• 16/01/2016
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ENTREVISTA SOBRE O HORIZONTE DE 2016, PUBLICADA NO DIÁRIO DE SANTA MARIA

- Frente a um cenário de incerteza na política (com a possibilidade de ganhar corpo um movimento de impeachment) há quem diga que a presidente Dilma deva sair. Ao mesmo tempo, o Congresso está numa crise sem precedentes, com o presidente de uma das Casas, Eduardo Cunha, contabilizando denúncias sucessivas de corrupção. Frente a tudo isso, o que podemos, dentro do possível, traçar como cenário para a política nacional em 2016?

PUGGINA - É o velho problema das nossas mal costuradas instituições, gerando a mas grave crise política, econômica e moral de nossa história. E a crise social mal começou. O que deveria ser normal numa democracia moderna - a substituição de péssima governante que se elegeu em flagrante estelionato eleitoral e cometeu crime de responsabilidade certificado pelo TCU - pode ficar sem solução. Duas dezenas de ministros e ex-ministros do atual governo estão sob investigação. Presidentes da Câmara e do Senado sob gravíssimas acusações. O país afunda num misto de recessão, inflação e corrupção. E eu vejo o governo preocupado apenas com ele mesmo. Apelar à Justiça? Quem confia nesse STF, após o julgamento da ADPF 378 que definiu o rito do processo de impeachment? Até quando vamos esperar algo melhor desse modelo institucional ficha-suja?

- A outra questão que temos é a crise sem precedentes em que o Estado gaúcho está, com um governo que afirma estar "administrando a escassez" e o funcionalismo público em um calvário quase que todo mês, não sabendo se terá seu salário depositado. O que se pode projetar para o cenário do Estado e para a sociedade gaúcha em 2016?

PUGGINA - Chega a ser assustador perceber que enquanto entra em vida vegetativa, a despesa supera a receita em vários bilhões de reais, a oposição rejeita a proposta de uma Lei de Responsabilidade Fiscal estadual! Ora, quem é contra a responsabilidade fiscal está se declarando a favor da irresponsabilidade fiscal. Entende-se, então, o que aconteceu no quadriênio anterior e as políticas que, aplicadas em âmbito nacional, levaram nosso país à condição de potencial mau pagador. O ano de 2016 precisa ser dedicado à redução do peso do Estado e de seu custo. Será muito difícil para quem, de algum modo, depende das receitas públicas, seja como usuário de suas ações essenciais, seja como servidor, ativo, inativo ou pensionista do Poder Executivo.

- Ainda na política, a tendência é que tenhamos um crescimento da aversão das pessoas à classe política? O 'fim' dos partidos terá começado com a derrocada do PT, que sempre apregoou ser uma referência de ética e de combate ao fisiologismo?

PUGGINA - O PT, com dois tesoureiros presos, já fez o suficiente para se sujeitar às sanções previstas. Mas não considero isso provável. Muito certamente perderá tamanho e substância. Outras legendas se beneficiarão da migração que vai ocorrer. Mas não é esse o problema principal. Além da irracionalidade do modelo institucional, a gerar arremedos de partidos políticos, durante os últimos 25 anos o Brasil foi submetido a uma doutrinação que tende a empurrar parcela significativa do eleitorado para a esquerda, de onde só sai um pouco mais disso que já está aí. É uma opção paralisante, que combate a responsabilidade fiscal, a meritocracia, as privatizações, o livre mercado, o direito de propriedade, e por aí vai.

- Por fim, na economia, o Estado e o país precisam rever suas finanças, jogando o cidadão a pagar por serviços cada vez mais caros. Até que ponto deve-se cortar, de fato, "na carne" para colocar as economias gaúcha e a nacional nos trilhos? Questiona-se e acredita-se que as políticas de austeridade, propostas por Levy e por Feltes, são um remédio amargo. Mas há uma outra saída, uma vara de condão?

PUGGINA - Talvez os ideólogos da esquerda brasileira devam conversar com o Papai Noel. Talvez ele traga em seu trenó algum pacote que resolva, sem contenção de gastos, o déficit das nossas contas públicas. Tudo indica que o governo, ao derrubar o ministro Levy, fez uma opção pelo agravamento da crise. Isso foi imediatamente reconhecido pelo mercado.