Silvio Lopes
Quem de nós, no Brasil, nunca parou para refletir sobre o porquê deste país cheio de riquezas, de potencial extraordinário ainda estar longe de se tornar uma grande nação, mas continua sendo um vasto e tenebroso albergue?
Somos o que se pode dizer um país que tinha tudo para dar certo, e deu errado; enquanto isso, há países que tinham tudo para dar errado, e deram certo? Qual o nosso problema? Afinal, qual é o segredo da pujança e da prosperidade?
Como uma pessoa atacada por um câncer no seu organismo, o Brasil, no final dos anos 70 (os mais gloriosos do ponto de vista da realidade econômica), contraiu o pior dos cânceres e que se tornou pandêmico na alma de nossa atividade política. Não é preciso martelar muito para descobrir que à essa época uma pequena célula cancerígena, de notável poder de metástase, passou a tomar conta de mentes e corações dos brasileiros e brasileiras.
Daí em diante, tratou-se de minar e destruir toda e qualquer estrutura institucional que servisse como potencial predadora do mal e das artimanhas erigidas para sepultar nossos sonhos de fazer deste país a tão sonhada grande nação. Deu no que deu.
Nosso projeto de sociedade com ordem, justiça, liberdade e prosperidade, falhou. Aliás, falhou pode não ser o mais exato. Foi "boicotado". E o foi, justamente, a partir desse câncer com nome de partido político que só nos tem trazido engodo, desesperança e temor pelo que ainda poderá vir por aí.
Sob o mantra de defender a "democracia", essa gente despudorada e canalha nos está condenando à mais abjeta e desumana condição: de servidão absoluta ao poder do Estado. Uma tragédia sem fim. Que pode, aliás, não ter volta!
E de um Estado que se tornou império da corrupção, cujas intervenções se fundam na compra de clientelas, distribuindo cargos e empregos aos milhares aos amigos dos "donos do poder". Um Estado que rechaça o talento, a meritocracia e premia, antes, o servilismo e a condição imoral e antiética dos apaniguados.
Tudo a ver com os dias de hoje. A verdade da vida está agonizando. Como bem profetizou José Saramago..."O tempo das verdades plenas acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na e da mentira todos os dias". É desalentador. Que tristeza.
* O autor, Sílvio Lopes, é jornalista, economista e palestrante.
Valterlucio B. Campelo
Nos últimos dias, a extrema-esquerda, aquela que nem bateu o mofo do marxismo-leninismo e já se enrola no wokeismo uns 150 anos mais jovem, com aspirações revolucionárias, resolveu no Acre anunciar uma possível candidatura às eleições para a prefeitura de Rio Branco. Tem, penso, o direito e o dever de fazê-lo, de disseminar, debater e testar a adesão da população à sua agenda. Os dados do último pleito em que o PSol participou com candidatura própria não parecem animadores, mas, considerando-se as circunstâncias, este não é o problema.
Com muitos anos de estrada, chega uma hora em que nos obrigamos a sempre perguntar o porquê das coisas, dos fatos, das declarações, das coincidências… deve ser o vezo de quem viveu. É o caso, portanto, de se perguntar quais as razões mesmas da candidatura psolista, além de aproveitar o espaço para difusão de suas ideias.
Em entrevista recente a um programa de TV, o pretenso candidato, recém-ingresso no Psol vindo (surpresa!) do Partido dos Trabalhadores, através do qual já exerceu o cargo de secretário no governo estadual, ensaiou alguns pontos de debate. Quer, segundo ele, pautar os interesses das classes menos assistidas, deseja sair da discussão paroquial para questões de fundo relativa a direitos sociais pouco ou não atendidos pelo poder público, sugere formas de participação popular, admira o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST, etc. Alvíssaras! Temos um candidato corajoso, assumidamente ideológico e de esquerda na disputa.
Vendo a entrevista, eu estava até animado com a qualificação e serenidade do socialista-pastor, afinal, venho defendendo que nem só de asfalto vive o eleitor, mas também e, principalmente, de sua visão de mundo, quando, lá pelas tantas, o futuro pré-candidato psolista danou-se a falar bem do adversário (?), candidato do PT-MDB, Marcus Alexandre, elogiando-o e se esforçando ao máximo para deslocá-lo da esquerda para o centro, como, aliás, já fizera anteriormente o próprio Marcus no mesmo espaço de entrevistas, quando repetiu várias vezes o mantra da hora “eu sou de centro”.
Oxente! Foi aí que os meus neurônios se inquietaram. Bem, temos então mais um motivo, dessa vez funcional, para o surgimento de uma candidatura de esquerda sem mínimas ambições eleitorais. Parece que antevendo a carga ideológica da campanha, a esquerda está cuidando de criar um escudo contra os disparos que virão das candidaturas à direita, uma espécie de para-raios incumbido de atrair o debate mais ácido, livrando das discussões de pautas incômodas o peemedebista amnésico, enquanto o empurra para o centro.
Não é genial? O candidato A da esquerda, devidamente desideologizado, se apresenta para falar da paróquia, das praças, dos acertos e compromissos, dos projetos e melhorias para os bairros, da prestação dos melhores serviços etc., e o candidato B, sua “altera facie”, enfrenta as questões inconvenientes relacionadas ao desastre ético, moral, econômico, político e social da esquerda e do governo lulopetista. Não, não é genial, é bastante previsível.
Embora neguem terminantemente, o fato é que a polarização esquerda-direita, maximamente representada no Brasil pelo lulopetismo versus bolsonarismo vem fazendo com que as candidaturas maleficiadas pelo confronto procurem saídas. Uma delas é puxar o debate para o paroquialismo despolitizado, outra, como se vê, é arranjar um zagueiro-esquerdo para interditar as boladas destras.
Segundo a pesquisa publicada nesta segunda-feira pelo Instituto de Pesquisas e Consultoria – IPEC (ex-IBOPE), visceralmente alinhado com a Rede Globo, no Brasil a direita tem a preferência da maioria do eleitorado, na base de o DOBRO em relação à esquerda. Se considerarmos as últimas eleições, pode-se especular que no Acre os dados são ainda mais expressivos dessa tendência. Então, é o seguinte: A esquerda, verdadeiramente representada pelo candidato do PT-MDB diz que não, mas está se borrando de medo de que o bolsonarismo (defesa da vida, liberdade, família e propriedade), de algum modo contagie a campanha e ganhe majoritariamente o centro. Com o lulopetismo tatuado bem na testa, não se sabe até que ponto esse fingimento será mantido e se surtirá os efeitos desejados. Desconfio de que o eleitorado percebe, só desconfio.
* O autor, Valterlucio Bessa Campelo, escreve às segundas-feiras no site AC24HORASe, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS e em outros sites. Quem desejar adquirir seu livro mais recente “Pronto, Contei!”, pode fazê-lo através do e-mail valbcampelo@gmail.com
Dartagnan da Silva Zanela
Muitas são as conquistas e perdas que obtemos no correr de nossa jornada. De todas as perdas, com certeza a mais temível é a perda da coragem. Como nos lembra Miguel de Cervantes, ao perdê-la, perdemos tudo.
Desde priscas eras, o medo foi utilizado como uma arma política; arma essa que insufla na alma de suas vítimas uma percepção distorcida da realidade, levando os indivíduos a abrirem mão de suas liberdades por qualquer coisa que lhes traga alguma sensação de segurança. Não é à toa, como nos lembra o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que o número de pessoas angustiadas, nos últimos anos, cresceu tanto.
Já o filósofo italiano Giorgio Agamben, em suas cáusticas críticas à política contemporânea, nos chama a atenção para o fato de que, atualmente, o "Estado de Exceção" tornou-se a regra. Desde ameaças terroristas até crises sanitárias são usadas como subterfúgio para implementar, de forma nada sutil, novos mecanismos de controle da população civil.
Claro que tais medidas, necessariamente, precisam do apoio de uma câmara de eco midiática para amplificar o medo junto a população, quando lhes convêm, e disseminar a crença de que apenas medidas draconianas de restrição das liberdades fundamentais poderão garantir que as pessoas possam ser devidamente protegidas, cultivando no coração dos cidadãos um misto de superstição e credulidade frente as oficiosas vozes midiáticas e junto as potestades Estatais.
E vejam só como esse mecanismo, denunciado por Agamben, é curioso. Qualquer um que ouse exercitar a sua consciência para analisar os fatos, e tenha o disparate de manifestar alguma crítica contra os donos do poder e seus vassalos midiáticos, não serão vistos pelo que são: cidadãos exercendo a liberdade de expressar-se. Serão vistos como indivíduos que estariam "agredindo autoridades", "atacando a democracia", "disseminando fake news", "espalhando o ódio" e etc.
Ora, desde que andar para frente deixou de ser novidade, dificilmente uma pessoa que é criticada fica feliz em sê-lo. Críticas são, por sua natureza, desconfortáveis e, por isso mesmo, indispensáveis para que possamos sanar as nossas possíveis imperfeições, tanto a nível pessoal como em escala macrossocial.
De mais a mais, desde quando a manifestação de uma crítica é um ataque à democracia? Desde quando criticar as autoridades, em uma sociedade democrática, tornou-se um ato de agressão? Desde o momento em que o Estado de Exceção tornou-se a regra.
Essa tentação totalitária leva à edificação forçada de um consenso que não tolera ser questionado. Mas não foi a quebra de inúmeros consensos que promoveu boleiras de boas mudanças? A quebra de consensos não era um traço distintivo das mentes esclarecidas frente a mediocridade de suas respectivas épocas? Pois é, mas hoje os tempos são outros e, por isso, externar críticas ao Estado, aos donos do poder, a forma deficitária de funcionamento do sistema político e demais assuntos, tornou-se uma "ameaça violenta contra o Estado Democrático de Direito".
Não é à toa, nem por acaso que, de acordo com uma pesquisa fresquinha, aproximadamente 61% dos brasileiros têm medo de dizer e de escrever o que pensam. E quando vamos nos acostumando a ter medo de dizer o que pensamos, com o tempo, sem que percebamos, vamos deixando de pensar a respeito dos assuntos que tememos dizer ou escrever algo, chegando, deste modo, ao auge do totalitarismo, interiorizando o mecanismo de censura.
Enfim, ao que tudo indica, e à luz da sabedoria de Cervantes, a sociedade brasileira não está muito longe de perder tudo.
* O autor é professor, escrevinhador e bebedor de café, autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.
Gilberto Simões Pires
RESERVA DE MERCADO
Até pouco tempo atrás, o JORNALISMO era uma PROFISSÃO RESERVADA apenas a quem se dispusesse a cursar, e obter o DIPLOMA DE JORNALISTA em alguma FACULDADE da área da COMUNICAÇÃO. Fora disso, por conta de uma absurda -RESERVA DE MERCADO-, todos aqueles que, por conta própria e vontade, se propusessem a APURAR e INVESTIGAR FATOS, APRESENTAR NOTÍCIAS, FAZER REPORTAGENS e/ou ENTREVISTAS, eram simplesmente IMPEDIDOS DE TRABALHAR.
REDES SOCIAIS
Com a chegada da INTERNET e do incessante avanço da tecnologia, que deu lugar à importante criação e o desenvolvimento das REDES SOCIAIS, todas as pessoas, independente do que faziam e continuam fazendo, fazendo uso apenas de seu SMARTFONE, se transformaram em JORNALISTAS AMADORES, do tipo que não têm o menor interesse em atuar na área da COMUNICAÇÃO pela via REMUNERADA, ou PROFISSIONAL. Com isso, gostem ou não, a partir daí ficou mais do que evidente que o AMADORISMO matou o PROFISSIONALISMO. Mesmo levando em conta que os PROFISSIONAIS também INVADIRAM AS REDES SOCIAIS...
DONOS DO PEDAÇO
Esta realidade -incontestável- mais do que sabido, provocou uma imensa reação de parte dos MONOPOLISTAS, que, como DONOS DO PEDAÇO, entendiam que só os detentores do DIPLOMA DE JORNALISTA seriam capazes de FILMAR, GRAVAR, EXPOR FATOS ON-LINE, ENTREVISTAR E POSTAR o que, MOMENTO A MOMENTO estava acontecendo.
FAKE NEWS
Pois, nesta vã tentativa de IMPEDIR que o povo deixe de FAZER O PAPEL DE -JORNALISTA-, de forma AMADORÍSTICA OU PROFISSIONAL, o GRUPO FORMADO PELO CONSÓRCIO DA MÍDIA ABUTRE, PELOS APOIADORES DO GOVERNO LULA, ASSIM COMO O STF E O TSE, acharam por bem colocar na mira o firme interesse em INIBIR, e, se possível ACABAR COM AS REDES SOCIAIS. Para tanto, trataram de classificar tudo aquilo que não foi dito, apurado e investigado por JORNALISTAS DIPLOMADOS como -FAKE NEWS-. E como tal os -AMADORES-devem ser presos e condenados sem perdão.
TEOREMA DE PITÁGORAS
Mais: a SANHA DE PERSEGUIÇÃO é de tal ordem que basta, por exemplo, algum JORNALISTA -AMADOR- postar uma mensagem dizendo que concorda com o TEOREMA DE PITÁGORAS, que prova, matematicamente, que O QUADRADO DA HIPOTENUSA É EXATAMENTE IGUAL À SOMA DOS QUADRADOS DOS CATETOS-, o mesmo já é imediatamente rotulado como NEGACONISTA, FASCISTA, ANTIDEMOCRÁTICO, tudo porque resolveu ESPALHAR uma -FAKE NEWS-.
Alex Pipkin, PhD
O Brasil é uma nau desgovernada. Não há dúvidas, são os fatos objetivos. Singelo perceber, além de ter sido algo bastante previsível. O modelo do Estado grande, do suposto bem-estar social, do assistencialismo sem assistência, faz tempo, está falido.
O atual desgoverno, perdulário e incompetente para prover o genuíno bem comum, mesmo com a “ideia fixa de arrecadar”, deve terminar 2024 com uma dívida pública bruta acima de 77% do PIB. Em síntese, as despesas governamentais - retoricamente em favor do povaréu - são maiores do que a arrecadação com tributos, contribuições e outras receitas.
Apesar da calamidade fiscal tupiniquim, autoridades do atual desgoverno só pensam em gastar mais, negligenciando a vital disciplina fiscal, e demonstrando total despreocupação com a redução de custos da mastodôntica estrutura estatal - ineficiente.
O “plano de salvação” desse calamitoso Estado assistencialista é sempre o mesmo: tributar ainda mais os criadores de riqueza, as pessoas e as empresas. Eles salivam como cães de Pavlov com o verbo taxar. A sociedade brasileira não aguenta mais carregar o fardo de sísifo, a fim de sustentar uma elite estatal completamente privilegiada e uma nata do funcionalismo público abastada, de maneira desproporcional. Além disso, as pessoas, coercitivamente, devem ser sócias de um clube assistencialista, provedor de programas sociais ineficientes e, muitos desses, ideológicos.
O intervencionismo estatal é tão inepto e maldoso que vai de encontro aos próprios interesses das pessoas e dos setores envolvidos. Por exemplo, no caso do projeto governamental que se intromete no setor de motoristas de aplicativos, a título de garantir “direitos trabalhistas” aos motoristas, a maioria dos operadores é contrária ao projeto. Além de muitos deles não poderem mais operar nesta modalidade, a remuneração desses cairá drasticamente.
O assistencialismo promete benefícios à população que não entrega, retirando os recursos dos operadores, que verdadeiramente não necessitam de babás, e que sabem dar um melhor destino aos frutos de seu trabalho, de acordo com seus próprios objetivos e planos de vida.
Em praticamente tudo que o Estado assistencialista prove e administra, a operação da iniciativa privada seria mais eficiente, e realizada com menores custos.
Vejam o caso do ensino público brasileiro, notadamente caro e de muito baixa qualidade. São os fatos, os comparativos internacionais comprovam cabalmente tal situação.
A ideia de “universidade para todos” é populista e improdutiva. Nivela-se por baixo e, na verdade, aumenta-se o volume de desemprego de “indivíduos educados”, agora dotados de canudo. Por outro lado, reduz-se o número de técnicos e de pessoas com habilidades comerciais, em mecânica, em serviços especializados, entre outras. A sociedade brasileira é onerada absurdamente, e recebe como contrapartida serviços públicos burocráticos e de baixa qualidade.
Ao cabo, o assistencialismo desenfreado é mais uma maquiagem que faz parecer ser que a vida do indivíduo comum progride, mas que, de fato, prejudica grandemente todo o tecido social nacional.
Políticos incompetentes querem somente se locupletar com o desastre disfarçado de “bondade”, aquele que produz votos. Eles se sentem confortáveis em tributar e aniquilar o povo, manejando ao seu bel prazer a vida dos amigos da corte.
O modelo assistencialista é uma falácia. Evidente que o indivíduo, com os seus recursos no seu próprio bolso, tomaria as suas melhores decisões.
Contudo, com o atual desgoverno perdulário e incompetente, está-se muito longe de se presenciar uma mudança de rumo quanto ao modelo enraizado.
Mesmo com a nau totalmente desgovernada, a trupe petista dá de ombros para a extrema necessidade de cortar gastos do governo. Ou melhor, do desgoverno.
A projeção, pelo contrário, é de mais gastos governamentais, mais tributação, maior descontrole e, evidente, a conta da incompetência sendo repassada para os cidadãos.
Calamidade fiscal, social e moral.
Luiz Guedes Neto
Tenho observado, após os primeiros dias do desastre ocorrido no Rio Grande do Sul, vozes[1], sobretudo de outros Estados da federação, ressurgindo em coro e apresentando como solução para as ditas fake news a regulação da internet, mais precisamente das redes sociais. As vozes que ecoam a necessidade da aludida regulação afirmam que as notícias consideradas, por elas, mentirosas, atrapalham o esforço no resgate das vítimas. Além de mencionar a necessidade regulatória, enfatizam que tal regulação precisa ser feita imediatamente.
Preocupa-me o apelo à emoção para tratar de assunto sensível e importante para a sociedade civil. A emoção faz parte do nosso dia a dia, porém não devemos agir baseados apenas nela. Devemos, sobretudo, agirmos de forma racional, tanto como indivíduo, quanto como sociedade. E a razão orienta a analisar os fatos e as circunstâncias com cautela, observando detidamente os prós e os contras de qualquer proposta de lei. E, em relação à eventual proposta de lei sobre a limitação do direito fundamental de expressão do pensamento e/ou dos fatos, o cuidado deve ser redobrado, pois corre-se o risco de criação de monopólio na transmissão das notícias. E isso não é desejável para a sociedade que pretende permanecer democrática.
Apesar da grande maioria utilizar a internet diariamente, pouquíssimos conseguem constatar a grande utilidade desse instrumento como facilitador na troca de informações entre as pessoas. Através dessa rede, milhões de pessoas trocam mensagens diariamente e têm acesso às notícias de várias partes do mundo de forma descentralizada e distribuída, sem depender exclusivamente das tradicionais redes de comunicação (televisão e rádio). Quantos canais de televisão aberta tem o Brasil? Lembro-me de uns quatro apenas. Quantos blogs, canais do Youtube, perfis no X.com, Instagram, há? Milhares, e a cada momento podem surgir vários outros.
Quantas realidades só nos chegam porque alguém, possuindo um simples celular nas mãos, dispõe-se a registrar os fatos e a transmiti-los na internet para quem quiser ver? Milhares. Antes da internet, e mormente das redes sociais, só tínhamos acesso aos fatos e às realidades após a filtragem dos canais tradicionais de comunicação. O que você prefere, a primeira ou a segunda situação?
Em relação à resposta estatal ao desastre ocorrido no Rio Grande do Sul, não foram as notícias divulgadas pelas redes sociais que causaram a dificuldade na resposta estatal, mas sim a falta[2] de coordenação prévia do aparato estatal, nas três esferas. A internet apenas desvelou o acontecimento e as pessoas puderam tomar conhecimento da realidade daqueles locais, mesmo morando longe. A rede mundial de computadores também permitiu que as pessoas diretamente atingidas pelo evento pudessem expressar as suas dores e os seus pedidos de socorro, que, sem a internet, permaneceriam inaudíveis, ou as ondas de som desses pedidos sofreriam refração nos meios oficiais e chegariam modificados aos ouvintes finais.
Se você pretende continuar tendo uma certa liberdade de expressão na internet, que pode ser considerada a ágora do Século XXI, pense bem antes de aderir ao movimento de manada que conclama uma regulação restritiva das redes sociais e demais plataformas hospedadas na internet. É importante saber compreender bem as palavras proferidas nos brados por regulação das mídias digitais. Regular não significa necessariamente impedir o cometimento de crimes, mas sim a limitação da liberdade de expressão das pessoas, inclusive daquelas que não cometeram crime.
A legislação já pune quem comete crimes na internet, não necessitando de mais normas para tanto. Então, pense bem, se já há legislação para punir quem colete ilícitos penais e civis através da internet, então, para que a insistência na regulação das redes sociais? Sei que você, leitor, é uma pessoa inteligente, mas, mesmo assim, direi para que serviria uma regulação das mídias digitais: para limitar a pouca liberdade de expressão que eu e você temos.
O melhor ambiente para se combater inverdades, ou, conforme expressão da moda, fake news, é a livre circulação de notícias. Com o livre trânsito dessas, os fatos verdadeiros, quando confrontados, acabam prevalecendo no “mercado” das trocas voluntárias de notícias[3] realizado entre as pessoas. Limitar ou proibir a divulgação não ajuda na busca da verdade, mas favorece aquele que for escolhido, pela lei, como fonte oficial de veiculação de “notícias” e o ente ou entidade beneficiada pela aludida “notícia”. Lei essa que será fruto do poder de pressão de quem de fato detém o poder. E parece que o poder emana do povo apenas na letra fria da Constituição brasileira, sem encontrar amparo na realidade factual.
Se você estiver pensando agora em como ficará a pessoa que, de forma intencional, cria e propala inverdades, não se preocupe. Já há instrumentos legais para essa pessoa responder pelos ilícitos, tanto na esfera penal quanto na cível. Quem se sentir prejudicado por alguma publicação, poderá, através de processo judicial, com garantia ao contraditório e à ampla defesa, pleitear a remoção da publicação e a reparação dos danos.
Desta forma, precisamos ter cuidado para não estarmos agindo sob o efeito manada e pedindo por algo que possa resultar em um instrumento de controle e de diminuição da nossa liberdade de expressão, sob a promessa de combate às fake news. A liberdade de expressão, uma vez perdida, é muito difícil de recuperar. Não se esqueça disso antes de cogitar em aderir a algum movimento regulatório da liberdade de expressão.
[1] Autoridades públicas e integrantes da imprensa.
[2] Ou coordenação ineficiente.
[3] Envio e recebimento de notícias/informação sobre fatos.