Percival Puggina
Você lembra que nós, brasileiros, não tínhamos o hábito de expor apreço à bandeira? Pois é. Havia, inclusive, um grupo político que sapateava sobre ela, tirava fotos em que o verde e o amarelo apareciam ardendo em chamas. Lembra em que ocasião renasceu seu valor simbólico? Foi no longínquo e esquecido ano de 2013, quando foi empregada para, literalmente, separar o joio do trigo. Sua simples presença nas manifestações apartava os arruaceiros que protestavam contra os vinte centavos a mais nas passagens de ônibus urbano e se infiltravam no movimento com a habitual truculência... As bandeiras do Brasil produziram efeito análogo ao de mostrar crucifixo para vampiro.
Hoje é sábado, 7 de setembro, feriado nacional e Dia da Pátria. Nestes tempos em que nos movemos ao ritmo dos trambolhões, brasileiros nascidos e criados no chão em que pisamos, têm da “Pátria” uma ideia mal formada. Maus políticos e maus educadores fizeram desse conceito a chave do cofre dos sentimentos políticos. Para esses, o 22 de abril de 1500 foi a data de uma catástrofe histórica, o dia em que o colonialismo “comeu a maçã” e o paraíso se perdeu. Foi aí que começou o fogo no mato. Foi isso que trouxe para cá São José de Anchieta, aquele predador cultural...
Os jovens alienados e digitalizados devem pensar na Pátria como um lugar no Google Earth, um espaço grandão no entorno da cidade onde vivem. Os mal humorados a percebem como madrasta, uma terceira pessoa do singular, animada por más intenções. Os pessimistas a têm como endereço de sua desesperança, uma dívida eterna, uma encrenca em que foram metidos pelo destino. Os otimistas falam de um encontro com o futuro logo ali adiante, mais ou menos como quem tropeça em uma dádiva caída do céu.
Ao reverso destes e de tantos outros cujos sentimentos se poderiam acrescentar, eu sempre a vi suficientemente minúscula para ser um lugar no coração. Não tenho dúvida alguma: ela entra ali quando aprendemos ser ela a guardiã de nosso passado, no aconchego de ancestrais e tradições, de cultura e de fé. Porque lhe reservei esse lugar em mim mesmo, ela se apresenta como meu berço e meu túmulo.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Menelau Santos - 09/09/2024 11:57:07
Lindo texto, Professor. A Pátria, tenho certeza, agradece!Eloy Severo - 09/09/2024 10:36:12
Heróis do passado se sacrificaram em vão.....Juan Albornoz - 09/09/2024 10:21:57
Tem um escritor coreano que trata da força e do valor dos simbolos patrios, que nos identificam seja nos estadios ou nos campos de batalha. Deve ser por isso que os corpos dos soldados caídos voltam à patria cobertos pela sua bandera. O hino emociona sempre mas, muito mais quando ouvido no estrangeiro. Sem os simbolos a patria está nua, desprovida de seus valores, ignorada pelos seus filhos como mãe abandonada numa casa de repousso, alheia, sozinha com as suas lembranças. Parabens pelo artigo.MARIA DA GLÓRIA FRITSCH NUNES - 09/09/2024 09:34:56
A Pátria está intrínseca em nosso ser desde que nascemos,somos filhos dela ,mãe gentil mas tem pessoal que não à vê assim.Dorival - 09/09/2024 08:52:37
O nosso estoque de desculpas para "justificar" a nossa posição de pais subdesenvolvido esgotou-se. Temos que parar de justificar a nossa feiura pondo a culpa no espelho. A realidade que temos testemuhado neste período pós Bolsonaro não deixa dúvida: a culpa é nossa.