• Percival Puggina
  • 23/01/2021
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A DECADÊNCIA CULTURAL DA EUROPA. E O BRASIL?

Percival Puggina

 

            Durante anos, interrompidos agora pela covid-19 e suas cautelas, tive a graça de, com minha mulher, viajar de carro em roteiros europeus conhecendo centros históricos, cidades medievais e catedrais góticas. Foram verdadeiros encontros de comunhão com nossa cultura e com as raízes ocidentais do cristianismo, deixadas para nosso proveito num tempo em que os povos faziam arte para Deus. Em 2010, numa viagem pelos Alpes, comentei com minha mulher: “Depois de tanto ver belezas que os homens ofereceram ao Senhor, aqui estamos embevecidos com a insuperável beleza que Ele ofereceu aos homens”. Nos Alpes se sente a mão de Deus fazendo paisagismo.

         Nessas ocasiões, atravessamos cidades e vilas, fugindo das autoestradas para melhor conhecermos o interior dos países e de suas regiões. A sequência era sempre esta: rodava-se no meio rural, chegava-se à periferia de transição, com casas simples, mas todas abastecidas de lenha para o inverno (quase sempre guardada sob um telheiro na frente de casa); entrava-se no meio urbano e saia-se numa repetição da cena anterior, voltando ao ambiente rural. Nunca vimos malocas. Nunca vimos miséria. Recentemente, porém, a Europa começou a mudar.

         Não vou entrar na polêmica questão das causas da mudança. Quero apenas lembrar que esse continente, muitas de suas catedrais, de seu patrimônio material e sua economia foram destruídos por duas guerras no século passado. A fome era endêmica e se prolongou pelos anos 50. Anos de reconstrução! Quem conviveu com europeus oriundos desse período percebe o valor que dão a qualquer alimento. E ao trabalho.

         O que me deixa perplexo é ver o pacífico Brasil, encalhado na superfície de problemas que precisaria resolver para desfrutar do privilégio de viver uma vida boa em ambiente nacional tão bem dotado para isso. A reconstrução da Europa ocorreu graças à qualidade de seus recursos humanos, à sua cultura, ao valor que seus povos atribuem à Educação e às suas boas instituições políticas. A maior fonte de riqueza de um país é a atividade criativa e produtiva de seu povo.

         No Brasil desconsideramos nossas questões institucionais, exceto para falar mal delas, como se lhes coubesse dar jeito em si mesmas. Não atribuímos importância à nossa educação. Toleramos sua instrumentalização. Admitimos que o sistema se desinteresse pelo futuro de quem encerre ali seu ciclo de estudos. Fingimos não ver o quanto o sistema induz a estudar o mínimo (o que mais adiante equivale a tentar vencer na vida sem se esforçar). Estudar cansa. Ler é chato. Chegamos à cultura do lixo musical, do feio, do hediondo, do satânico, do “som”. E à morte da beleza, da harmonia e da poesia por indigência e abandono.

         Certa feita, falando sobre isso num programa de TV, chamei de lixo o conteúdo musical geralmente disponibilizado nos meios de comunicação e colhi resposta indignada de um telespectador que me “insultou” chamando-me  “crítico de arte”. Quem era eu para dizer se algo era arte ou não? Respondi felicitando-o pelo esplêndido dom com que fora agraciado. Para ele, tudo que chegava aos seus ouvidos era música e poesia. Fosse batida de porta, panelaço, motocicleta com descarga aberta, ou caminhão subindo a lomba.

         Há problemas de concepção num sistema que prioriza os investimentos federais num ensino superior em que a mais bem conceituada universidade brasileira é a 115ª do mundo, a segunda melhor já pula para o 233º lugar e a terceira vai ao 380º lugar. Só para manter a roda girando estamos graduando milhares de jovens em cursos universitários de pouca ou nenhuma utilidade para eles mesmos. Esses problemas se revelam maiores quando se vê a posição do estudante brasileiro nos ensinos fundamental e médio. Entre 79 países, o Brasil alcançou, em 2018, o 57º lugar em leitura, 64º em Ciências e 70º em matemática. E viva Paulo Freire!

 

* Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


MARIA THOMPSON ALVAREZ DE CARVALHO -   27/01/2021 14:45:41

Excelente texto. Verdades irrefutáveis. O problema é que a maioria sequer desconfia da nossa triste realidade.

Jose Luiz -   25/01/2021 15:05:30

Realmente esses são os frutos que estamos colhendo da educação que foi delegada a esquerda brasileira. Após 64 o governo militar, ingenuamente entregou as universidades, o jornalismo para a esquerda, deu no que deu. Propositalmente é essa a verdadeira intenção de emburrecer a juventude. A decadência da educação no Brasil não é de hoje. A teoria conspiratoria de Antonio Gramsci ocupou todos os espaços nas universidade brasileira, visando a doutrinação para Hegemonia Cultural. O resultado é um contingente de analfabetos funcionais, formados em escolas de "nível superior" com conteúdos sem nenhuma finalidade, que só serviu para encher os bolsos dos donos das redes de escolas espalhadas por todo canto. Temos que reconhecer que não só Antonio Gramsci venceu, mas também Paulo Freire, tornaram a massa um bando de idiotas úteis.

LARRY DE CAMARGO VIANNA NASCIMENTO -   25/01/2021 14:16:26

E ainda querem a esquerda ladra(de tudo) de volta ao comando da país.

Paulo Monteiro -   24/01/2021 20:09:16

Excelente texto, Professor P. Puggina. Parabéns.

Elias -   24/01/2021 15:39:01

Muito boa reflexão parabéns..

Amelia -   24/01/2021 14:48:43

Muito bom texto vale a pena a leitura .

FERNANDO A O PRIETO -   24/01/2021 08:44:58

Excelente, e (infelizmente) verdadeiro, como sempre! Hoje, além de termos a ignorância se orgulhando de si (vide Lula) temos o ignorante que nem sequer se dá conta de que é ignorante. Não sabe que redes sociais NÃO educam nem elevam ninguém; não adianta mandar figurinhas pelooo Whatsapp e assemelhados para se aprimorar. Os ÚNICOS meios de adquirir cultura são a LEITURA de livros sérios e a CONVERSA (troca de idéias) com pessoas mais educadas que nós. Num tempo em que o "diálogo" se faz aos gritos e xingamentos, não há lugar par isso!

Antonio Bernardo Carneiro -   24/01/2021 07:55:40

À pouco tempo a viúva 1° primeira dama do demonio(pai do ensino brasileiros) esbravejar com as críticas verdadeira do presidente. Hora,,,va plantar batatas Sr,a.

José Paulo Moletta -   24/01/2021 03:18:24

O Sr está com a razão, basta prestar atemção no que escrevem como comentário, em Blogs, e nas redes sociais.

Luciana Spanamberg Leite -   24/01/2021 01:46:19

Perfeitas colocações ! Parabéns !

Samuel Francisco Lima da Silva -   23/01/2021 22:42:00

Prezado mestre Percival Puggina, como sempre, escorreito, belíssimo arrazoado que me fez viajar aos Alpes! Comungo da mesma percepção e, posso dizer? Da mesma insatisfação. Parabéns, meu nobre! Queremos o nosso país de volta!

Antonio Fallavena -   23/01/2021 22:15:08

Educação, ensino e cultura são coisas que precisam andar juntos, cada uma com seus responsáveis e a sociedade participe de tudo! E a primeira compreensão que os brasileiros, ou, pelo menos a maioria, precisam ter é de que ela começa em cada um. E temos de começar pela responsabilidade nas escolhas de nossos "agentes públicos". O, quem não conhece nada da política - como um todo, vota em quem e no que? A democracia pode ser o melhor dos sistemas mas, para funcionar, precisa de eleitores qualificados, minimamente, coisa que não temos. Eleitor incapaz = eleito incapaz. E por favor, não vamos esperar as melancias se ajeitarem na carroça. Democracia só funciona onde existe parcela da sociedade (maioria) com conhecimento, experiência, educação, ensino e cultura. Tente encontrar um país onde a democracia funcione sem estas necessidades básicas!

Lauro Vitor Patzer -   23/01/2021 21:09:19

Este artigo é um verdadeiro exame de ressonância magnética na atualidade do mundo e do Brasil. Eu vejo, por exemplo, com tristeza o rumo da cultura na Alemanha com a entrada de de milhares de estrangeiros, que, hoje, aos poucos, impõem a sua cultura e a sua religião. Não sou contra os estrangeiros, mas, cada nação deve ter o seu limite e respeito pelo seus costumes seculares. Parabenizo ao Percival pelo incisivo artigo.

Valterlucio Bessa Campelo -   23/01/2021 16:34:22

Em curso, a destruição de toda a cultura. Faz parte do great reset.

Menelau Santos -   23/01/2021 15:28:01

Prezado Professor, é isso mesmo. Sempre jogando luzes sobre nosso pensamento. É impressionante como no Brasil para melhorar as escolas sempre se falam em tempo integral e computador. Em outras palavras: dinheiro. No meu tempo havia a sala, a carteira e o professor (um excelente professor). O que unia vc e o mestre era a disciplina. Agora, de que adianta ficar 8 horas numa escola sendo doutrinado a ser esquerdista.

Reg -   23/01/2021 15:21:01

Na questão da Europa - e EUA - temos q o inverno mata, o q faz q as pessoas tenham q se mexer pra não morrer de: 1. frio; 2. fome. Qtos países de primeiro mundo são tropicais? Foi necessária tecnologia pra haver conforto nos países frios, idem em relação à alimento. Msm no brasilsilsil, quais os estados mais adiantados? Os estados onde faz frio pra caramba. A necessidade move as pessoas pra frente.

Renato Eraclides Pulz -   23/01/2021 14:42:58

Sempre prazeroso ler seus artigos. Faz-nos continuar acreditando em mudanças para melhor

José Pedro Granero -   23/01/2021 12:37:59

Cumprimentando-o como sempre esplêndido. Talvez algum dia este nosso país possa sair deste ambiente desfavorável, tendo em vista a mediocridade, imbecilidade e ignorância. Quando assim menciono em minhas reflexões Eles ficam bravos, continuando a assistir as novelas da Rede Globo, RBS Comunicações e seus jornalismos apodrecidos.