• Rodrigo Silva
  • 06 Agosto 2016

 

(Sob o título "Por que é tao difícil ára a esquerda brasileira reconhecer que errou em relação à Venezuela", o jornalista Rodrigo Silva, do Spotniks, nos brinda com a seguinte análise)

 

Ao longo dos últimos anos, não foram poucas as vezes em que representantes da esquerda brasileira lançaram apoio ao governo de Nicolás Maduro.

O PSOL apoiou a eleição de Maduro em 2013, “por expressar a continuidade dos valores da Revolução Socialista Bolivariana”. O PCdoB lançou nota na época comemorando sua vitória, que permitiria “à Revolução Bolivariana entrar numa nova fase, renovando seus objetivos e desafios”. Lula gravou um vídeo de apoio à sua candidatura, que foi utilizando durante a campanha de Maduro, dizendo que o líder do PSUV “se destacou brilhantemente na luta para projetar a Venezuela no mundo e na construção de uma América Latina mais democrática e solidária” (para Maduro, Lula é “como um pai dos homens e mulheres de esquerda na América do Sul”). Luciana Genro se encontrou com Maduro e o apoiou pessoalmente na Venezuela. João Pedro Stédile, o líder do Movimento Sem Terra, foi até Caracas mandar a direita venezuelana “de volta pra Miami” num palanque:
“Lhes trago o abraço de nosso companheiro Lula a cada um de vocês e ao comandante Maduro. Viemos aqui para lhes dizer que nos orgulha o fato de sempre que temos dúvidas recorrermos aos pensamentos, ao exemplo e aos ideais do comandante Chavez. Porque Chavez não foi somente da Venezuela, ele foi do povo latino americano. Chavez era brasileiro, e inclusive nos ensinou a reconhecer o valor de Abreu e Lima que nem sequer nós brasileiros conhecemos. Por isso, viemos aqui para nos abastecer dos ideais e pensamentos do comandante Chavez.”

E o MST não foi o único movimento social ligado ao PT a apoiar o regime. O Levante Popular da Juventude fez o mesmo. Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes, publicou uma foto ao lado do presidente venezuelano declarando apoio nas redes sociais (a UNE, que se diz apartidária, também lançou nota apoiando Maduro em 2014, dizendo que “apoia o processo de revolução bolivariana para que ele não ceda às pressões da direita golpista”).

Na votação que elegeu Maduro, toda a esquerda brasileira se uniu para apoiá-lo. No Brasil, um ato chamado “Brasil com Chávez Está com Maduro” foi realizado em São Paulo. Contou com a presença do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST), do Partido dos Trabalhadores (PT), do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), do Partido Socialista Brasileiro (PSB), da União Nacional dos Estudantes (UNE), do Levante Popular da Juventude, da Via Campesina, da União da Juventude Socialista (UJS), do Cebrapaz, do Foro de São Paulo, do Consulta Popular, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (Feab), da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM), da Central de Movimentos Populares do Brasil (CMP), do Movimento de Moradia da Cidade de São Paulo (MMC), do Partido Comunista Revolucionário (PCR), do Partido Comunista Brasileiro (PCB), da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e do Partido Pátria Livre (PPL).

E se já em 2013, o fato da Venezuela apresentar sinais de deterioração do seu tecido social e da sua economia, graças aos equívocos grosseiros provocados pela revolução, não ser suficiente para afastar o apoio de toda esquerda institucional do país, ainda em 2016, com a Venezuela liderando a produção global de pobreza, o cenário se mantém no mesmo lugar. Se há os que fingem, no entanto, que a revolução assumidamente socialista, apoiada por diversos partidos e organizações socialistas ao redor do mundo, nunca foi socialista de fato (como se a falência fosse um critério que automaticamente desaprovasse o ideal socialista), há os que tentam parecer que não é papel do Brasil se meter nas questões domésticas de um país soberano como a Venezuela, ainda que esse seja um país sob o jugo de uma ditadura perversa – o que apenas soa estupidamente cínico quando essas pessoas passaram a última década se metendo nas discussões venezuelanas, fazendo campanha, construindo palanques, financiando o partido e o governo e usando de seus ativos políticos, como no caso de Lula e Luciana Genro, para influenciar diretamente os resultados eleitorais.

O fato é que a imensa maioria dos grupos ligados à esquerda brasileira, não apenas não admitem o fracasso triunfal do socialismo venezuelano, como vivem no mais profundo silêncio em torno dessa discussão (ao menos enquanto Maduro permanecer no poder). Por que é tão difícil a esses grupos assumirem que erraram em relação à Venezuela? Qual a razão para manter uma posição política mesmo quando ela se torna a falência materializada?

O fato é que para esses grupos todos, desde que o governo venezuelano esteja em sintonia com seus discursos político-partidários, não importa o quanto a pobreza aumente, a fome mate e a democracia seja perseguida (com a prisão injustificada de políticos de oposição, as ameças de dissolução da Assembleia Nacional, o Estado de exceção declarado por Maduro e os superpoderes permitidos ao presidente, para governar como queira, pisando em qualquer ideal republicano) – esse mesmo grupo, aliás, que finge lutar por democracia no Brasil, quando o único ideal democrata que lhe importa é ter seus próprios representantes no poder, mesmo que eleitos com desvio de dinheiro público ou sustentados através do peso de uma ditadura.

Abaixo, selecionei cinco pontos que escancaram o quão estúpida é a relação da esquerda com o governo venezuelano, que segue com afinco uma cartilha que, não por acaso, gera resultados absolutamente opostos àquilo que essa mesma esquerda diz defender no Brasil. Caso você ainda não tenha se convencido de rechaçar a ditadura bolivariana (e as suas políticas econômicas equivocadas), essa é a hora. Não há mais como disfarçar: ou você está junto Maduro, ou você está ao lado do povo.

1. MADURO É PROVAVELMENTE O PRESIDENTE MAIS HOMOFÓBICO DA AMÉRICA LATINA.
Você não viu ninguém do PSOL comentar a respeito, mas Nicolás Maduro é provavelmente o presidente mais homofóbico da América Latina. E nada disso começou agora, do dia pra noite. Pelo contrário. Não é como se figuras como Luciana Genro pudessem ser pegas de surpresa. Muito antes de seu partido anunciar apoio à reeleição de Maduro, o líder venezuelano já havia entupido microfones com declarações rasteiras contra a comunidade LGBT.
Nas eleições de 2013, quando ainda era treinado por João Santana, o mesmo marqueteiro de Lula e Dilma, enquanto o PSOL escrevia notas de apoio por sua candidatura, Maduro insinuava que seu adversário, Henrique Capriles, fosse gay.
“Eu, sim, tenho mulher, escutaram? Eu gosto de mulheres”, provocou num comício, antes de beijar sua esposa, Cília Flores.

Capriles, que já havia sido xingado de maricón um ano antes pelo mesmo Maduro, rechaçou a acusação poucas horas depois.
“Quero enviar uma palavra de rechaço às declarações homofóbicas de Maduro. Não é a primeira vez. Creio numa sociedade sem exclusão, na qual ninguém se sinta excluído por sua forma de pensar, seu credo, sua orientação sexual.”

Poucos meses após o incidente, ainda em 2013, Maduro o acusou de ter um “esquema de prostituição gay e de transformistas” no estado de Miranda (a acusação jamais seria provada). Na ocasião, parlamentares chavistas cobraram o opositor na Assembleia Nacional aos gritos. Pedro Carreño, do PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela), foi um deles:
“Responda, homossexual! Aceite o desafio, bicha.”

Nada disso era novidade no PSUV. Em 2015, Freddy Bernal, comissário para a Reforma Policial do país, ao responder o jornalista Vladimir Villegas, da Globovisión, sobre a presença de policiais homossexuais na corporação, resolveu aplicar o mesmo conceito que Ford havia imortalizado um século antes sobre seus automóveis – o de que o cliente pode ter o carro da cor que quiser, contanto que seja preto.
“Um homossexual pode ser funcionário policial, desde que não manifeste publicamente sua orientação sexual.”
Para Bernal, esse seria um motivo de profunda vergonha.

“Imagine um oficial da polícia que queira usar uma camisa rosa, ou pintar os lábios…”
Parece difícil? Imagine algo muito mais extraordinário do que isso, Bernal: o fim da indignação seletiva da esquerda brasileira.

2. HÁ MAIS POBRES HOJE DO QUE ANTES DE HUGO CHÁVEZ ASSUMIR. E ELES PASSAM AINDA MAIS DIFICULDADE.

Segundo os dados da última Encuesta sobre Condiciones de Vida en Venezuela (Encovi), 81% dos venezuelanos são hoje considerados pobres. Houve um aumento de cinco pontos percentuais em relação à pesquisa do ano passado. Do total, 87% dos venezuelanos possui dificuldades em encontrar alimentos necessários para uma nutrição adequada (adquirem alimentos para no máximo quinze dias). De acordo com a pesquisa, apenas 19% da população não é considerada pobre: 28% (8,4 milhões de pessoas) vive no limiar da pobreza extrema; 19% (5,7 milhões) é considerada extremamente pobre e 34% (10,2 milhões de pessoas) atingiu a pobreza recentemente. A classe média foi praticamente aniquilada.
Segundo o Censo de 1998, ano em que Hugo Chávez foi eleito, a extrema pobreza atingia 18,7% da população, número quase três vezes menor do que hoje, passados 18 anos de socialismo.

O desemprego agora atinge 26% dos jovens venezuelanos e o país detém o título de economia mais miserável do mundo, segundo o Índice de Miséria 2015, organizado pela Bloomberg.

Em 2014, 5% da população venezuelana não se alimentava três vezes ao dia. Segundo a última pesquisa, esse número aumentou para 20%. E a tendência é de piora, com as medidas adotadas pelo governo para combater a crise hídrica – a produção dos principais alimentos no paíscaiu 87% no último ano, forçando a Assembleia Nacional a decretar emergência alimentar e convocar a Organização para Alimentação e Agricultura da ONU (a FAO) para enviar uma missão de especialistas ao país e avaliar os riscos à segurança alimentar da população.

Só tem um problema nessa história: a FAO é atualmente dirigida pelo brasileiro José Graziano, ligado ao PT, que atuou no gabinete do presidente Lula como seu assessor especial. Há menos de um ano, Graziano utilizou a organização que dirige para fazer proselitismo político e condecorou Nicolás Maduro com um prêmio. A razão? Sua “luta” pelo combate à fome na Venezuela.

3. AS CONDIÇÕES DE TRABALHO PIORARAM. E A ESCRAVIDÃO É LITERALMENTE A SOLUÇÃO ENCONTRADA PELO GOVERNO PARA COMBATER A FOME.

E como Maduro decidiu combater a fome? Com uma velha ideia que você conhece muito bem dos livros de história, chamada escravidão.

Há poucos dias, o líder venezuelano determinou a todas as empresas do país, sejam elas públicas ou privadas, que coloquem seus funcionários à disposição do Estado para aquilo que ele entende como trabalho de desenvolvimento agroalimentar do país. O tempo disponível para o trabalho agrário? 60 dias, prazo que pode ser prolongado por outros 60 dias, segundo o decreto publicado nesta semana.

Qualquer um pode ser sorteado para trabalhar no campo: engenheiros, médicos, professores. A única condição é de que os funcionários designados tenham as condições físicas e técnicas para exercer as funções necessárias. Funcionários da Polar, uma fabricante de alimentos e de bebidas, foram os primeiros designados para o trabalho, segundo alguns empresários do setor.

A diretora da Anistia Internacional para as Américas, Erika Guevara-Rosas, combateu o decreto, afirmando que “tentar abordar a severa falta de alimentos na Venezuela forçando o povo a trabalhar no campo é como tentar curar uma perna quebrada com um curativo”.

“O novo decreto é completamente inútil em termos de encontrar formas para que a Venezuela saia da crise em que ficou imersa por anos. As autoridades venezuelanas devem focar em pedir e levar de maneira urgente a ajuda humanitária que milhões de pessoas necessitam em todo o país e desenvolver um projeto efetivo a longo prazo para solucionar esta crise”, disse.

Trabalhos forçados determinaram um padrão laboral no último século em países socialistas como a União Soviética, Cuba, China, Coreia do Norte e Romênia. A Venezuela segue apenas seu script inevitável.

4. OS ANIMAIS ESTÃO MORRENDO DE FOME.

Ainda não está convencido da tragédia que assola a população venezuelana a partir da ótica dos direitos humanos? Encare o cenário pela perspectiva dos direitos dos animais.
Nos últimos seis meses, o zoológico público de Caricuao, o maior de Caracas, já contabilizou a morte de pelo menos 50 animais (entre eles porcos vietnamitas, antas, coelhos e aves). Com a escassez de alimentos, o cenário é caótico. Tigres e leões vêm sendo alimentados com abóbora e manga para compensar a falta de carne disponível. Um elefante come frutas tropicais em vez do bom e velho feno. A situação é tão precária que há poucos dias um cavalo foi tomado pela população e a sua carne desmembrada para consumo humano, como se a Venezuela fosse acossada por uma espécie de apocalipse zumbi.

E não se engane, quando se trata de sofrimento, não são apenas os animais nos zoológicos que padecem; os de estimação também. Um pacote de ração para cachorro, fabricado na própria Venezuela, quando disponível nas prateleiras, chega a custar 13 mil bolívares. O valor é equivalente a cerca de 11 dias de trabalho de um venezuelano que ganha um salário mínimo. Ou seja, quase uma quinzena dos salários no país. E isso para não falar das rações para gato, que alcançam os 20 mil bolívares. Não é difícil imaginar qual caminho esses animais seguem: o abandono.

Segundo a Asociación Venezolana de la Industria de Salud Animal o número de animais abandonados no país aumentou 30% nos últimos meses. E a escassez de ração é apenas parte dessa história. A falta de material de esterilização, de vacinas e medicamentos, também vem contribuindo para o cenário. Segundo a Fundación Amigos Protectores de los Animales, a crise econômica cria ainda um outro problema: a fuga em massa da classe média do país que, ao abandonar seus pertences, também abre mão dos seus próprios animais de estimação.
No ano passado, a Red de Apoyo Canino diz ter conseguido achar um lar para 600 animais. Até a metade deste ano, apenas seis tiveram a mesma sorte.
A chance de um animal de estimação abandonado sobreviver é mínima, haja vista a dificuldade de conseguir alimentos. A maior parte acaba morrendo atropelado.

5. A SAÚDE PÚBLICA ESTÁ COMPLETAMENTE ABANDONADA. E A EDUCAÇÃO CAMINHA PARA O MESMO BURACO.

A crise hídrica, associada à falta de remédios e a escassez de produtos básicos de higiene levaram a Venezuela a testemunhar nos últimos meses uma explosão de doenças como sarna, diarreia, malária e disenteria. O cenário é caótico. Os banhos são cada vez mais raros e as pessoas são obrigadas a armazenar água para administrar a escassez, infestando o país de criadouros de Aedes aegypti. As ocorrências de dengue, zika e chikungunya, não por acaso, explodiram recentemente.
Segundo um relatório da Secretaria de Saúde do Estado de Miranda, houve um aumento de 58,5% dos casos de sarna no estado no primeiro trimestre desse ano.

“O pico dos casos de sarna em Miranda coincide com o mês de recomeço das aulas, onde as crianças não são mais obrigadas a se lavar e trocar de roupas”, diz o relatório. “Embora o Estado tente manter o nível de abastecimento na capital, é possível supor, a nível nacional, que a situação seja mais grave no interior das províncias.”

Segundo o estudo, Miranda registra o maior número de casos de Malária nos últimos 50 anos. Já não há mais remédios para diarreia ou doenças hepáticas no país, além do tratamento de outras tantas doenças.

Há poucos meses, a Federación Médica Venezolana denunciou aquilo que se entende como um verdadeiro “holocausto da saúde”. De acordo com Douglas Leon, presidente da federação, “é aterrorizante trabalhar nos hospitais” venezuelanos que sofrem com “mais de 95% de falta de medicamentos”, enquanto “nas prateleiras das farmácias” a escassez é de 85%.

Os hospitais faliram completamente. Luvas e sabão desapareceram em alguns deles. Há pouquíssima eletricidade disponível para operações. Medicamentos usados no tratamento de doenças como o câncer muitas vezes só são encontrados no mercado negro. Em alguns hospitais, não há água suficiente sequer para lavar o sangue da mesa de cirurgias.
Para driblar o cenário, os médicos improvisam como podem. Muitos usam garrafas de água com gás para lavar as mãos. Outros passam horas bombeando ar manualmente nos pulmões dos bebês doentes.

“Parece que estamos no século 19”, disse o cirurgião Christian Pino, do hospital da Universidad de los Andes, ao The New York Times.

Nos últimos anos, o índice de mortalidade de bebês com menos de um mês de idade multiplicou-se mais de cem vezes nos hospitais públicos (e o de mães que faleceram ao dar à luz nesses lugares se multiplicou por quase cinco vezes no mesmo período).

A educação também não escapa. Com a crise no abastecimento de energia, algo próximo de 40% das aulas já são perdidas e cerca de 40% dos professores não comparecem nas escolas por estarem nas filas de supermercados em busca de alimentos, de acordo com a Federación de Maestros de Venezuela. Salas de aula com poças são usados como banheiros de emergência, porque não há água nos banheiros.

Na prática é inescapável dizer que, passado quase duas décadas da revolução bolivariana, isso é tudo que o governo venezuelano tem a oferecer: o mais completo caos social e econômico. E com o apoio, claro, da velha esquerda tupiniquim, que agora finge que não tem nada a ver com essa história. Pior para o povo venezuelano.

 

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  • Thiago Cortes
  • 06 Agosto 2016

(Publicado originalmente em midiasemmascara.org)

Nesta sexta-feira, 05, participei do programa de debates “FlaXFlu” da TV Folha. Lá estive para defender o projeto de lei Escola Sem Partido. Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor de administração pública da FGV-SP, falou contra a proposta.

O debate ocorria de forma absolutamente civilizada até que, nos minutos finais, cometi uma heresia: chamei Paulo Freire, o patrono da educação brasileira, de charlatão.

O professor Marco Antônio Teixeira imediatamente reagiu, extremamente ofendido, como se eu tivesse lhe faltado pessoalmente com o respeito. Longe disso!

Ora, os adversários do Escola Sem Partido nos acusam justamente de tentar cercear ou mesmo impedir o “pensamento crítico” (ignorando o fato de que o projeto de Lei fala abertamente em princípios como pluralismo de ideias e liberdade de crença).

É interessante notar que para eles existem certas figuras que não apenas estão acima de qualquer crítica, mas de qualquer possibilidade de crítica.

A reação exagerada do professor Marco Antônio Teixeira às minhas críticas comprova que Paulo Freire é uma espécie de divindade intocável para professores e especialistas da área.

Já estou na casa dos 30 anos, mas fui repreendido pelo professor como se fosse um aluno colegial durante minha fala. Tudo porque expressei minha opinião sincera sobre Freire.

Imagine, caro leitor, como deve ser tratado o estudante que ousar discordar de um professor freireano entre as quatro paredes de uma sala de aula….

O meu oponente me acusou de abusar dos adjetivos para desqualificar o patrono da educação, desconsiderando a diretriz civilizada de criticar apenas ideias e obras.

Porém, o vídeo do debate não deixa mentir que minha fala se deu no contexto da discussão sobre a precária formação dos nossos professores. O vídeo também mostra que justifiquei e citei fontes ao classificar Paulo Freire como um impostor intelectual.

Lembrei que a “Pedagogia do Oprimido” – a magnum opus ¬de Freire – é inspirada em escritos e na prática revolucionária de ditadores e genocidas como Fidel Castro e Mao Tse Tung.

Paulo Freire foi buscar no ditador chinês – só Deus sabe como – subsídios para conceber seu método pedagógico cujo objetivo não é o de ajudar o jovem estudante a pensar livremente, mas prepará-lo para assumir o papel de militante revolucionário!

Basta ler “Pedagogia do Oprimido” para conferir o próprio Paulo Freire dizendo exatamente isso: que seu método foi concebido por revolucionários e para formar revolucionários.
(Se você preferir, leia a aqui excelente análise de Marcelo Centenaro)

Ou seja, nossos professores saem dos cursos de formação carregando na cabeça o método freireano de multiplicar revolucionários. Onde fica o espaço para o estudante criticar a tradição ideológica da qual fazia parte Paulo Freire? Não existe.

Outro ponto que levantei foi a prosa deliberadamente obscura de Paulo Freire, uma tática muito usada no mundo das ciências humanas e denunciada por dois intelectuais de esquerda, Alan Sokal e Jean Bricmont, no livro “Imposturas Intelectuais”.

O livro apresenta como impostores intelectuais aqueles “gênios” das ciências humanas que abusam de um linguajar complexo para esconder o simplismo de suas ideias, passando a impressão de que são mais complexos e profundos do que realmente são.

Não tenho dúvidas de que Paulo Freire está acolhido nesta tradição ao lado de figuras como Foucault, Lacan, Derrida e outros pós-modernos cuja escrita empolada só serve para impressionar os impressionáveis e esconder ideias mofadas de séculos passados.

Reitero minha opinião: Paulo Freire é um charlatão medíocre, um impostor ridículo, um guia espiritual dos doutrinadores, e a educação brasileira foi condenada no exato momento em que este protótipo de intelectual foi ungido como seu patrono.

O episódio só serve para reforçar minha crença de que aquilo que o professor Marco Antônio Teixeira e outros chamam de “pensamento crítico” não passa de pensamento único.

* Sociólogo e jornalista.
 

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  • Rodrigo Constantino
  • 02 Agosto 2016

 

(Publicado originalmente em rodrigoconstantino.com)

No que depender da nossa imprensa e de boa parte da americana, quase toda com viés de esquerda, as informações que chegam sobre criminalidade nos Estados Unidos pintarão a polícia como racista e as armas como responsáveis pelos crimes. Pouco ou nada será dito sobre a proporção muito maior dos negros nos crimes e daquela que parece ser a principal causa essencial por trás disso: a desestrutura familiar deles.

Colocar o dedo nessa ferida foi o que Heather Mac Donald fez em War on Cops, livro em que disseca a narrativa oca “progressista” sobre a criminalidade, com base nas falácias do Black Lives Matter, movimento que tem instigado a tensão racial no país e que faz “demandas” típicas de um PSOL para resolver os problemas. A seguir, 13 fatos que a autora destaca na obra e que você não verá na grande imprensa:

1. Os negros corresponderam a 60,5% de todas as prisões por assassinato no Missouri em 2012 e 58% das prisões por roubos, apesar de representarem apenas 12% da população do estado;

2. Em Nova York, os negros são apenas 23% da população, mas cometem cerca de 75% dos crimes envolvendo tiroteio na cidade, enquanto os brancos, que são um terço da população, praticam 2% dos crimes com tiroteio;

3. Em Los Angeles, os negros praticam 42% dos roubos, mas são 10% da população;

4. Os negros corresponderam a 78% das prisões juvenis entre 2003 e 2008 em Chicago, contra 18% dos hispânicos e 3,5% dos brancos;

5. Homens negros entre 14 e 17 anos têm até 6 vezes mais chances de morrer em tiroteios do que adolescentes brancos e hispânicos juntos, graças a uma taxa dez vezes maior de assassinatos cometidos por adolescentes negros;

6. Em 2013, os negros foram responsáveis por 43% dos assassinatos de policiais, nos casos cuja “raça” era conhecida, apesar de os negros corresponderam a somente 13% da população americana;

7. Os negros foram acusados por 62% dos roubos, 57% dos assassinatos, e 45% dos assaltos nos 75 maiores condados americanos em 2009, apesar de representarem aproximadamente 15% da população nesses locais;

8. Somente 4% dos homicídios de negros são pela polícia, comparados a 12% das vítimas brancas e hispânicas;

9. A taxa per capita de policiais mortos por negros é 45 vezes maior do que a de negros “desarmados” mortos por policiais, mesmo considerando a valor de face o conceito de “vítima desarmada” da imprensa, já que várias dessas vítimas tentavam agredir o policial em questão e roubar sua arma;

10. Em 2006, os negros eram 37,5% da população carcerária estadual e federal, apesar de representarem 13% da população total: um em cada 33 negros estava na prisão na época, ou 11% de todos os homens negros entre 20 e 34 anos;

11. De 1976 a 2005, os negros foram responsáveis por 52% de todos os assassinatos na América;

12. Em 2006, os negros eram 37,5% dos 1.274.600 presos estaduais do país, e se forem retirados os presos por drogas, essa taxa cai apenas 0,5 ponto, para 37% do total;

13. Mais de 72% dos negros americanos nascem de mães solteiras, fora do casamento, uma taxa três vezes maior do que uma análise feita em 1965, antes da “guerra contra a pobreza” dos democratas “progressistas”, que já gastou mais de $20 trilhões em 80 diferentes programas de welfare state voltados para resolver o problema. Em Chicago, essa taxa chega a 80% das crianças nascidas!

Diante desses fatos, o leitor pode fazer como um típico “progressista”, e ignorar o problema essencial, preferindo atacar as “desigualdades”, as armas ou a polícia “racista”. Mas em nada vai ajudar fechar os olhos para a verdade, principalmente os que mais sofrem com essa triste realidade: os negros jovens e mais pobres, em famílias destruídas.


Não é culpa da “guerra às drogas”, como mostra a autora. Não é um problema de viés policial. Tampouco é algo que pode ser resolvido com cheques estatais e assistentes sociais. Esse remédio fracassou. Ou pior: ampliou o problema!

Negros são presos em proporção maior do que hispânicos, brancos e asiáticos, e sofrem uma abordagem policial maior pelo mesmo motivo: praticam mais crimes. Eis o fato inegável. Resta encontrar as causas disso. E as famílias sem estrutura dão uma boa dica do caminho.

Obama foi um “ativista social” em Chicago, e toda a sua narrativa era coletivista, isentando o indivíduo de responsabilidade por seus atos, culpando bodes expiatórios e delegando ao estado a capacidade de resolver tudo. Não funcionou. O Black Lives Matter foi mais longe, com o endosso do próprio presidente, e passou a condenar o suposto racismo da polícia, em vez de falar da maior criminalidade dos negros.

Um movimento que efetivamente se importasse com esses negros deveria ensinar que a polícia deve ser respeitada, que suas ordens devem ser obedecidas, que resistir é um ato irresponsável e perigoso e, acima de tudo, que os jovens precisam de boas referências e limites em suas vidas, ou seja, de bons pais. Mas se fossem nessa linha seriam conservadores, não “progressistas”. E isso é inaceitável para essa turma. Melhor continuar ignorando os fatos… e os negros vítimas desse descaso todo.
 

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  • Eliane Cantanhêde
  • 02 Agosto 2016

 

(Publicado originalmente no Estadão)

A "fonte" é quente: o que já saiu não é nada leve, mas as denúncias "mais pesadas" contra o ex-presidente Lula ainda estão por vir. É por isso que Lula e seus advogados se antecipam, em busca de uma duvidosa proteção no Comitê de Direitos Humanos da ONU. No ambiente político, a sensação é de que foi um ato de desespero, indicando que Lula sabe que pode ser preso e estaria aplainando terreno para um futuro pedido de asilo político.

Obstrução de Justiça ao tentar evitar delações premiadas contra amigos e contra si, ocultação de patrimônio no caso do sítio e do triplex, suspeita de palestras fictícias para empreiteiras, envolvimento do filho na Zelotes... tudo isso, que já não é pouco, é apenas parte da história. Os investigadores estão comendo o mingau pelas bordas, até chegar ao centro, fervendo.

No centro, podem estar as perigosas relações de Lula com o exterior, particularmente com Portugal, Angola, Cuba e países vizinhos. E o calor vem da suspeita – com a qual a força-tarefa da Lava Jato trabalha – de que Lula seja o cérebro, ou o chefe da "organização criminosa". No mensalão, ele passou ao largo e José Dirceu aguentou o tranco. No petrolão, pode não ter a mesma sorte – nem escudo.

Lula tornou-se réu pela primeira vez, na sexta-feira, pelo menor dos seus problemas com a Justiça: a suposta tentativa de evitar a delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, para que ele não abrisse o bico sobre as peripécias de seu amigo José Carlos Bumlai. Peripécias essas que seriam para atender a interesses, conveniências e possivelmente pedidos de Lula.

Digamos que tentar obstruir a Justiça é um "crime menor", quando Lula é suspeito de ter ganho fortunas e viver à custa de empreiteiras, numa rede de propinas, de toma lá, dá cá. Menor, mas impregnado de simbologia e de força política.

Os fatos embolaram-se de quinta para sexta-feira, num ritmo de tirar o fôlego. Lula entra com a petição no Comitê da ONU, acusando o juiz Sérgio Moro de "abuso de poder" e "falta de imparcialidade". Ato contínuo, sai o laudo da PF mostrando, até com detalhes constrangedores, como o ainda presidente e Marisa Letícia negociaram cada detalhe da reforma de um sítio que juram não ser deles e cujo dono oficial é um íntimo amigo que não tem renda para tal patrimônio. E, já no dia seguinte, explode a decisão da Justiça Federal do DF tornando Lula réu.

O efeito prático da petição à ONU é remoto, ou nenhum. O comitê tem 500 casos, só se reúne três vezes por ano e está esmagado por guerras, atentados que matam dezenas e golpes de Estado sangrentos. Além disso, só acata pedidos semelhantes quando todas as instâncias se esgotaram no país de origem e Lula ainda está às voltas com a primeira instância. Conclusão: a ação é mais política do que jurídica.

Já o laudo da PF é minucioso e bem documentado, criando uma dificuldade adicional para Lula: ele é suspeito de mentir sobre suas propriedades não apenas em seu depoimento às autoridades, mas à própria opinião pública. Difícil acreditar que não é dono do sítio que frequenta regularmente com a família, que recebeu uma reforma feita ao gosto do casal, que abriga os barcos para os netos e parte da mudança do Alvorada após o governo. Se mentiu, por que mentiu?

Mais: Lula atacou Moro na ONU, mas se torna réu por um outro juiz, a muitos quilômetros de Curitiba. Vai alegar que há um complô dos juízes brasileiros contra ele? Porque são todos "de direita"? Ou são todos "tucanos"? Lula parece dar murro em ponta de faca, sem argumentos concretos para se defender e esgotando suas possibilidades não só de disputar em 2018, mas de liderar uma grande e saudável renovação da esquerda brasileira. "Cansei", reagiu. Mas, se a "fonte" estiver correta, o "mais pesado" ainda vem por aí.

 

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  • Guilherme Fiúza
  • 01 Agosto 2016

(Publicado em O Globo)


A Olimpíada do Rio encerra também a maratona de Lula correndo da polícia. Daí em diante, a prova é de 100 metros rasos.

Dilma e Lula não vão à Olimpíada. Foram pegos no antidoping.

O laboratório da Lava-Jato descobriu que a campanha da presidente afastada derramava milhões de reais numa empresa de fachada do setor de informática, entre outros anabolizantes criminosos. No caso do ex-presidente, uma nova substância ilegal foi atestada em laudo da Polícia Federal — constatando que as reformas no sítio de Lula que não é de Lula foram orientadas pelo próprio. Só a repaginação da cozinha custou 252 mil reais.

O ex-presidente já avisou que não vai deixar barato. De fato, nada que envolva Lula é barato. Perguntem aos laranjas da Odebrecht que compraram um prédio para o Instituto Lula. E lá foi o maior palestrante do mundo para Genebra, com sua comitiva, denunciar à ONU a perseguição que está sofrendo no Brasil.

A elite vermelha está rica, pode rodar o mundo se quiser, alardeando o seu sofrimento, protegida por seus advogados milionários. Há de conseguir uma rede internacional de solidariedade, para que todos tenham direito de matar a fome em cozinhas de luxo, e não falte a ninguém uma empreiteira de estimação.

A ONU é a instância perfeita para o apelo de Lula. É uma entidade recheada de burocratas bem pagos para fomentar a indústria do alarme e da vitimização. Mas a ONU não é perfeita como Lula: parte de suas ações tem efetividade, manchando o ideal do proselitismo 100% parasitário. Deve ter sido um frisson em Genebra a chegada do ídolo brasileiro — que passou 13 anos liderando um governo oprimido, sugando um país inteiro sem perder a ternura, e permanecendo livre, leve e solto, voando por aí. Um mago.

É justamente para continuar livre e solto que Lula foi à ONU. Ele sabe que será condenado por Sérgio Moro. Acaba de virar réu por obstrução de Justiça, no caso Delcídio-Cerveró. Nessas horas é melhor mesmo recorrer aos gigolôs da bondade internacional. É uma turma capaz de ignorar numa boa as obras completas do mensalão e do petrolão, e tratar Lula como um pobre coitado, perseguido por um juiz fascista. A lenda do filho do Brasil cola muito mais fácil do que a do filho adotivo da Odebrecht.

Os plantonistas da solidariedade cenográfica já bateram um bolão na resistência ao golpe contra Dilma. Claro que toda a picaretagem revelada por João Santana não comove essa gente. Nem as confissões da Andrade Gutierrez sobre a rota da propina montada com um assessor direto da companheira afastada, injustiçada e perseguida. Muito menos o buraco em que esses heróis progressistas jogaram o Brasil, escondendo déficits graças à arte da prostituição contábil. Nada disso é crime para os simpáticos jardineiros da fraude.

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro representam um momento histórico. Marcarão a demissão definitiva da mulher sapiens, e a devolução ao povo da frota federal que serve sua filha. Ainda tem gente escolarizada defendendo esse escárnio — contando ninguém acredita —, mas são cada vez menos. Até a vocação para o vexame tem seus limites. A Olimpíada do Rio encerra também a maratona de Lula correndo da polícia. Daí em diante, a prova é de 100 metros rasos. Se a democracia ultrapassar a demagogia, o ex-presidente vai ter que pagar pela ação entre amigos que depenou o Brasil.

A opinião pública segue, como sempre, em sua viagem na maionese. Segundo dois grandes institutos de pesquisa, a maioria quer eleições presidenciais antecipadas.

Ou a maioria não conhece a lei, ou não está interessada em cumpri-la. É a renovação da esperança para a escola de malandragem que o país, a tanto custo, está enxotando do poder. Os heróis providenciais estão todos aí, excitadíssimos, para herdar o rebanho petista. São os que, de forma mais ou menos envergonhada, combateram o impeachment da mulher honrada — aí incluídos os puritanos da Rede, PSOL e demais genéricos do PT. Prestem atenção: estarão todos nas eleições municipais atacando o governo de homens velhos, brancos, bobos e feios de Michel Temer.

Esse governo careta, recatado e do lar, que não tem mulher sapiens para divertir a plateia, está arrumando a casa. Não porque Temer seja um iluminado. Ele só percebeu — como Itamar duas décadas antes — que sua única chance era botar os melhores para tomar conta do dinheiro. E botou. Saiu a delinquência fisiológica, entrou a eficiência. É assustador para os parasitas das lendas humanitárias ver a máquina nas mãos de profissionais.

O vento já virou, o Brasil vai melhorar, e isso é terrível. Como na época do Plano Real, os solidários de butique correm o risco de voltar a pregar no deserto, enquanto a vida da população desgraçadamente progride. Quem vai comprar ideologia vagabunda num cenário desses?

Só pedindo socorro à ONU. Mas se apressem, porque depois da Rio 2016 será a hora do xadrez.

* Jornalista
 

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  • Rachel Lacroix
  • 01 Agosto 2016



Ele foi arrancado de dentro de sua casa em um dos tantos morros "urbanizados" aqui em Porto Alegre.
Foi torturado, sofreu severas lesões corporais, dentre elas, teve perfuração craniana com exposição de conteúdo encefálico. Os monstros que o raptaram de dentro de sua própria casa na frente de seus familiares para o torturarem até a morte, em outro morro ali perto, teriam ficado "aborrecidos" com Luciano alguns dias antes, por ele pedir e até reclamar que não guardassem no terreno ao lado do seu, tantas drogas e armamentos expostos, pois algum de seus cinco filhos menores poderiam se machucar, uma vez que sua casa não tinha (como todas por ali) cerca ou muro protegendo o acesso ao terreno em questão. Vejam bem, Luciano não era drogado e nem alugava terreno para bandido, ele simplesmente ousou reclamar da "logística" que os marginais fazem, se apossando de cantos e becos que lhes forem convenientes, colocando em risco seus familiares e vizinhos.

Luciano tinha 36 anos. Era um ótimo pai de família, deixando a esposa e cinco filhos, todos com idades entre 3 e 14anos. Era trabalhador e muito bem conceituado na empresa onde estava empregado há alguns anos como motorista de caminhão. O enterro estava cheio de pessoas que testemunhavam as virtudes de Luciano e confirmavam sua inocência.

Repito: Luciano não era drogado. Não era estuprador. Não era desonesto. Não era bandido. Não era ladrão. Não era marginal. Pelo contrário, nosso Luciano, era um verdadeiro herói brasileiro, que trabalhou duro para conquistar a casinha simples que morava com a família e que agora está ameaçada de ser tomada definitivamente pelos marginais e traficantes que governam este morro onde o Luciano morava, e continuam morando muitos de seus vizinhos, trabalhadores honestos como ele, e continuarão sob o jugo de seus algozes.


Há meses que ali ocorre uma guerra entre facções criminosas para disputar qual grupo de delinquentes mais poderoso irá mandar naquele pedaço.

Luciano não é a primeira vítima e infelizmente parece que não será a última.

A polícia tem ordens (de quem?) de só subir o morro quando for chamada. Os moradores do morro bem que gostariam de chamar a polícia sempre, mas os marginais é que mandam, e executam, e é na base do "bala na cara" em quem ousar não obedecer as ordens. É o terror. Luciano foi martirizado por assassinos cruéis como prova de que a população no morro deve aguentar calada, uma vez que a lei local é não chamar a polícia, e a polícia não pode ir onde não foi chamada, pois há políticos, imprensa, e intele-teco-tuais que concluíram e sacramentaram como um dogma, que um policiamento ostensivo em zonas pobres seria muito opressivo aos pobres, melhor deixá-los assim como estão há décadas, aos cuidados maternais desta bandidagem carniceira que tomou conta...

Luciano não pode se despedir de nenhum de seus familiares, foi arrastado, só podendo implorar que não fizessem nada com seus filhos e esposa, os quais foram devidamente "desencorajados" a chamarem a polícia. Se limitaram a dar queixa de sequestro longe dali e bem depois, e aguardarem em estado de choque o que as próximas horas lhes trariam de notícias do Luciano. Receberam um corpo desfigurado e sem vida.

Narro em detalhes toda esta história, porque Luciano era o genro da Ana. Ana trabalha há muitos anos na casa de meus pais, e ela própria já viveu outras tragédias pessoais, também relacionadas com os crimes do tráfico de drogas.

Luciano não era celebridade funkeira, nem esportiva... Luciano não era político. E que nem à imprensa, nem à políticos vermelhos interessaria divulgar sua trágica morte, já sabemos, pois ele era só mais um de nós mortais insignificantes e pagadores de impostos, sujeitos a vala comum do anonimato, silêncio e descaso com as vítimas da violência praticada pelos criminosos deste infeliz país chamado Brasil.
...
Como chegamos a este ponto?
Sim porque não se chega a tal dominância de um mal, sem que antes se negligencie de alguma forma, e muito, um bem. Um mínimo de segurança pública era um bem que possuíamos, mas que perdemos. Acabou. Vivemos na barbárie completa. Vivemos no terror e com números recordes de vítimas em uma verdadeira guerra civil.

Como comentou um amigo que viaja a outras capitais brasileiras: aqui em Porto Alegre a crise da segurança é a prova da inépcia, indiferença e incompetência de várias gerações de políticos no poder Estadual e Municipal. Culminou no governo Tarso e se agrava com a relutância da Administração Sartori. Há um pano de fundo social, mas a violência é, sem sombra de dúvida, resultado de maus governos.

Maus governos com más políticas de segurança pública no Brasil inteiro.

Com Porto Alegre virando quase um ícone daquela elite de esquerda que não abre mão de segurança armada 24h e carro blindado, ao mesmo tempo que prega a paz através do fanatismo na crença dogmática do desarmamento da população comum. São políticas que sonham e salivam em desarmar a polícia, e acham opressor demais que se reaja à violência e se atire em delinquente! É aquela política do protecionismo aos bandidos, de lágrimas de crocodilo que só escorrem por outros crocodilos. Um estado modelo de uma (in)justiça com excesso de juízes ativistas sociais que mandam soltar bandidos quando nem bem a polícia conseguiu prender direito. Aquela política esquerdofrênica que adoraria acabar com a polícia, fechar presídios e por um decreto mágico declarar "paz". Foram políticas públicas incompetentes em formar e valorizar policiais bem preparados, treinados e equipados, fazendo vigilância nas ruas, nos morros e nos bairros pobres sim, por que pobre nem sempre consegue ter cerca elétrica ou sistema de segurança particular, mas também quer segurança para viver em paz.

Uma elite de esquerda que faz romance do bom marginal, que adora vitimizar o bandido e culpar a vítima que paga impostos, e que por ignorância, impotência, ou pura imbecilidade mesmo, ainda vota nesta mesma esquerda ingrata e hipócrita. Aquela esquerda que quer descriminalizar as drogas para "profissionalizar" o traficante, aquela esquerda que grita e cospe em benefício de direitos humanos de bandidos, com o total sacrifício dos Lucianos honestos, foram quem e o que nos trouxeram até aqui.

Até quando seremos escravizados por este modelo? Quantos Lucianos terão que ser cruelmente assassinados para que se prove o total colapso na segurança pública? E que se admita urgentemente outras políticas, não mais estas de chorar por bandidos e assassinos, que são bandidos e assassinos por serem maus, e não por serem pobres! Deixar de punir um criminoso, alegando ele ser pobre e que "não teve outra escolha na vida", é a maior ofensa e falta de respeito com as pessoas pobres e honestas e que não cometem crimes e sim sofrem crimes! Aliás é um desrespeito com todas pessoas de bem, sejam elas pobres ou ricas.

A certeza da impunidade deixa óbvio que tem como consequência direta o aumento da criminalidade e de mais vítimas, mas parece que perdemos a lucidez até para perceber o óbvio, nos encovando num fosso cada vez mais fundo.

 

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