "conservadores" (entre os quais certamente eu me incluo) querem conservar. Não se trata de imutabilidade de comportamentos e conceitos (o que, nesta vida terrena, seria impossível, pelo caráter imperfeito da própria natureza humana), mas de avançar a caminho da concretização de ideais e modos de ser que são perenes, por serem, em seu início, de procedência divina. O fato de que somos deficientes e que, sem o auxílio de Deus, não conseguiremos essa concretização não nos deve fazer abandonar a tentativa de procurá-la, pedindo esse auxílio! Qualquer outra tentativa de implantar outros valores, para criar "o paraíso na Terra", a "Idade de Ouro", a "Nova Era", a "Idade de Aquarius" e coisas assim resultou em sociedades ainda piores (p. ex,. as teorias de Marx, Gramsci, Marcuse e outros...

André Ambrosio Abramczuk -   24/02/2019 11:49:07

Exemplo de lucidez esse artigo, professor! Conservadorismo não é esclerosamento retrógrado, como os esquerdopatas querem nos fazer crer.

Dagoberto Godoy LIMA GODOY -   24/02/2019 11:36:37

Admirável pela sabedoria e concisão. Salve mestre Puggina!

EDISON BECKER FILHO -   24/02/2019 01:59:18

O que mais gosto é a clareza com que aborda seus temas. Alimento que adoro degustar.

Menelau Santos -   23/02/2019 20:25:36

É irônico como as esquerdas, defendendo a todo tempo a igualdade, tem no seu "modus operandi" o resultado oposto. Aliás, curiosamente, a última frase do trecho da declaração da independência citada pelo Professor, "Persuit of Happiness" é o título de um filme maravilhoso protagonizado pelo ator Will Smith, onde mostra o Estados Unidos como país de oportunidades para todos, desde que você se esforce. O título é intencionalmente grafado incorretamente -- "Happyness" --- em alusão ao texto original de Lemuel Haynes, conforme o site IMDB.

Alfredo -   23/02/2019 16:09:57

Sempre muito claro nos conceitos. Uma verdadeira aula. Parabéns!.

Odilon Rocha -   23/02/2019 13:42:25

Caro Professor Sempre uma grande lição e esclarecimento. Artigo magistral. Infelizmente há liberais que só focam o lado econômico. Parecem, ao menos para mim, estar extremamente preocupados apenas com o mercado. Sociedade sem prumo, mercado sem rumo. É quando um irmão trai o outro, embora gêmeos.