• Percival Puggina
  • 05/08/2022
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“Que los hay, los hay.”

Percival Puggina

 

          Pois não é que a FIESP resolveu surfar, também, na onda dos manifestos iniciada na USP? Tarefa ingrata, essa de seguir o sulco das incongruências alheias, mas algum redator o fez.

Os uspianos, nos dois primeiros parágrafos de sua “Carta aos brasileiros e brasileiras”, resolveram dar aula de OSPB. A FIESP, nos dois primeiros parágrafos de seu manifesto resolveu juntar alhos com bugalhos e ligou a Semana de Arte Moderna de 1922 com a atual necessidade de encontrar “caminhos que consolidem nossa jornada em direção à vontade de nossa gente”.

Cultura é lindo, mas você entendeu o que uma coisa tem a ver com a outra? Eu não.

Em seguida, diz: “Nossa democracia tem dado provas seguidas de robustez. Em menos de quatro décadas, enfrentou crises profundas, tanto econômicas, com períodos de recessão e hiperinflação, quanto políticas, superando essas mazelas pela força de nossas instituições”.

Oi? O conceituado The Economist Democracy Index, nos dados referentes ao ano de 2021, coloca o Brasil em 47º lugar e qualifica essa robustez como “falha” (flawed democracy), com pontuação inferior a países como Botswana, Cabo Verde, Timor Leste, África do Sul. A pontuação desse índice leva em conta o processo eleitoral e o pluralismo, as liberdades civis, o funcionamento da governança, a participação política e a cultura política. E note-se, despioramos: em 2018 ocupávamos o 50º lugar.

Surpreende que a assessoria da FIESP reduza a democracia a mero processo, à sua dimensão instrumental (mesmo esta tão deficiente na concepção), desconhecendo: a) a assiduidade com que a representação popular no Congresso vota em benefício próprio e contra o interesse nacional; b) o quanto essa democracia é surda à voz das ruas; c) o fato de que os cidadãos dessa democracia não se sentem representados por quem os deveria representar; d) que as instituições menos confiáveis do país são o Congresso Nacional e os partidos políticos.

O empresariado da FIESP faz de conta que não vê o deslocamento do eixo político para a cúpula do Poder Judiciário! Sua fala à nação rasga a mais fina seda ao combo STF/TSE desconhecendo aquilo que juristas notáveis, em consonância com dezenas milhões de brasileiros, denunciam como truculência, desrespeito à Constituição, ativismo judicial e protagonismo descabido em questões que não lhe correspondem.

É bom lembrar aos esquecidos, aos alienados e aos coniventes, que o ministro Fachin, uma semana antes de tomar posse como presidente do TSE, em entrevista ao Estadão (16/02), afirmou que “a Justiça Eleitoral já pode estar sob ataque de hackers, e não apenas de atividades de criminosos, mas também de países, como a Rússia, que não tem legislação adequada de controle”. A fé na invulnerabilidade do sistema eleitoral leva a crer que nossos ministros não acreditam mais em hackers. “Pero que los hay, los hay”. Daí o desejo de que se viabilizem meios visíveis e paralelos de apuração e controle. Simples assim.

A democracia é mais do que ciclos eleitorais periódicos e completos, que estes até Cuba tem. O que falta lá é o que está perdendo respeito também aqui: as liberdades fundamentais de pensamento, opinião e expressão, e um ativado senso moral nos poderes de Estado como indispensável sinal de respeito à soberania popular. Sem isso, qualquer manifesto pela democracia e estado de direito é conversa fiada.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


José Rui Sandim Benites -   08/08/2022 19:21:18

Belo comentário, do nosso Mestre Puggina. Mas tenho uma convicção que os poderosos (banqueiros e megaempresários ) tenham uma visão antiga. Que o expresidente que foi condenado em três instâncias do judiciário como corrupto. Tem o poder de controlar as massas. Visão distorcida da realidade. Controla só os incautos. Haja vista, que uma grande parte da população, ainda tem valores. Não se move apenas pela pecúnia. Defende a família, liberdade, propriedade e acredita em Deus. Podem colocar a faixa de presidente no Lula. Está sociedade que tem virtude o chamará de corrupto, desonesto e mau caráter.

edgard feitosa -   08/08/2022 14:42:23

ora, se é necessário "meios visíveis e paralelos" de apuração eleitoral, devemos ter necessariamente meios visíveis de apuração sobre os planos e todo o sistema de defesa do Brasil, isto é, se o ministério da defesa "pode fiscalizar e ter ingerência" no sistema eleitora, o TSE também pode fiscalizar todo o sistema de defesa, pois se hay hackers bisbilhotando o sistema eleitoral, tambien los hay no ministério da defesa; lembrando que o TOTALITATISMO não é monopólio da esquerda, a direita também é TOTALITARISTA; dictadura hay en la derecha y la izquierda.....

Vera -   07/08/2022 11:14:35

Parabéns patriota! O Brasil precisa de pessoas que digam o que pensam sem medo de represálias. Estamos assistindo a maior inversão de valores, jamais vista, em nosso país é qui ser no mundo.

Edson Aracy Meneses Ferreira -   05/08/2022 21:54:05

Prezado Puggina, assistindo a TV Jovem Pan, especificamente o programa Pingo Nos Is, fiquei sabendo que somente 14% dos empresários da FIESP assinaram a Carta ou manifesto.