• 14/08/2014
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O WIKIGATE

 

 Chega a ser inacreditável que a rede wifi do Palácio do Planalto não exija identificação do usuário. Se o da minha casa tem senha, como pode ser totalmente liberada a rede existente na sede do governo da República? Enfim, essa é a alegação que vem sendo usada para eximir o governo de responsabilidades em relação ao conteúdo depreciativo introduzido no perfil de dois jornalista na wikipédia, a partir de um computador que usa aquela rede.

Tudo seria coisa para um sherlock de mistérios indecifráveis, não fosse o fato tão compatível com a conduta dos militantes que atuam nos altos escalões do governo. É deles que nascem os dossiês. É ali que se planejam os assassinatos de reputações. É dali que, a toda hora, surgem iniciativas para controlar a imprensa. Lei dos audiovisuais, Conselho Nacional de Jornalismo, Marco Regulatório da Imprensa, são algumas das muitas medidas que vêm sendo ensaiadas nesse sentido. Pode não ter vindo dali, mas veio dessa banda, há coisa de uns dois anos, ataque semelhante contra o perfil a meu respeito existente na Wikipédia.

O fato é que o governo e os governistas têm dificuldade de lidar com o contraditório, mesmo sendo beneficiados pelo apoio de um formidável grupo de partidos políticos que reduziu a oposição a meia dúvida de recalcitrantes, desprovidos de recursos humanos e financeiros. Isso é tão verdadeiro que, como tenho afirmado repetidas vezes, as vozes oposicionistas mais audíveis são de intelectuais, jornalistas, escritores. Pois até isso parece intolerável ao governo e provoca reações como a que atingiu perfis da wikipédia. Ademais, o governo que alega em sua defesa um pouco reconhecível zelo pela liberdade de imprensa, é fraterno aliado de tiranetes que usam inúmeros meios para restringir essa liberdade em seus países, como por exemplo (e apenas como exemplo, porque a lista é grande), na Argentina, na Venezuela, em Cuba e no Irã.