• 22/09/2014
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UM ACHADO NOS ARQUIVOS, INFELIZMENTE AINDA MUITO ATUAL

 

    Reproduzo abaixo partes de um artigo, que escrevi em março de 2002 para o Correio do Povo. Recentemente transcorrera em Porto Alegre a segunda edição do Fórum Social Mundial. Olívio Dutra governava o Estado. Tarso Genro era prefeito de Porto Alegre. E, naquele ano, Lula conquistaria seu primeiro mandato presidencial. Porto Alegre transpirava ideologia pelas pedras do calçamento. Era um quadro dos infernos...

Então, eu escrevi: "Durante uma das reuniões do Fórum, falando para um auditório tomado por religiosos, militantes de CEBs, MST, etc., o petista dominicano Frei Betto afirmou que "o homem novo deve ser filho espiritual do casamento de Che Guevara e Santa Teresa de Jesus". O imenso desaforo deve ter suscitado protestos cósmicos: um frei católico escalando Santa Teresa, ao modo machista, sem consulta prévia, para um matrimônio desses? O público, no entanto, irrompeu em delirantes aplausos. E eu não tenho dúvidas de que esses aplausos foram muito mais orientados ao revolucionário do que à grande santa de Espanha".

"Mal se haviam apagado as luzes dos auditórios do Fórum, Lula foi bater à porta do Partido Liberal  (Nota do autor: o PL era o partido de seu futuro vice José Alencar). Tempo é dinheiro. E muito melhor fica uma aliança política que assegura diretamente as duas coisas: mais tempo na tevê e mais dinheiro para a campanha. A batida do martelo da coligação acertou, em cheio, no cotovelo de Frei Betto e seus companheiros na CNBB, que acusou a dor e botou a boca no trombone para condenar a aliança".

Até então poucos sabiam que a CNBB estava tão imiscuída nos assuntos desse partido. O Partido Liberal existia desde 1985. Desde então haviam sido realizadas oito eleições e o PL deve ter participado de inúmeras coligações sem que ninguém na CNBB houvesse lhe dedicado cinco minutos de atenção. Pois não mais que de repente, o vice-presidente e o secretário-geral da CNBB, secundados pelo secretário da Comissão de Justiça e Paz, vieram a público reprovar a aliança, indagar sobre os reflexos dela nas propostas do PT, e dizer que o PT deverá dar explicações aos católicos pertencentes ao partido. Será preciso dizer mais? O troco veio rápido. De alguém da CNBB? Não, do próprio PT. O senador José Eduardo Dutra retrucou que assim como o PT não interpreta a Bíblia a Igreja não tem que se meter imiscuir nos assuntos do partido. Em outras palavras: não se metam.

José Alencar acabou sendo o que de melhor havia no governo Lula...