• Felipe Daiello
  • 21 Maio 2024

 

Felipe Daiello

       Durante quase três semanas , de todos os lados , de todos os Estados do Brasil uma corrente de solidariedade, mesmo com ausência dos agentes do poder público numa ação solidaria, voluntários metem a alma em águas poluídas, enfrentam fome, frio, noites sem dormir, numa façanha que salva  milhares de brasileiros e os seus animais de estimação. Depois sem propaganda, quase sem nenhum apoio era preciso criar centros  de acolhimento  para humanos e animais, providenciar comida ,água potável, mínimas condições de higiene,  serviços sanitários e para higiene mínima , apoio psicológico para mentes em depressão pelas perdas, medicamentos e para as crianças  estabelecer rotinas de ensino, de recreação, com desenhos e  atividades culturais.

Mas agora, durante semanas , talvez meses, outras tarefas são prioritárias, pois com inverno chuvoso, frio congelante, sem roupas adequadas surgem doenças respiratórias. Devido a aglomeração  das pessoas em locais sem privacidade, surto de piolhos, de sarna, de doenças gastrointestinais , além da leptospirose, mostram a sua cara.

No entanto  algo mais sério  não foi enfrentado pelo poder público, mais preocupado pela imagem em queda do que  ver a realidade que só os voluntários enfrentam, A destruição da cadeia produtiva do Rio Grande é realidade. Começando pelas malhas de transporte, pois a queda de pontes, mesmo em zonas rurais, a destruição de rodovias ,os deslizamentos de encostas, além das vidas perdidas. bloqueiam os acessos entre municípios. Nosso aeroporto internacional interditado por meses por falha ou ausência de  bombas de drenagem traz outro desafio, estamos ilhados do mundo.

Sem a imediata normalização da nossa logística de transporte , não há como iniciar a movimentação da economia que está  paralisada e sem condições de iniciar a recuperação exigida. Faltam insumos, rações para o gado, para aviários , sem falar em  combustível. Além da alta nos preços, pois o transporte quando há é bem mais caro, o desabastecimento  geral  ou as prateleiras vazias logo serão realidade. O parque industrial está paralisado.Milhares de empregos a perigo.

Como mais de 450 municípios no RG sofreram danos severos durante o dilúvio, alguns ainda recuperando efeitos das enchentes de  2023, com a queda previsível de receita eles não dispõem dos recursos mínimos mesmo para iniciar a limpeza e a remoção dos entulhos. Alguns foram dizimados com bairros fantasmas em áreas de risco permanente. O que fazer na urgência,  questão a discutir e a providenciar. Diques? Casa de bombas?

Como nossa carta magna diz ser o Brasil  uma Federação de Estados, com independência em decisões administrativas e gerenciamento dos seus recursos, apesar de Brasília, onde não há fabricas e nem grandes empresas , ao longo do tempo centralizar arrecadações para  aumentar o seu poder político, provocando distorções e injustiças.

O Estado do Rio Grande do Sul onde temos Governo Estadual e Assembleia Legislativa, envia em tributos federais anuaís, em média, 60 bilhões de reais, fruto do trabalho dos.seus habitantes, no entanto o retorno em migalhas ou doações não chega a 25 %. Parece mentira, mas 42 bilhões provenientes do suor dos gaúchos desaparece num saco sem fundo. Em 10 anos nossa espoliação chega a 420 bilhões de reais, perto de 84 bilhões de dólares americanos. Como falar em dívida do Estado, perto de 100 bilhões, se já entregamos  quantia mais de quatro vezes superior. Numa comparação o Estado do Maranhão, estado que apresenta os piores índices sociais do Brasil como o IDH e PIB , onde municípios têm mais bolsas auxilio do que carteiras assinadas, numa equação reversa entrega 6 bilhões de reais e recebe quase o triplo. Compare os resultados obtidos em 10 anos de doações. No momento do dilúvio é preciso reparação do injusto encargo na presente situação.

Diferente do que ocorreu durante  a pandemia do Covid -19, com a política do fique em casa, os danos na economia foram severos, obrigando o governo a injetar 700 bilhões de reais para evitar o caos, mas a infraestrutura da nação não foi destruída, A situação do Rio Grande do Sul é muito distinta, o que exige novas decisões e mudanças de paradigmas tradicionais. Precisamos de bons gestores para crises e não de interventores jornalistas.

A atuação inicial dos voluntários foi fundamental para salvar vidas por primeiro, para depois alojar, vestir e alimentar os refugiados, a maioria só com a roupa do corpo  enquanto o imobilismo tradicional de estado paquidérmico não sai da tradicional letargia. Mas a atuação dos voluntários tem prazo de validade. O Rio Grande está destruído, como o Japão e a Alemanha do pós guerra, necessitando de fundos agora  e na veia para iniciar a recuperação e depois planejar em segundo plano como evitar e controlar futuros dilúvios. Esmolas, entrega de recursos de propriedade dos gaúchos, como a  devolução do IR pago a maior , não contam,

Como o governador afirma precisamos de um plano para galvanizar energias positivas, apenas um nome gauderio seria mais adequado, como Plano ou Projeto Farrapos como exemplo. Para isso precisamos do apoio dos nossos deputados federais e senadores em Brasília , bem como cobertura ampla em todos os meios de comunicação, pois a causa  é justa e interessa ao Brasil.

Durante 5 anos, como de direito, os impostos federais, mesmo em queda devem permanecer no Rio Grande, com administração de entidades civis e com as reivindicações dos prefeitos e das forças vivas do munícipio. Pois cada local sabe onde aperta o sapato. Como organizador não podemos esquecer o nosso governador, que foi eleito e conhece o Rio Grande e as  armadilhas e traições de Brasília. Hora de união total, como os  nossos antepassados fizeram quando nossas fronteiras estavam ameaçadas. Republicanos e imperiais lutam e morrem sob a mesma bandeira.

Durante cinco anos, com bandeira comum, agora que as forças vivas  e atuantes do RG foram despertadas podemos revitalizar o nosso querido RG, começando pela infraestrutura logística que foi destruída. São 200 bilhões provenientes do nosso trabalho, não do governo de Brasília, que o utiliza em finalidades não republicanas. Vamos recriar o RG dos nossos sonhos. A hora chegou e a nova  precisa alcançar todos os rincões do Rio Grande.

Importante , para desvendar o drama atual conhecer a topografia típica do RG, tendo ao norte, montanhas, morros e serras  com altitudes entre 500 a 1.000 nos cânions, entremeados por  vales sinuosos onde fluem uma rede de arroios, de riachos que vão engrossar outros maiores  como o Taquari, o Jacuí, o dos Sinos, o Uruguai, que rolam para planícies e coxilhas mais baixas onde o estuário e não lago do Guaíba é o ponto de encontro de muitos, para depois formar a Lagoa dos Patos e a barra do Rio Grande. Um sistema pluvial perfeito é formado , qualquer precipitação maior  vai chegar mais cedo ou não nos vales e cidades ribeirinhas. A antiga regra de  fundar as povoações  perto de rios e  riachos pode trazer problemas. Mas na Mesopotâmia, no Nilo, no Iêmen da Rainha de Sabá era importante saber controlar a irregularidade das águas.

Como  engenheiro e professor da UFRGS conhecendo o nosso Instituto e Laboratório de Hidrologia, onde fiz o meu  primeiro trabalho de pesquisa como estudante e sendo o atual reitor um especialista no assunto, já temos um embrião para rever, analisar e estudar a implantação de mini represas, com vertedouros e canais que desviem e levem a água para caminhos secundários. A partir do terceiro ano de execução do Plano ou Projeto Farrapos, após projetos, a implantação dessa rede de mini represas, além do controle das cheias, pode gerar energia elétrica barata para a micro região, controlar secas pela irrigação, incentivar a piscicultura para velhos pescadores e ter um caminho aquático  eficiente entre duas barragens. Seria projeto cidadão trazendo vantagens inerentes aos habitantes que teriam outras opções para lazer incluindo a pesca esportiva, uso de jet-skis e de lanchas. Com o controle local como a comunidade de Nova Roma demonstrou ao reconstruir ponte destruída em 2023 e agora, em 2024, a mesma aguenta um dilúvio, agora com nova vaquinha a missão é recuperar estradas obstruídas para  chegar a Farroupilha. Surge solução mais barata , mais rápida e de melhor qualidade; podemos fazer do limão uma revolução. Precisamos divulgar o método participativo. Pois  nos cálculos no governo a ponte iria exigir 24 milhões de reais e levaria quase dois anos para a conclusão. No entanto o interesse e a força da comunidade de Nova Roma, exemplo para o Brasil e para os seus políticos e dirigentes, em menos de 3 meses e a um custo de um terço do orçamento oficial,  foi aberta ao trafego ainda em 2023 com uma procissão onde o andor da padroeira da cidade á frente cortava a fita da inauguração. Como adendo a nova ponte resistiu a dilúvio nunca visto no Rio das Antas. Podemos iniciar novo modelo de governo. Outra façanha dos gaúchos.

Sirvam nossas façanhas de modelo , de modelo , a toda à Terra.

Obs:  Rio Grande foi a denominação dada ao nosso Estado quando o primeiro português, Martim Afonso de Souza, passou por nossa costa em 1532.

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  • Cesar Leite
  • 16 Maio 2024

Cesar Leite

       Os dias no Rio Grande do Sul estão sendo marcados por eventos trágicos e inéditos para a nossa geração: as inundações de proporções épicas que assolam o estado. Além dos números que traduzem a magnitude do desastre – mais de 2 milhões de pessoas diretamente afetadas, 447 dos 497 municípios atingidos,  em torno de 600 mil pessoas desabrigadas e uma dolorosa perda de vidas, na maior abrangência territorial de uma tragédia que se tem notícia – a história dessa catástrofe está sendo escrita pela força da natureza e, principalmente, pela capacidade espetacular e comovente de união e solidariedade do povo gaúcho, brasileiro e, em muitos casos, mundial.

Rodeados de águas, estamos presenciando uma manifestação incrível de compaixão e vontade de resolver cada nova situação e necessidade que aparece. Pessoalmente, na condição de quem está envolvido na linha de frente de várias iniciativas de mitigação da tragédia, posso dizer que são milhares de demandas e contextos e que nada parece impossível para esta gente brava e aguerrida.

Jet skis, barcos, botes e caiaques se tornaram instrumentos de resgate de pessoas e animais, enquanto as doações garantiam o suporte básico para os  desabrigados Nos mobilizamos de forma inédita e ágil, formando um verdadeiro mutirão de doações e ações voluntárias. Roupas, alimentos, água potável, itens de higiene, colchões, medicamentos, equipamentos de salvamento e toda sorte de itens para amenizar o sofrimento das vítimas.

A resposta imediata e contundente demonstra a pujança do espírito do nosso povo que recusa a se curvar diante das adversidades. A mobilização popular em conjunto com os vários instrumentos públicos de suporte e o braço amigo dos demais estados do nosso Brasil, estão sendo impulsionados por um sentimento genuíno de empatia e conexão a quem está precisando, transcendendo as diferenças e unindo a todos em um propósito comum: reconstruir e seguir em frente.

Diante disso, é fundamental manter a chama da solidariedade acesa e traduzi-la em ações efetivas e inteligentes. A superação dessa tragédia exige liderança, capacidade técnica (inclusive de quem já venceu este tipo de situação),  gestão transparente e eficiente dos recursos, união dos poderes e agilidade na ação, além da participação plural e ativa de toda a sociedade civil.

O caminho para a reconstrução será longo, custoso e árduo. A magnitude dos danos exige um esforço colossal, tanto em termos de recursos quanto de planejamento e capacidade de técnica de execução. Existem vários cálculos sendo feitos que estimam, neste momento,  que vamos precisar de R$30 bilhões para reparos emergenciais, outros R$20 bilhões para obras mais robustas e adicionais R$ 50 bilhões para uma reconstrução completa e resiliente, totalizando pelo menos R$ 100 bilhões por uma perspectiva preliminar do que precisaremos reconstruir e construir juntos.

É hora de unirmos forças, conhecimentos e expertise para reprincipiar o Rio Grande do Sul, não apenas repondo tijolos e estruturas, mas também fortalecendo a economia, a infraestrutura e os mecanismos de prevenção para evitar que eventos semelhantes se repitam, como muito foco no humano. Por outro lado, a tragédia que nos atinge também pode apresentar oportunidades de desenvolvermos um futuro inovador, diversificado, abrangente, seguro e próspero para o nosso amado estado.

As enchentes de 2024 são um marco trágico em nossa história, mas também podem ser pensadas como um testemunho eloquente da força do nosso povo. Quando a força da solidariedade vence a força da água, abrem-se espaços para desenvolver e construir juntos uma nova e vencedora realidade.

*      Enviado pelo autor. Publicado originalmente em https://dynamicmindset.com.br/

 

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  • Adriano Alves-Marreiros
  • 15 Maio 2024

Adriano Alves-Marreiros

“Quanto às minhas opiniões políticas, tenho duas, uma impossível, outra realizada. A impossível é a república de Platão. A realizada é o sistema representativo [a Monarquia]. É sobretudo como brasileiro que me agrada esta última opinião, e eu peço aos deuses (também creio nos deuses) que afastem do Brasil o sistema republicano, porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais alumiou."

Machado de Assis[1] (em dia de profecia)

      As caricaturas que faziam de D. Pedro II eram terríveis, achincalhadoras, ofensivas.  Defendia-se publicamente a derrubada da Monarquia e a implantação da República.  Diplomatas e autoridades de monarquias europeias escandalizavam-se com os ataques constantes ao Imperador e à Família Imperial, alguns achando até que, no velho Continente, aquelas críticas poderiam ser consideradas como crimes de alta traição, mesmo em monarquias bem liberais, como conta, por exemplo, o historiador José Murilo de Carvalho.  Mas, mesmo sendo o Imperador de um país continental, mesmo sendo o comandante da segunda maior Marinha do mundo, mesmo sendo parente de todas as monarquias ocidentais, D. Pedro II nunca teve o rei na barriga, se me permitem o trocadilho, nunca pretendeu ter um poder supremo e sempre foi contra a censura, sempre deixou que essa crítica corresse solta, nunca instaurou inquéritos de alta traição contra os críticos e nunca mandou a polícia prendê-los nem apreender as prensas e manuscritos de quem dele discordava...

Sempre tentaram pintar Pedro I para nós como alguém autoritário e é certo que ele teve lá alguns arroubos nesse sentido.  No entanto, tive o prazer de ler, nos meus vinte poucos anos, a picante obra do General Morivalde Calvet Fagundes – D. Pedro I na Intimidade[2].  Acreditem, ele narrava em deliciosas crônicas as aventuras amorosas de nosso primeiro Imperador: e com detalhes sórdidos.  Mas Calvet nasceu e viveu apenas em plena república:  escreveu o livro com base em notícias de jornais do I Império que ele pesquisou.  E não foram poucas histórias... Eram muitas as aventuras...  Apesar de todo o stress que isso devia lhe causar com a Imperatriz, apesar de contarem detalhes de sua intimidade e até de filhos que tivera, apesar  de exporem até  sua epilepsia, as histórias publicadas chegaram ao século XX, permitindo que o livro fosse feito, sem que se buscasse calar as fofocas e boatos das redes sociais “analógicas” da corte e das ruas, nem se criaram agências de checagem de falsas fofocas...[3]

Pois é... Mesmo sendo dois descendentes de reis, inclusive de reis Absolutistas do Iluminismo – os chamados déspotas esclarecidos (ILUMINISTAS!!!)  – nossos Imperadores nunca se autoatribuíram nenhum poder ou função iluminista nem resolveram censurar nem... editar os críticos...

Ah... É por isso que sou Monarquista: será que posso ser ou isso também é antidemocrático???

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto...”. – N. do autor.  Lembra desse texto? eles sempre esquecem de colocar o texto inteiro, especialmente este pedaço:

Essa foi a obra da República nos últimos anos"[4].

N. do autor. e nunca te mostram o texto inteiro[5] que também diz isto:

"E nesse esboroamento da justiça, a mais grave de todas as ruínas é a falta de penalidade aos criminosos confessos, é a falta de punição quando se aponta um crime que envolve um nome poderoso, apontado, indicado, que todos conhecem..." 

(se quiser conferir: Rui Barbosa - Discursos Parlamentares - Obras Completas - Vol. XLI - 1914 - TOMO III - pág. 86/87)

*      Publicado no saudoso Tribuna Diária em 24/08/2020

**    Adriano Alves Marreiros é admirador de Machado e dos Pedros.

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 

Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 

Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)

[1] https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-coluna-o-imperio-do-brasil-e-liberdade-de-imprensa.phtml

[2]< https://www.esteditora.com.br/DomPedroInaintimidade>

[3] Aliás, algumas histórias eram ainda do tempo do Reinado de D. João VI...

[5] https://sites.google.com/site/abcdamonarquia/rui-barbosa---texto-completo-de-famoso-discurso

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  • Dartagnan da Silva Zanela
  • 15 Maio 2024

Dartagnan da Silva Zanela

       Frequentemente ouvimos algumas vozes dizerem, com aquele ar de sobriedade postiça, que no mundo atual, seria de fundamental importância termos apenas "fontes confiáveis" para nos informar. Tal afirmação, à primeira vista, até parece bonitinha, porém, quando olhamos mais de perto, vemos com clareza o que de fato ela é.

De mais a mais, quais seriam as tais "fontes confiáveis"? Sejamos sinceros: todos nós, cada um ao seu modo, acaba se informando a esmo, conforme as notícias vão sendo atiradas em suas ventas pelos mais variados canais, considerando como confiável qualquer coisa que seja regurgitada pelo Jornal Nacional, ou por qualquer outra tranqueira similar, pela qual se nutre uma vaga afeição, nem um pouco criteriosa.

E por mil raios e trovões, quem será a excelsa autoridade, acima do bem e do mal, que dirá para todos que essa ou aquela seria uma "fonte confiável"? Quais critérios seriam utilizados para avaliar a credibilidade de algo? Aí, meu amigo, quando chegamos nesse ponto, é a hora em que a vaca vai para o brejo com corda e tudo, porque os critérios geralmente são tão vagos quanto maliciosos.

Diante dessa artificiosa preocupação, manifesta por algumas vozes, tem-se a impressão de que todos nós seríamos almas infantilizadas, com medo do bicho-papão e, por isso, carentes do auxílio de um "tiozinho censor" que nos diga que o dito-cujo não existe, que ele foi embora, que ele morreu de tédio, que ele é uma fake news ou qualquer coisa que o valha para que nos sintamos "em paz".

Ora, meu caro Watson, como diria Guimarães Rosa, viver é perigoso, logo, informar-se não é uma ação humana livre de riscos. Sempre há o risco da imprensa ter se enganado, ou dela ter sido enganada, como há também o risco dela estar nos enganando, de forma proposital ou não.

Não apenas isso! Nós podemos estar nos enganando com a forma leviana como consumimos as informações e isso, sou franco em dizer, é tão perigoso quanto as possibilidades anteriores, se não mais, porque é fruto da nossa desídia cognitiva, em misto com nossa curiosidade desordenada, que procura ter notícia de tudo, sem compreender nada para se escandalizar com qualquer coisa.

Por isso mesmo, a liberdade de acesso à informação é de fundamental importância para combatermos os enganos, os autoenganos e as atitudes maliciosas que se fazem presentes na vida de um modo geral.

O livre acesso a toda e qualquer informação, de forma descentralizada e distribuída, nos permite confrontar as várias versões dos fatos, os vários pontos de vista, para que possamos, se assim desejarmos, ter uma percepção mais clara dos acontecimentos e podermos tirar nossas próprias conclusões.

Sim, equivocar-se ou ser enganado é desconfortável. Sei disso. Mas um certo mal-estar faz parte do aprendizado de qualquer coisa e, por isso mesmo, procurar calar e censurar todos aqueles que não seguem o riscado da cartilha ideológica dos donos do poder é uma atitude claramente totalitária, e não há disfarce midiático que esconda essa peçonha.

Os defensores da censura, do tal "controle social da mídia", afirmam peremptoriamente que isso é para o bem de todos, para o restabelecimento da "verdade" e para salvar a "democracia".

Pois é, não sei quanto a vocês, mas essa conversa toda me lembra muito o blábláblá que era apresentado por Joseph Goebbels, quando estava à frente do Ministério da Propaganda e do Esclarecimento Público do Terceiro Reich, lembra muito o papo-furado dos editores do Pravda da URSS, porém, com uma nova e modernosa roupagem. Ou não? Bem, você decide.

Enfim, lembremos e, se possível for, jamais esqueçamos: todos aqueles que advogam em favor da censura não o fazem para combater fake news; o fazem para calar a verdade que esculhamba com suas mentiras oficiosas que, diga-se de passagem, não são poucas.

*   O autor, Dartagnan da Silva Zanela, é professor, escrevinhado, bebedor de café e autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.

 

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  • Adriano Alves-Marreiros
  • 13 Maio 2024

Adriano Alves-Marreiros

Sirvam nossas façanhas

de modelo a toda Terra.

Hino Riograndense

       Entendi de vez o Hino do Rio Grande, o trecho citado acima não é exagero: é fato!!!  Passei a compreender melhor a Farroupilha!  O orgulho gaúcho não é só por ter nascido aqui: é por viver aqui, por pelear aqui.

Quando via bandeiras do Rio Grande do sul nos carros de gaúchos vivendo em outros estados, achava curioso: a maioria não usa a bandeira de seu estado, alguns nem a reconhecem.

Quando via CTG (Centros de Tradições Gaúchas ) em todas as unidades da federação ou via famílias com a mateira pendurada a tiracolo em praias, aulas e clubes espalhados pelo Brasil, eu dizia, “Nossa, que tradição forte é essa?” Sempre longe dos pagos peleando por suas tradições...

O que explicaria tanto orgulho?

Vim a turismo  e percebi que era o estado mais bonito do Brasil (nem precisa de belas praias pra isso)  e muito mais: resolvemos vir para cá.  O mais belo por do sol do mundo é em Porto Alegre porque a cada dia é muito diferente em formas, textura e cor.  A uma, duas, três horas da capital há cidades lindas, hospitaleiras e cheias de surpresas.  Você não sabe o que é um baile ou até uma festa de rua até  ir a Bento, Igrejinha, Garibaldi.  Sabem organizar, sabem receber, que comida, que bebida, e digo mais, lembra daquelas histórias que circulavam da Copa e Olimpíada em que os japoneses limpam tudo antes de sair?  Bem, nessas festas do interior gaúcho eu nunca achei o que limpar, nunca achei lixo no chão...

Há muito tempo eu me entendo como gaúcho e até Amore Mio diz que sou muito mais gaúcho que carioca.  Chegava quase a ficar triste quando me perguntavam “Esse sotaque não é daqui, né” e respondia brincando, para afastar a tristeza “Você percebeu, né, sou de Bagé, Tchê”.  Entre os “mas, mas” iniciados pelo interlocutor, eu explicava, “Era carioca, mas decidi ser gaúcho, e se alguém disser que não sou, digo: BEM CAPAZ!!!”

Como já disse em outra crônica, já não preciso do Champagne se tenho os espumantes da serra e da campanha, não preciso de cachaça mineira se tenho a de Ivoti, prefiro o fondue daqui ao da Suíca (lá nem tem o rodízio de Fondue...) e não troco os casacos de couro gaúchos pelos florentinos.  Até whisky puro malte de primeira linha temos por aqui... Você pode achar que eu já sou gaúcho mesmo por estar exagerando: acertou no que sou, mas divulgou “fake News” ao dizer que exagero. Isso é que é “fake news“!  Agora, mais que nunca eu posso provar.

Eu sabia de desgraças que já se haviam abatido sobre o Rio Grande e que o povo gaúcho se levantara de todas, cada vez mais forte.  Uma tragédia imensa se abateu mais uma vez e o que estou vendo?  Estou vendo o povo sem tempo para enxugar as lágrimas, pois o usa para, de forma espontânea e voluntária,  salvar pessoas e animais, organizar abrigos, fazer, receber e distribuir doações...

Nunca vi tanto barco circulando em reboques, em cima de caminhonetes, em imparáveis  Fiats Uno  e até nos ombros de pessoas que os levam para locais alagados.  Pra você ter ideia, o amigo da Moira, um empreiteiro que fazia obra no condomínio dela, quando viu o início da desgraça, prestem bem atenção: saiu pra comprar um barco e motor (ele não tinha nenhum!) pegou os 14 filhos e foi salvar e ajudar.  Maria, nervosa com a família em Eldorado, também foi sem experiência nenhuma ajudar em resgates de muitos desconhecidos antes mesmo de seus parentes serem salvos, até barco comprou, está endividada, pegou leptospirose, mas também está na galeria dos heróis. 

Jipeiros com veículos novinhos e customizados levaram os veículos para cumprirem seu destinos e, com ou sem snorkel, estão entrando em locais quase submersos, com o carro quase coberto, interior alagado mas só pensando em ajudar.  Pessoas comuns  metem seus jet-skis em agua podre e sem transparência, levando-os ao limite para salvar pessoas e animais que não conheciam.  Jogadores de futebol que vivem de sua incolumidade física, entram na agua imunda, levam idosas nas costas, fazem esforços que podem causar lesões, levam veículos, jet-skis, trazem aeronaves, recrutam amigos, fazem donativos, servem comida.  Até os que achávamos antipáticos e de times rivais mostram o quão humanos são...

Restaurantes que não podem funcionar por falta d’água, apesar do prejuízo decorrente, estão fazendo quentinhas para desabrigados e voluntários.  Os tais CTG são quase todos abrigos, além de muitas Igrejas, colégios, galpões com um ponto comum entre todos: essencialmente trabalho não só voluntário, mas espontâneo. 

Artur oferece um gerador e vai lá instalar...  Seu Ivan não sabe nadar mas, num caiaque em aguas sujas e perigosas  resgatou 300! Ele tem quase 60 anos... Mas não sabemos o nome da imensa maioria de heróis anônimos nem sabemos de todas as façanhas que devem servir de modelo...

O amor contagia, o verdadeiro amor contagia, digo, e tenho buscado também participar disso: como Capitão de Infantaria, mesmo da reserva, teria vergonha de manter meus pés secos diante de uma enchente como essa.  Tenho buscado participar também mas ainda é pouco, diante de tudo que testemunho: não sou herói como tantos, só não sou omisso.  Fernanda está no front. Não poderia ser um dos que só olham, criticam e reclamam... 

Pessoas de outros estados, contagiadas pelo amor, também buscam obter e remeter doações, emprestam helicópteros, aviões, organizam comboios humanitários... Surfistas famosos colocam seus jet-skis caríssimos e novinhos na lama e no esgoto sem transparência, danificando-os, consertando e prosseguindo.  3 Atletas não vão ao pré-olímpico de remo para ajudarem o Rio Grande: estão abdicando do sonho olímpico!!!  Nunca entendi muito bem aquela medalha Barão de Coubertin, sempre achei que ela era dada por motivos nem sempre relevantes... sei lá,  mas se alguém merece recebê-la, se alguém tem espírito olímpico, de congraçamento, é quem é capaz disso: verdadeiros heróis olímpicos, mais que olímpicos heróis com valores cristãos!

Mas, mais que todos os recursos e meios, a prova do amor envolvido, contagiante, é que as pessoas estão doando seu tempo, a exemplo da Lúcia, que nem dormir queria pra não parar de ajudar.  E tempo é uma das coisas mais valiosas de que dispomos. Quando o damos de coração pelo próximo, isso é amor, o de verdade, não da boca pra fora...

Parabéns também a todas as instituições públicas que estão agindo, algumas também por voluntariado, mas o assunto aqui é sobre esses voluntários que sem esperar já começaram do primeiro momento, é sobre esse amor contagiante vindo do povo gaúcho, nunca vi nada parecido antes, e que atingiu pessoas de bem em todo o Brasil consolidando aquele que já estava em mim pelos mais variados e óbvios motivos e, era previsível, sou, de vez, um Gaúcho.  Saibam todos que um carioca nascido na saudosa Guanabara renunciou a esse título para ser definitivamente gaúcho compartilhando valores, convicção, coragem e resistência, tchê!

E a quem disser que não sou, direi; “Bem capaz!!!

Feito!!!

Esta história será ensinada pelo bom homem ao filho e, desde este dia até o fim do mundo, a festa de São Crispim e São Crispiniano nunca passará sem que esteja associada à nossa recordação, de nosso pequeno exército, de nosso feliz pequeno exército, de nosso bando de irmãos; porque, aquele que hoje verter o sangue comigo será meu irmão; por mais vil que seja, esta jornada enobrecerá sua condição e os cavaleiros que agora permanecem na Inglaterra, deitados no leito, sentir-se-ão amaldiçoados pelo fato rebaixada a própria nobreza, quando ouvir falar um daqueles que combateram conosco no dia de São Crispim!. (Henrique V – W.Shakespeare)

Que o Senhor proteja o Rio Grande!!!

*       O autor, Adriano Alves-Marreiros, é gaúcho de corpo e alma!

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 

Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 

Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção ao Rio Grande e a esses Heróis eu suplico)

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 13 Maio 2024


Alex Pipkin

 
A tragédia no RS é incomensurável. Tristeza.

Não há nada mais importante do que vidas humanas.

Contudo, o ocorrido no RS serve para fazer com que “desavisados” reflitam sobre o verdadeiro papel do Estado. O ex-presidente americano Ronald Reagan tinha razão, quando afirmava que “o governo não é a solução para o nosso problema; o governo é o problema”.

Nesse país chamado Brasil, repleto de mazelas sociais e econômicas, mentes incautas foram intensamente treinadas para pensar que o governo sempre será o salvador da pátria.

Especialmente, o atual desgoverno perdulário e incompetente, faz os cidadãos pensarem que “o saco não tem fundos”. No entanto, o governo não cria riqueza; tudo que ele dá, já retirou vorazmente do cidadão pela via da tributação escorchante.

O (des)ensino presente, faz parte da estratégia de uma elite podre, que dá as cartas sobre os destinos nesta republiqueta verde-amarela. À ex-mídia, que é sócia deste atual desgoverno, atua fortemente para mentir e distorcer os fatos objetivos. Os midiáticos progressistas são exitosos em gerar mais conflitos e divisões sociais perniciosas para todos os brasileiros.

Evidente que existe uma série de distinções entre a gestão pública e a privada. Na pública, não se nota uma conexão entre receitas e despesas. A pública não se move em função do incentivo lucro e, nesta, pulula o lado perverso da burocracia. Via de regra, o corolário são administrações estatais lentas, ineficientes e corruptas, que jogam recursos pelo ralo.

Apesar disto, pode-se notar que determinadas gestões são mais competentes e honestas do que outras, em especial, no comparativo com as desastrosas gestões petistas.

A calamidade no RS me faz pensar em dois pontos cruciais. O primeiro é sobre como o aparato estatal tem expandido suas garras afiadas para se intrometer e ceifar as vitais liberdades individuais. O governo deseja, ao cabo, o controle total sobre nossas vidas.

É de causar náuseas constatar que na presente situação calamitosa do RS, agentes estatais estejam exigindo notas fiscais sobre doações, laudos de nutricionistas sobre doações de alimentos, e um arsenal de outras exigências burocráticas num período de exceção. Pessoas e famílias perderam tudo! Precisam de um local para dormir e comer, minimamente.

É repugnante assistir cenas relacionadas a tais situações grotescas e, mais ainda, ver “jornalistas do partido”, mentindo descaradamente sobre tais fatos.

A politização da tragédia gaúcha é de embrulhar qualquer estômago.

O segundo ponto é ainda mais “iluminador”. Importante frisar que é ELE o criador de nossas liberdades essenciais, não os semideuses do desgoverno.

A tragédia gaúcha tem evidenciado que é a sociedade civil organizada, a força associativa das pessoas, e de parte do empresariado, quem, de fato, têm auxiliado e salvo vidas.

Como tem sido presenciado a olhos nus, o governo é o problema. iscursos, retóricas, falhas grosseiras e promessas. Mas o povo gaúcho é de brio! Voluntários gaúchos e brasileiros, entidades empresariais, religiosas e comunitárias, junto com os bombeiros (estatal que funciona), são os verdadeiros responsáveis por salvar pessoas, fornecendo abrigo, comida, roupas e outras necessidades requeridas.

Se é possível observar um “lado bom” nesta tragédia, este está na patente exposição dos reais responsáveis pelo salvamento de vidas humanas. Despertem! A resposta para os problemas das pessoas nunca virá do gigantesco Estado - ineficiente.

Tais soluções, apesar do Estado, sempre serão dependentes dos verdadeiros criadores de riqueza: as pessoas e as empresas.

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