Artigos do Puggina
Percival Puggina
15/10/2024Percival Puggina
Temos razões mais do que suficientes para entender o contrário quando os porta-vozes do lulopetismo dizem que seus péssimos resultados nas eleições municipais nada têm a ver com o pleito nacional de 2026. O grupo político que governa o país de modo cada vez menos compreensível nunca diz o que pensa. Sempre que se manifesta, conta uma narrativa montada em laboratório. Quando seus líderes afirmam: “Esses números de agora nada representam para 2026”, estão, na verdade, contando contos para burros tontos.
Mesmo com a força das redes sociais drasticamente reduzida pelas canetas do poder e pelo esquerdismo voluntário das plataformas, a maior força política brasileira não é a direita, mas o antipetismo onde esta se inclui. É ele, o antipetismo, que agrega a direita e boa parte do centro do arco ideológico. O centro a que me refiro não é o Centrão, esse grupo de siglas ocas e balofas que envergonham a simples ideia sobre o que seja partido político. Verdadeiras colchas de retalhos, parecem caleidoscópios sensíveis aos interesses de cada dia. São uma conversa contínua e nada meritória entre meios e fins. Corrijo-me: sobre meios sem fim. Quem vive de emendas não se emenda, nem se recomenda.
Quando falo do centro do arco ideológico, penso principalmente nos cidadãos que sabem o que não querem (a esquerda, seus métodos e objetivos), mas não receberam informação suficiente e fundamentada sobre os meios para livrar o Brasil de seus males atuais. Por isso, dediquei um quarto de século de minha atividade partidária aqui no Rio Grande do Sul à formação de lideranças jovens que hoje exercem papel relevante na vida municipal, estadual e nacional. Partido que não faça isso é cartório, clube, lojinha. Tudo, menos partido político. Fora da vida partidária desde 2013, continuo a cuidar disso sempre que sento para escrever.
O antipetismo está em posição amplamente favorável para 2026 porque os dois primeiros anos do lulismo foram abundantes para reforçar sua rejeição pelos eleitores que, como admitiu Lula penitente – “ganham mais de dois salários mínimos e não querem mais votar na gente”. Até hoje, foi amplo o mostruário dos defeitos.
De um lado: incapacidade administrativa, uso sistemático dos recursos dos cidadãos para comprar apoio parlamentar, arcabouço fiscal perdulário para gastar dinheiro que não existe, perda de poder aquisitivo dos salários, aparelhamento da administração pública.
De outro, a máquina petista apoia e celebra a complacência do Congresso perante os já longos anos de sujeição da sociedade à crescente juristocracia e à perda de direitos fundamentais, censura, prisões políticas e exílio.
De outro ainda, foram anos de nanismo à dimensão internacional do Brasil, com persistentes apoios ao terrorismo, ditaduras, antissemitismo e à escória da política mundial.
Chavões e xingamentos, incongruências e narrativas, políticas de cancelamento da divergência e autolouvações já não resolvem o problema da esquerda.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
13/10/2024
Percival Puggina
Com a realização neste fim de semana, em Roma, do Fórum Esfera Internacional, a pergunta acima frequentou os meios de comunicação e as redes sociais. Uma fatia robusta do bolo do poder nacional viajou a Roma para se encontrar com contrapartes italianos do setor público e privado. Não seria menos oneroso ao Brasil realizar alguns desses eventos internacionais aqui?
A ideia de reter os alegres viajantes brasileiros no Brasil e trazer os italianos para cá ativou-me a lembrança de uma crônica do admirável autor português, Eça de Queiroz (*). Por isso e graças a ele, escrevo estas linhas entre boas gargalhadas e reflexões sérias sobre nosso país. Eça publicou a coluna em questão em outubro de 1871 e aborda o interesse da “companhia dos caminhos de ferro” em trazer turistas espanhóis por ferrovia para Lisboa. Apesar de reconhecer as intenções “amáveis e civilizadoras” da referida companhia, ele rejeita enfaticamente a iniciativa, alegando – vejam bem! – não estarem os portugueses “em estado de receber visitas”. A torrente de ironias que dispara torna impossível conter o riso.
Impossível, também, malgrado meu pouco talento, não traçar analogias e alinhar motivos para recusar a sugestão de trazer lideranças estrangeiras a se recrear em nossas misérias jurídicas, sociais, políticas e econômicas. Que teríamos a ganhar mostrando-lhes a realidade nacional, os inquéritos finis mundi, a pequena liberdade que nos resta, o dilapidado arcabouço fiscal, nossos presos políticos, o pouco proveito do voto popular como fonte da representação e servir-lhes o sabor azedo das esperanças murchas transformadas em bagaço seco e inútil? Ouçam, pois, os ufanistas do poder nacional e não nos humilhem pondo os olhos na verdade e na realidade.
Na antiga União Soviética, ao tempo da “Cortina de Ferro”, os eventuais visitantes eram sempre acompanhados de seguranças. Eles não funcionavam para garantir o bem estar dos estrangeiros, mas para impedir seu contato com os infelizes cidadãos locais. Era preciso manter a lenda do comunismo bem sucedido. Era para o bem estar da imagem. Conversar com o porteiro do hotel valia por uma conspiração contra o regime.
Que segurança jurídica temos para mostrar na vida real, com o mau odor dos fatos, aos juristas italianos? Que democracia exibiremos onde não mais que um punhado de bravos preserva os ouvidos e as vozes da representação política? Que afirmação sobre estabilidade fiscal se manteria de pé ante os visitantes se os números da dívida pública crescente pudessem ser expostos a um contraditório? Que segurança pessoal e pública pode proporcionar um país onde se alastra o mau hábito de matar turistas para roubá-los?
“O país está atrasado, embrutecido, remendado, sujo, insípido e não pode, em sua honra, consentir que espanhóis o venham ver”. “O país precisa fechar-se por dentro e correr as cortinas”, impiedoso, prossegue o juízo de Eça de Queiroz, enquanto se forma sofrido nó na garganta de seu leitor brasileiro, século e meio depois.
(*) Publicado no primeiro volume de “Uma campanha alegre”, sob o número XL, Ed. Brasiliense, 1961.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
07/10/2024
Percival Puggina
Poderia falar numa “vitória da direita” na eleição de ontem. De fato, se compararmos o desempenho pífio do PT com o do PL, dois polos do confronto ideológico nacional, os resultados do PL foram muito superiores e se destacam, mesmo num contexto em que quase 30 partidos disputaram os votos municipais do país. No entanto, quem deve estar comemorando vitória com a voz das urnas são os partidos do Centrão.
É bom lembrar. Nas duas décadas subsequentes à Constituinte de 1988 o PMDB foi governo ininterruptamente, mas adotou um modo peculiar de ser – integrava o governo, saboreava os cargos e descartava os encargos quando incômodos. Abastecia-se nas emendas e atendia sua clientela.
A receita deu tão certo que novos partidos foram se juntando ao bloco que passou a responder pela maioria no plenário do Congresso Nacional. Partidos que compuseram durante bom tempo a base conservadora e liberal do país, como o extinto DEM (hoje União Brasil) e o PP (Progressistas), entraram de “mala e cuia”, no dizer gaúcho, para o clube das boas oportunidades e mandaram a ideologia às favas. Novos partidos surgiram e fizeram o mesmo. O PSD é um exemplo típico. Sem constrangimento algum, seu presidente, Gilberto Kassab, ao criá-lo, prometeu: “Não será de direita, nem de esquerda, nem de centro”.
Descaracterizados, os partidos chutaram seus programas e não promovem o menor esforço, seja em divulgá-los, seja em torná-los efetivos no exercício do poder de cujas sobras se nutrem. Sua atuação, dentro do Congresso, permite que vicejem e se tornem decisivos líderes como os atuais presidentes das duas Casas legislativas. Os fins explicam os meios.
Contados os votos de ontem, mediu-se o sucesso dessa mediocridade. A lista dos quatro partidos que elegeram maior número de prefeitos não inclui o partido do governo (PT), que é o 9º da lista, nem o que lidera a oposição, que é o 5º da lista. Os que beberam mais espumante, ontem à noite, foram PSD, MDB, PP e União Brasil. Também foram esses quatro partidos que elegeram maior número de vereadores, com inversão de ordem entre MDB e PSD. O PL é o quinto e o PT ficou em 11º lugar.
O sinal está vermelho piscante para o PT. Especialmente em virtude do que se tem, numa primeira análise ao menos, como maus resultados para a sigla de Lula nas regiões Norte e Nordeste do país. Gostaria de ter visto um sinal verde mais luminoso, realmente comprometido com liberais e conservadores no rumo do pleito de 2026.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Outros Autores
Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
11/10/2024
Antes falem bem de si mesmos lá fora do que expor nossa realidade a visitantes atentos.
Quatro partidos do Centrão foram os que mais prefeitos elegeram dia 6 de outubro.
Importamos para o Brasil problemas que não tínhamos.
Suprimir de documentos oficiais as palavras mãe e pai é parte de um projeto para minimizar a importância da instituição familiar.
Ao caminhar damos um passo de cada vez. O passo de agora é este.
Chegamos a um ponto em que até o amor à Pátria se pretende eliminar.