O crescimento da economia brasileira na era Lula é tema recorrente na retórica do lulismo. Com efeito, no início do governo Dilma, o Brasil superou o Reino Unido e se tornou a sexta maior economia do planeta em números absolutos. Como isso aconteceu? A pergunta, aliás, me foi feita por um jovem que queria saber como responder a um colega que se valia desse fato para exaltar o governo petista. Sugeri a ele que desafiasse o colega a indicar três providências adotadas por Lula para obter tal resultado.
Trata-se de uma pergunta sem resposta possível. O crescimento da economia brasileira na era Lula resultou da combinação de dois fatores que nada tiveram a ver com seu governo. De um lado, o consistente superávit fiscal alcançado a muito custo e sob cerrada oposição petista no período anterior; de outro, o formidável ingresso da China como compradora no mercado de commodities. Na virada do milênio, assim como cresceu a economia brasileira, cresceram, também, todas as economias periféricas graças a um inusitado aumento, simultâneo, dos volumes exportados e dos preços das mercadorias.
No entanto, o que foi causa de muita alegria deu motivo às atuais tristezas. Na prosperidade, nascia um novo Lula, cheio de si, convencido, como o galo Chanteclaire, de que o sol nascia porque ele cantava. A pessoa física de Lula era a causa da prosperidade nacional. Com ele, a vida seria sempre assim. O Brasil teria cadeira no Conselho de Segurança, sentaria entre os grandes da Terra, ele presidiria a ONU. Morria o Lula dos humildes e nascia o dos poderosos.
Quando a economia mundial foi varrida pelo tsunami causado pela crise do subprime, Lula rejeitou todos os chamados à prudência e à moderação. Descartou medidas de contenção dizendo que aquela crise, aqui, seria apenas uma marolinha. O Brasil era maior do que a crise. Para ilustrar a situação com apenas dois dos muitos excessos de nouveau riche que acometeram os governos petistas, em 2007 Lula foi buscar a Copa de 2014 e, em 2009, contratou os Jogos Olímpicos de 2016.
Para manter a galinha em voo, o endividamento voltou a crescer, os juros a subir, a inflação retornou aos dois dígitos e o governo deitou mão, inclusive, do cofrinho das aposentadorias dos fundos de pensão das estatais. O Estado inchou, a galinha engordou, as asas desistiram de bater e o PIB despencou 10,4%.
Esses são os fatos. Se há algo que se possa atribuir a Lula em relação à economia brasileira são as consequências de uma gestão irresponsável no desenrolar de seu segundo mandato (2007-2011) e a igualmente leviana indicação de sua estabanada sucessora.
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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
Áureo Ramos de souza - 24/04/2018 21:30:21
É que o buraco ão era mais em baixo, vinha de cimaSandro Moreira Mattar - 23/04/2018 18:52:07
A Guerra do Iraque e a consequente queda do dólar também ajudaram o cenário econômico brasileiro nesta época.Antonio Augusto d´Avila - 23/04/2018 13:39:31
Realmente, os ventos internacionais foram de popa, porém, em grande parte o crescimento econômico se deu à custa da expansão (irresponsável) dos gastos públicos e no incentivo ao endividamento e consumo das famílias. Duas armas que fazem sucesso de imediato , mas são trágicas no longo prazo. Há 2 anos, o Tesouro Direto era a melhor aplicação para os rentistas, sem qualquer risco, que servia para financiar a farra de gastos e retirar recursos para investimentos. Sem contar os custos (juros e principal) lançados para o pobre pagar em razão da nossa carga tributária criminosamente regressiva.Armando Micelli - 22/04/2018 23:06:31
Muito bem Puggina. Simples e bem no alvo. Parabéns.Velasco - 22/04/2018 11:08:02
Parabenizo o Prof. Percival Puggina pelo extraordinário texto esclarecedor e excelência de suas matérias postadas, dando um verdadeiro show de lucidez, conhecimento das situações, e dos fatos abordados.Marcus - 21/04/2018 22:14:12
Não tente ensinar os burros a pensar. Você vai se cansar e o que é pior, você irrita elesFlavio Gay da Cunha - 19/04/2018 15:30:23
Excelente. Análise perfeita.ODILON SILVEIRA SANTOS ROCHA - 19/04/2018 10:50:18
Caro Professor Gestão irresponsável, sim, mas deliberada, com objetivos bem claros.