Artigos do Puggina
Percival Puggina
10/07/2025
Percival Puggina
"Pode ser a gota d'água."
Chico Buarque
Pôr a culpa nos outros é e sempre foi a grande perícia do grupo político que hoje governa o Brasil. A nação inteira vê o que está em curso desde a vitória alcançada pela direita em 2018. Veem os que vaiam e veem os que aplaudem, ou seja, ver, todos veem. É inútil, portanto, fazer de conta que está tudo normal porque ninguém vaia ou aplaude a normalidade, como tentam os veículos do Consórcio Goebbels, cuja tarefa consiste em colar narrativas e versões com cuspe e saliva.
Quando o Brasil fez o L (ou o L foi feito), o poder político foi assumido por um grupo que reúne o velho antiamericanismo da UNE, o revolucionarismo latino-americano que teve espelho e alma em Havana e um ativismo extremista que faz estragos ortodoxos e heterodoxos na educação, na cultura, na economia e na política brasileira desde os anos 60.
No 6º Congresso do PT em 2017, Lula advertiu: “Portanto, gente, eu não fiquei mais radical, apenas fiquei mais maduro, mais maduro”, numa alusão à sua admiração pela ditadura venezuelana. Esse, aliás, foi um dos muitos temas a que a arbitragem da eleição de 2022 proibiu qualquer menção, impedindo a necessária antevisão do que aconteceu ontem, 9 de julho de 2025.
Há dois anos e meio, Lula recebeu o diploma presidencial numa solenidade em que a plateia, de modo inusitado, serviu ao presidente do TSE aplausos tão longos e mais entusiasmados do que ao presidente diplomado. Seguiu este, desde então, o caminho de todos os revolucionários e ditadores esquerdistas que sempre reverenciou. Cheio desse tipo de “amor” para dar e levando o Brasil de arrasto, deu pitacos na eleição norte-americana e proferiu desaforos a Donald Trump. Aproximou-se dos adversários do Ocidente, do Irã (a cujas pretensões nucleares dá apoio) e dos terroristas que o Irã subsidia. Busca transformar o BRICS – e a reunião desta semana foi a gota d’água – num polo esquerdista para fazer frente aos Estados Unidos e à União Europeia.
“Tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia deixa lá sua asa” diz o conhecido provérbio. É o que está acontecendo. Tantas fez o presidente brasileiro, tantas fizeram e seguem fazendo seus apoiadores dentro dessa “casa Brasil” onde todos estamos, que um dia a casa caiu. Ontem foi esse dia. A casa caiu sobre a cabeça de todos nós.
O que faz o petismo desde ontem? Repensa sua conduta? Certifica-se de que Lula está em seu perfeito juízo? Dá uma calibrada no desastroso senso de justiça da esquerda brasileira? Pondera a correção moral de seus atos? Avalia a causa das perdas de apoio que teve? Percebe que se estreitam as paredes do cárcere onde foi enfiada a liberdade de opinião, oxigênio da democracia? Tem um olhar para os pisoteados pelo cavalo de Átila? Escrutinou a natureza de seus parceiros?
Não! Passa a fazer o que mais caprichosamente fazem todos os irresponsáveis: põe a culpa nos outros! Os supostos culpados, então, são buscados no elenco das vítimas, ou seja, o coitado do Bolsonaro, a discriminada direita e os Estados Unidos, frontalmente ameaçados pela ira esquerdista brasileira.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
06/07/2025
Percival Puggina
Quando os cotovelos falam, acabam fazendo inacreditáveis revelações. Estamos vivendo um surto desses, produzido por quem é pago pelo povo para ter muito juízo e discernimento.
Não estou me referindo a Lula quando afirma ter aprendido de sua mãe que não se deve gastar mais do que se tem..., mas garante à turma do BRICS que austeridade nunca deu certo. Juízo e discernimento não são atributos de quem abre rombo sobre rombo no orçamento público perante a nação que se debilita econômica, cultural, moral, espiritual e fisicamente. De seus sermões peripatéticos, sentindo-se como Aristóteles de Garanhuns, não se esperem virtudes. O grego caminhava e falava buscando a verdade; o pernambucano vai de um lado para outro nos palcos encomendados buscando as melhores mistificações. Tampouco me refiro a qualquer dos que, como ele, no espaço público, sobrevivem da miséria humana que cultivam.
Nos postos eletivos, soberana é a vontade do eleitor que escolhe dentro de uma escala, debilitada como a nação, que vai do bandido ao virtuoso, do negocista ao estadista. Então, tampouco destes falo. Forçado pelo momento histórico, ocupo-me dos que para compor a trinca dos poderes de Estado, por exigência constitucional, devem ter reputação ilibada e notável saber jurídico.
Ocupo-me, pois, dos doutos e ilibados que, rompendo toda tradição, montam estratégias, desenham cenários, atraem holofotes, protagonizam o jogo político, criam narrativas, antecipam decisões, formulam ameaças, são o absoluto de tudo que relativizam aos demais e... falam pelos cotovelos.
Como seria de esperar, fazem afirmações terríveis, chocantes, a quem tem juízo e discernimento. Elas refletem o efeito devastador da ideologia em torno da qual se congregam, caracterizada pelo uso abusivo do poder e pela necessidade imediata de silenciar a divergência. Tudo parece ter iniciado com ideias faceiras de fazer do Supremo o “poder moderador da República” ou visto como “editor de um país inteiro, de uma nação inteira, de um povo inteiro”.
Num dia triste, o cidadão que pergunta atenciosamente sobre assunto de relevante interesse público tem como resposta o infame “Perdeu Mané. Não amola!”. Noutro, um auditório lotado ouve a proclamação: “Nós derrotamos o Bolsonarismo”. Antes disso, antes mesmo do 8 de janeiro, escuta-se o exultante anúncio de que “há muita gente para prender e multa para aplicar”. Sem se saber como enquadrar a revelação no espírito da Carta de 1988, somos informados de que, em termos de controle das redes sociais, todos os membros da Corte são “admiradores do regime chinês” (!) e, na voz de outro ministro, ouvimos que existem três regimes (na verdade, sistemas de governo): presidencialismo, semi-presidencialismo e o brasileiro).
Como resenha de todos os enganos e da recusa ao que a Constituição consagra em modo pétreo, alguém proclama a necessidade de “impedir que 213 milhões de pequenos tiranos soberanos dominem os espaços digitais do Brasil”. A frase só não pode ser caracterizada como uma aberração porque não está isolada nem contrasta com o que muitas outras evidências revelam.
Por omissão de seu controlador – o Senado da República – a maioria do STF tem meios para fazer o que bem entende.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
28/06/2025
Percival Puggina
Facilmente se pode entender que alguém, técnico, jornalista, político ou pessoa do mundo do Direito, em qualquer país, regime ou idioma, expresse uma opinião ou tome uma atitude equivocada. O erro é inerente à natureza humana. Quem sabe mais erra menos; quem sabe menos erra mais. Aprende-se dos erros de quem erra querendo acertar. Estas observações, intuitivas a quem seja medianamente esclarecido, encontram barreira irremovível em todo Robespierre temporão que se considere editor-chefe das verdades nacionais e passe a tratar a divergência como inimiga pessoal, incidindo sobre ela a mão pesada do Estado.
Se errar é humano, como ensina a sabedoria popular com arraigada experiência individual e coletiva, não errar é divino. Certo? Em vista disso, a história dos povos tem o mau hábito de gerar, aqui e ali – não em gruta, como a de Belém, mas em palácios de areia – falsos deuses que reivindicam à plebe peregrina homenagens com incenso, ouro e mirra.
Enquanto, por um lado, podemos aceitar os erros próprios e alheios provenientes de sincero empenho em acertar, por outro, não são moralmente toleráveis os que, quando praticados, deixam rastros de vergonha e deformidade, dores e lágrimas. Produzem surtos de aflição e epidemias de desalento.
A história não guarda bom registro desses tiranos. Todos comungaram na mesa do uso abusivo, excessivo, individualista e sádico do próprio poder. Não há para eles qualquer “memorial da pátria reconhecida”. Nenhum panteão guarda o pó em que se consumiu sua vaidade.
Observei atentamente certos tiranos da contemporaneidade. Alguns já passaram. Outros estão por aí. Aprendi sobre eles. A vaidade que sentem está na razão direta da pequenez de seus corações e da feiura de seus pensamentos. A coragem que cuidam de ostentar é filha da fraqueza interior. O medo que causam nasce do medo que sentem. O ódio que os alimenta é proporcional ao amor que não inspiram. Sabem o quanto são falsos os elogios dos cortesãos. São louvações que não consolam, mas aviltam; que não alegram, mas deprimem.
Também seus povos são povos tristes. Não é assim no reino do verdadeiro Deus, cujo jugo é suave e cujo fardo é leve.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Outros Autores
Vídeo que deu nome a este canal. Gravado há exatos cinco anos, eu não trocaria, hoje, uma única palavra. Aliás, nunca foi tão atual! Se concordar, compartilhe.
Eis o que aprendi sobre o medo e o terrorismo de Estado, há um quarto de século, estudando e observando, olho no olho, a realidade do amedrontado povo cubano.
Magistratura e protagonismo político não são atividades antagônicas, desde que exercidas por pessoas diferentes ou por poderes distintos.
É por que não preparam militantes que a esquerda acusa de ser militares as escolas cívico-militares.
O que revelam duas escolhas que o novo Papa fez?
Sete minutos para conhecer a essência do vocabulário esquerdista e os dois grupos que o utilizam.