• Percival Puggina
  • 31/03/2019
  • Compartilhe:

1964 E A LIBERDADE DE OPINIÃO

 

 Você pode pensar o que quiser sobre a Proclamação da República e sobre a Revolução de 30. Quase ninguém sabe o que aconteceu no dia 10 de novembro de 1937 (golpe de Estado com que Getúlio Vargas instituiu o Estado Novo e implantou uma ditadura de Congresso fechado, censura, tortura e repressão que durou até 1945). Você tem total liberdade de opinião sobre a Revolução Francesa, pode reverenciar a Revolução Bolchevique, chorar nos túmulos de Lênin, Fidel e Chávez. Mas não se atreva a divergir da narrativa dominante sobre o que aconteceu no Brasil no dia 31 de março de 1964. Não se atreva!

Em consonância com essa vedação, a OAB encaminhou à ONU um documento que denuncia “a tentativa do Presidente e de outros membros do governo de modificar a narrativa histórica (!) do golpe que instaurou [no Brasil] uma ditadura militar”. A citação entre aspas foi buscada no site do instituto Vladimir Herzog, cossignatário da denúncia. Com mínimas variações, consta de todas as matérias sobre o assunto publicadas nas últimas horas. Nelas está afirmado haver uma “narrativa histórica” que, a juízo dos denunciantes, não pode ser modificada. Trata-se de algo nada científico, principalmente numa ciência social, mas perfeitamente descritivo de uma prática que se vai tornando corriqueira. É como se a História fosse um campo de liberdade criativa semelhante à do vovô que conta aos netinhos estórias de quando “era uma vez”.

O que de fato pode ocorrer, e frequentemente ocorre quando um mesmo fato histórico envolve posições antagônicas, são interpretações diferentes. Na minha experiência, interpretações históricas implicam honestidade intelectual e são muito mais precisas, ainda que divergentes, do que as “narrativas” dominantes em tantas salas de aula no Brasil. Exemplo recentíssimo: a grande campeã do Carnaval carioca de 2019 – tendo aderido a uma narrativa desonesta, pondo-se a serviço de um projeto político e ideológico – espezinhou na avenida vultos admiráveis da nossa história, como o Duque de Caxias e a Princesa Isabel. Por quê? Porque isso convém à ideologia do conflito. Mas foi pura mistificação.

Assim, é extremamente arrogante e dogmática a intenção de estabelecer, sobre determinado acontecimento, uma “narrativa” cláusula pétrea, imexível, inequívoca e unívoca, mesmo quando muitos dos que vivenciaram aqueles dias, testemunhas do ambiente, das circunstâncias e dos eventos, atendo-se aos fatos, têm interpretações divergentes.

Felizmente não há, no Brasil, uma Reitoria Brasileira de Pontos de Vista, ou uma Corregedoria Geral de Perspectivas, ou uma Agência Nacional Reguladora de Opiniões. Isso é orwelliano demais para meu apreço pela liberdade.

 

* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


MARCO ANTONIO LONGO -   06/04/2019 14:54:12

Parabéns e obrigado por artigo tão lúcido. Na velocidade que as coisas andam, em breve vamos pôr em prática o livro completo de Orwel

Dalton Catunda Rocha -   01/04/2019 20:39:48

Em 2010, Lula doou 10 milhões de dólares dos cofres públicos, para o grupo terrorista antissemita e islâmico Hamas. Ver site: ( https://www.gospelprime.com.br/pf-ligacao-lula-federacao-muculmana/ ). A mesma OAB que hoje esbraveja, contra as tais comemorações de 1964, aplaudiu todas as abomináveis medidas de Lula e Dilma, em defesa do islamismo radical. A OAB se mostra, a mesma entidade marxista que é há décadas. A esquerda trocou Marx por Maomé e, Bolsonaro sabe disto: "Presidente Jair Bolsonaro e Benjamin Netanyahu fazem declaração à nação do Brasil e Israel" > https://www.youtube.com/watch?v=I6M3vC3jhGk&t=9s

victorino carriço -   31/03/2019 17:24:21

Tentaram estabelecer organizacoes de polícia de pensamento através da mídia ,professores militantes e do politicamente correto,nos trazendo a consciencia erros que ñ cometemos mas nos sentíamos culpados co o se a história nos apontasse o dedo como um juiz impiedoso e implacável.Nos apresentaram um estado que era deus ,uma ideologia que era um evangelno escrito por um redentor (Marx) irado e vingativo; mas esqueceram que a Verdade liberta e somos pela Verdade .Somos cristocentricos ,e ele não nos deixa orfãos! Deus acima de todos e como dizia o apostolo Paulo nada nos separará do Seu amor

Ba Marques -   31/03/2019 14:07:46

Apesar de os militares terem estatizado muito mais do que Sarney, Collor/Itamar, FHC, Lula e Dilma juntos. De terem deixado os discípulos de Gramsci tranquilos no ensino e terem coroado aquele gordo keynesiano para reinar na economia, 64 pra mim jamais deixou de ser um contragolpe. Espero que esse governo foque na economia. Sem dinheiro, quase todas as outras liberdades vão ficando cada vez mais impraticáveis.