• Olavo de Carvalho
  • 28/11/2008
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A ELITE QUE VIROU MASSA - Di?o do Com?io

Em 1939, Eric Voegelin observava que as condi?s essenciais para a democracia, tal como haviam sido concebidas no s?lo XVIII, j??existiam mais. De um lado, a economia e a administra? p?ca tinham se tornado t?complexas que o cidad?comum j??preenchia as condi?s m?mas para formar uma opini?racional a respeito: sua raz?reflu? para o c?ulo estreito das atividades profissionais e familiares, deixando suas escolhas pol?cas ?erc?e apegos emocionais, desejos pueris, sonhos e fantasias que o tornavam presa f?l da propaganda totalit?a. De outro lado, as novas classes surgidas na sociedade moderna – o proletariado urbano, o baixo funcionalismo p?co, os empregados de escrit? – eram bem diferentes dos pequenos propriet?os que criaram a democracia iluminista: eram exemplares do “homem massa” de Ortega y Gasset, menos inclinados ?usca da independ?ia pessoal do que a confiar-se cegamente ??ca do planejamento estatal e da disciplina coletiva. Tudo, no mundo, convidava ao totalitarismo. Passados setenta anos, a composi? da sociedade tornou-se ainda mais vulner?l ?anipula? totalit?a. O advento de massas imensas de subempregados, dependentes em tudo da prote? estatal, somada ?estrui? da intelectualidade superior por meio da transforma? global das universidades em centros de propaganda revolucion?a, reduziu praticamente o eleitorado inteiro ?ondi? de massa de manobra. As conseq?ias disso para a democracia foram devastadoras: 1. A quase totalidade dos eleitores j?em tem id? do que possa ter sido a independ?ia pessoal, e aqueles que ainda sabem algo a respeito est?cada vez mais dispostos a abdicar dela em troca da prote? governamental, de benef?os previdenci?os, etc. 2. A defesa das liberdades p?cas e privadas tornou-se irrelevante. A m?ica do “planejamento” apossou-se de todas as conci?ias ao ponto de que o que resta de debate p?co ser hoje nada mais que o confronto entre diferentes – e em geral n?muito diferentes -- planos m?cos. 3. A possibilidade mesma de iniciativas sociais independentes foi praticamente eliminada, na medida em que a regulamenta? das ONGs as transformou em extens?da administra? estatal e em instrumentos de manipula? das massas pela elite iluminada e bilion?a. 4. A “liberdade de opini? tornou-se apenas a liberdade de aderir a distintos ou indistintos discursos de propaganda pr?oldados. O exame racional da situa? tornou-se virtualmente incompreens?l, sendo marginalizado ou absorvido, malgr?ui, em algum dos discursos de propaganda existentes. 5. A implanta? de pol?cas de controle totalit?o – da economia, da cultura, da religi? da moral, da vida privada – mostrou-se plenamente compat?l com a subsist?ia do processo eleitoral formal, hoje tido como suficiente para conferir a uma na? o t?lo de “democracia”. Com esse nome ou o de “democracia de massas”, a ditadura por meios democr?cos tornou-se praticamente o regime universal. 6. Restringir o uso da racionalidade ?atividades profissionais imediatas, abandonando as escolhas pol?cas ?erc?e sonhos e desejos irracionais, deixou de ser um h?to limitado ?classes populares. As pr?as “elites”, hoje em dia – empres?os, militares, jornalistas e formadores de opini?em geral – s?t?dependentes de propaganda, slogans e imagens ilus?s, t?incapazes de um exame realista do estado de coisas, quanto os empregadinhos de escrit? de que falava Eric Voegelin. Se um analista pol?co lhes d?atos, raz? diagn?cos fundamentados e previs?acertadas, a “elite” se sente mal. Ela n?se ofende quando voc?he sonega a verdade, como ocorreu no caso do Foro de S?Paulo ou da biografia de Barack Hussein Obama, mas quando voc?he conta alguma verdade que divirja das pseudocertezas estereotipadas da m?a popular, hoje investida de autoridade pontif?a. A elite, em suma, tornou-se massa – e, como massa, n?quer conhecimento, vis? maturidade: quer aquele reconforto, aquele amparo psicol?o, aquelas ilus?anest?cas que os manipuladores totalit?os jamais deixar?de lhe fornecer. O exerc?o da raz? hoje, ?m privil?o dividido entre os grandes planejadores estrat?cos e engenheiros comportamentais, que por motivos ?os n?pensariam em partilh?o com ningu?mais, e os estudiosos independentes que tentam em v?partilh?o com quem n?o deseja.