• José Nêumanne
  • 24/03/2009
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A CORRUP?O, AFINAL, AMPLA E GERAL

As den?as do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), primeiro em entrevista ?eja e depois em discurso na tribuna do Senado, n?trouxeram novidades de monta: qualquer brasileiro medianamente informado sabe (e sempre soube) que a corrup? campeia na gest?p?ca brasileira. E que o partido do parlamentar est?onge de ficar acima de qualquer suspeita nesse particular. No entanto, elas representam um divisor de ?as na pol?ca brasileira, n?pelo impacto que produziram, mas pela demonstra?, na pr?ca, de que a banaliza? do furto qualificado dos agentes p?cos n?desperta mais a ira de ningu? nem sequer a falsa indigna? dos acusados. Antes de Jarbas Vasconcelos (AJV), o gestor p?co acusado fazia um escarc? amea?a processar o denunciante na Justi?e contava com a inefici?ia e a lerdeza desta para deixar o esc?alo esfriar at?enecer. Agora a acusa? j?asce morta, na base de isso n??omigo, e da?e da?ou, ent? sou, mas quem n?? J??muito longe os tempos do moralismo udenista. Consta do anedot?o pol?co o aparte do getulista conhecido pela liberalidade com que lidava com os recursos p?cos em proveito pr?o a um discurso do colega deputado Carlos Lacerda na C?ra: Vossa Excel?ia ?m ladr?da honra alheia, disse. E o tribuno rebateu na hora: Ent? fique tranquilo, pois nada tenho a roubar de Vossa Excel?ia. Hoje a honra n?vale nem sequer como falso argumento de palanque. Pois o eleitor reelegeu com ampla margem um governo que institucionalizou a compra do apoio parlamentar no Congresso por um esquema descrito em detalhes pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) no livro Nervos de A? Este caiu no esquecimento, assim como o esc?alo do mensal? nele descrito, sob o falso argumento de que o autor n?era tamb?uma flor que se cheirasse. Se isso fosse verdade, a dela? premiada n?faria tanto sucesso l?ora e aqui mesmo, onde acaba de levar para a cadeia uma tenente-coronel da Pol?a Militar de S?Paulo. At?or escrever com conhecimento de causa, Roberto Jefferson deveria ter sido lido e levado em considera?. Pior ?ue se foi tamb?o tempo em que o falso moralismo da esquerda interessada no que restava de decoro no inconsciente coletivo do eleitorado nacional pelo menos for?a os governantes a tomarem um m?mo de cuidado na manipula? do or?ento. Caiu no buraco negro da insensibilidade moral generalizada a li? dada pelo juiz da 17.ª Vara Federal de Bras?a, Moacir Ramos, na senten?em que inocentou a c?a do setor de telecomunica?s do governo tucano anterior da corrup? grossa na privatiza? das telef?as de que foi acusada h?1 anos por l?res do PT e da CUT. O magistrado inocentou o ex-ministro das Comunica?s Luiz Carlos Mendon?de Barros, o ex-presidente do BNDES Andr?ara Rezende, o ex-diretor do mesmo banco Jos?io Borges e o ex-presidente da Anatel Renato Guerreiro - afastados do governo pelo chefe de ent? Fernando Henrique Cardoso. O juiz tamb?perguntou, referindo-se aos acusadores Aloizio Mercadante, Vicente Paulo da Silva, Ricardo Berzoini e Jo?Vaccari Neto, do PT e da CUT: Se havia preocupa? com a apura? dos fatos, por que esses nobres pol?cos n?interferiram junto ao governo atual para que fosse feita a investiga? das s?as den?as que apontaram na representa? que fizeram ao Minist?o P?co? N?consta que algum deles tenha respondido. Talvez seja exagerado sentir saudades daquele tempo em que um presidente da Rep?ca demitia auxiliares de confian? n?por hav?a perdido, mas apenas para ser fiel ao velho preceito da Roma antiga segundo o qual o gestor do patrim? coletivo deve ser tratado com o mesmo rigor que C?r dispensou ?r?a mulher: N?basta ser honesto, ?reciso parecer honesto. Mas ?til e l?to lamentar que o falso moralista de ontem se tenha transformado, como parte do PT se transformou, em usu?o comodista da lerdeza do Judici?o, a pretexto de recorrer, de forma desavergonhada, ao conceito tamb?romano do benef?o da d?a para o acusado por algum delito. Exemplar nesse sentido ? apoio que o presidente Luiz In?o Lula da Silva tem insinuado ao deputado Antonio Palocci (PT-SP) na campanha de 2010 para o governo do maior Estado da Federa?. Premido a demiti-lo do Minist?o da Fazenda por este ter sido acusado de alguns crimes, entre os quais a quebra do sigilo banc?o de um caseiro que o havia visto frequentando uma luxuosa casa suspeita, o chefe do governo conta com a magnanimidade do Supremo Tribunal Federal para lan?lo ao segundo posto de maior poder na Rep?ca. Foi isso, pelo menos, que ficou claro na declara? a respeito dada por outra pretendente ao posto, a ex-prefeita da capital Marta Suplicy. Com o mesmo pragmatismo com que se livrou de seu czar econ?o, pondo no lugar dele um companheiro muito menos capaz, Lula agora v?ele o nome ideal para governar o Estado de S?Paulo. De volta a nosso divisor de ?as, Jarbas Vasconcelos, a explica? para tudo isso a?ode estar na conclus?com a qual ele resumiu sua recente contribui? ?onstata? da amoralidade generalizada vivida no Brasil. A impunidade estimula a corrup?, disse o senador, para quem a falta de puni? gera mais e novas irregularidades. Se o governador, o senador e o deputado s?corruptos e nada acontece, as pessoas logo pensam que tamb?podem fazer corrup?. E quem n?gosta de uma corrup?zinha? Parece que chegamos ?ealiza? da profecia de S?io Porto, o Stanislaw Ponte Preta: Ou nos locupletemos todos ou restaure-se a moralidade. Como n?h?estaura? de moralidade ?ista, nem prevista, tudo indica que chegamos, afinal, ?emocratiza? da corrup? que agora agora virou ampla e geral, embora ainda restrita. * Jornalista e escritor, ?ditorialista do Jornal da Tarde