• 24/07/2014
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EXAMES DE CONSCIÊNCIA

 

 Saíram de moda, eu sei. A pós-modernidade sepultou essa prática tão importante para a retificação das condutas. E não o fez por abandono ou esquecimento. Não. Foi por deliberação. A intelectualidade que domina a cultura ocidental decidiu que examinar a consciência faz mal e não bem. Prejudica e não ajuda. O importante não é fazer o melhor, mas sentir-se melhor. O resultado se vê em toda parte, difundindo-se com eficiência de fibra ótica. Um dos principais corolários disso, no plano individual, é atribuir-se aos demais, sempre, as responsabilidades e culpas de todos os males. Quem não examina a própria consciência, acaba por perdê-la. E com ela vão-se as culpas para outros ombros, sob paletós que não são nossos. Cômodo e conveniente.

 Noutro viés desse mesmo problema nasceu e se difundiu a Teoria da Dependência e sua obra mais conhecida, "Veias abertas da América Latina", da qual tenho tratado aqui em momentos recentes. Sua tese fundamental é a de que nós, os ibero-americanos, fomos desde sempre explorados, nossas riquezas drenadas, nosso desenvolvimento retardado e nossa autonomia asfixiada na periferia do capitalismo. Fôssemos habituados à prática do exame de consciência, provavelmente perceberíamos o quanto somos, nós mesmos, responsáveis por muitos dos males que nos afligem. Perceberíamos que fizemos escolhas erradas, que têm sido levianas nossas opções políticas e que ordenamos mal nossas prioridades (não foi esse o erro da Copa no Brasil?). Perceberíamos que tratamos com desinteresse e desleixo questões fundamentais e que agimos com sofreguidões de Macunaíma em momentos para os quais se requeriam homens e mulheres virtuosos, patriotas, com amor ao país e capacidade de renúncia. Mas está fora de cogitação ponderarmos nossas responsabilidades morais em quaisquer aspectos da nossa vida pessoal e da nossa condição de cidadãos. É muito mais fácil atribuir a culpa a Deus e ao diabo, aos ianques, à Coroa portuguesa, à latinidade, à exuberância do trópico, aos políticos que os outros elegem e reelegem. E por aí vai. Somos vítimas muito conscientes, isto sim, das malignidades alheias. Estamos sempre prontos para esmiuçar, escrupulosamente, a consciência ... dos outros.